Saímos de Mar del Plata em autocarro noturno em direção a Puerto Madryn, pela transportadora Patagonica. A viagem é cara, mas é a única que não nos obrigava a voltar a Buenos Aires. Aconteceu-nos uma coisa inédita até aí, o carregador das malas do terminal pediu “tip” (é engraçado as coisas que eles aprendem a dizer aos turistas). Já vos contámos como somos diferentes neste campo e em como o Tiago defende que viajantes não têm que dar gorjetas por isso não demos. E sinceramente, até à Raquel isto faz confusão, funcionários pagos a pedir pagamento extra. Ainda fomos a brincar na viagem que se calhar por vingança as nossas malas não entraram na bagageira, mas sim, chegaram connosco. Já em Puerto Natales vimos num guia que é normal pedirem dinheiro e é normal darem, mesmo entre argentinos.
Viajar de noite traz vantagens, o preço da viagem dilui-se no que gastaríamos também em alojamento, mas a desvantagem é óbvia, não é uma noite de sono “normal”. E ainda se perde a paisagem. Esta viagem foi longa, 21 horas, e deu para perceber que o tempo começa a arrefecer à medida que vamos mais para sul. Sabemos que vai piorar até Ushuaia. Vimos as copas das árvores a serem arrastadas pelo vento e a areia a levantar-se junto à janela do autocarro, dando jus à fama da Patagónia de região ventosa.
Já de manhã, começámos a ver as dunas a aparecer e o mar em tons de verde azulado, o postal que tínhamos expectativa. Em Mar del Plata e Punta del Este apanhámos um mar acastanhado, claro que não tão acastanhado como o rio em Rosário, Montevideo, Buenos Aires ou Colónia. Sabemos que quando voltarmos a subir, pela costa chilena, que o mar terá também uma cor espetacular.
Puerto Madryn é um destino de férias para os argentinos, tem fauna e flora especiais, atividades desportivas, grutas próximas e um clima ameno. Para os turistas é um destino de eleição para ver baleias, golfinhos, orcas, lamas, pinguins e leões marinhos. Ver tudo numa só estadia é difícil, os animais têm épocas definidas nesta zona e claro que não coincidem entre todas as espécies. Não estamos em época de baleias, quase que estaríamos para as orcas, mas estamos para os leões, lobos, elefantes marinhos e alguns pinguins atrasados.
Onde dormir?
Hostel La Tosca, não é longe do centro, é limpo e o pequeno almoço é caseiro e variado. Tem descontos em alguns restaurantes e excursões.
O que fazer?
Sendo uma cidade argentina, turística e costeira, não é barata, qualquer programa além de passear à beira-mar será pago e bem caro.
Podem-se alugar bicicletas e o limite depende apenas da energia de cada um. Os percursos mais comuns são percorrer a linha do mar para sul, indo até ao marco com vista panorâmica para a baía de Puerto Madryn (o monumento ao Indio Tehulche), Ecocentro (dica, se não quiserem pagar a entrada passem só para ver o esqueleto duma baleia que foi encontrada na praia e que está antes de entrar), e seguir em direção à Loberia. 5km antes da praia dos lobos marinhos (Punta Loma) têm um barco submerso onde se pratica mergulho e o fim do asfalto (Playa Parana).
O ideal é alugar carro. Não vale a pena alugar só a dois, toda a gente vai para o mesmo, e nos hostels é fácil encontrar com quem partilhar a despesa. Nós reencontrámos na cidade os nossos amigos de Buenos Aires e alugámos todos juntos durante um dia, que só permitiu ir à Península Valdés.
Os dois destinos habituais de carro são:
1) Norte – Península Valdés
2) Sul – Foz do rio Chubut, Punta Lobos e Punta Tombo
A Península Valdés é um parque reserva natural. Tem mais de 200km de estrada, em terra batida, que têm que ser percorridos devagar para conseguir observar os animais. Para poder usufruir do espaço, exige que a viagem comece cedo e acabe já ao final do dia. A entrada custa 330 pesos por pessoa, com direito a mapa, e o carro também tem um pequeno custo. As excursões em autocarro com guia custam 1200 pesos por pessoa.
Nós íamos na esperança de ver uma orca em Punta Norte, que é onde elas gostam de ir almoçar. As orcas vão atrás dos leões marinhos jovens que estão a aprender a nadar e são presas fáceis. Se pensarmos bem, nós queremos assistir a uma caçada, porque se a orca não tiver fome não vem à costa. Dá fotos espetaculares, apesar de dar aquela pontada de pena da cria que pode não se safar. No nosso hostel disseram-nos que é dos poucos sítios onde as orcas têm este comportamento peculiar de entrar na praia para apanhar as crias. No dia anterior os turistas esperaram 4 horas no passadiço e viram uma orca passar. Tão pouca ação para tanto tempo! O guarda explicou que foi a primeira vez em 30 dias, e que era um macho que vinha só reconhecer o espaço. Que provavelmente só voltarão para comer três ou quatro dias depois. A praia de Punta Norte é aberta, uma zona onde os leões e elefantes marinhos gostam de acampar para a fase de acasalamento. O leão marinho é um bicho que gosta de ter um grande harém, o único macho (grande com juba) rodeado de várias fêmeas, mas pode partilhar a praia (desde que haja aquela distância higiénica) com outro grupo de leões. Os pássaros gostam imenso de vir até esta praia antes de março, durante a altura dos partos, para ver se encontram sobras de placenta, uma iguaria para estes. Nojento? Não, é apenas a natureza a funcionar. Nesta altura do ano (março/abril) as crias já estão a ficar independentes e começam a ser enviadas para a água pelas mães, porque em breve é época de mudar de pouso.
Aconselhamos a levar almoço, ir de manhã esperar pela orca, almoçar, e depois voltar quando a maré baixar para ver as crias na água, a divertirem-se. Como vêem nas fotos, não há orca que tenha espaço para passar. Avisamos já que a probabilidade de ver uma orca é reduzida, o guarda disse que é preciso ir vários dias seguidos e ter paciência. Nós dizemos, além de paciência, também precisa de dinheiro.
Existem regras básicas que devem ser cumpridas, como, por exemplo, não comer nos passadiços. Sabemos que é tentador sentarmo-nos nos banquinhos e almoçar enquanto olham para os animais, mas é proibido. Há um café, casas de banho e um parque de estacionamento. Não há uma zona de piqueniques mas o café tem uns bancos do lado de fora que servem o propósito. Vão almoçar na companhia de pássaros e outros animais, mas, como em todos os parques selvagens, não se alimenta o bicho, nem se tenta pegar nele. Os animais são selvagens, estão no seu espaço, e vocês é que são os forasteiros. Vê-se muita gente que se “esquece” e vai deixando cair “sem querer” pão, ovo, salsichas, fruta. É claro que os animais não se fazem de rogados, papam tudo e regressam à procura de mais, mas são animais que geralmente comem insetos, sementes, entre outras coisas, que têm de procurar. Quando nós interferimos alteramos o comportamento do animal. Cape Town é o exemplo claro disso, os babuínos, apesar das regras, foram e são alimentados pelos visitantes, e hoje em dia são muito mais agressivos, roubando e atacando os turistas.
Quando se sai do parque, que não deve ser antes das 17/18h, aconselhamos ir até à Isla de los Pájaros, que fica logo junto à saída do parque, à direita. Aqui observam-se vários pássaros, com destaque para os flamingos.
A península tem, já dentro do parque, uma vila de pescadores, Puerto Pirâmides, que é uma zona de alojamentos, restaurantes, atividades e um posto de combustível.
Para sul, de carro alugado, podem ir à foz do rio Chubut, à cidade de Rawson. Nessa zona há duas praias, Punta Delfín e Playa Unión. Nesta última podem-se fazer excursões de barco para visualizar os toninas, uma espécie de golfinho da patagónia, preto e branco. Garantem que 94% das vezes observam-se as toninas e custa 850 pesos. Em Punta Tombo existe uma grande colónia de pinguins. A entrada custa 250 pesos e em excursão fica por 1200 pesos.
Voltando à cidade de Puerto Madryn, há várias atividades e excursões na região, e todas caras, aliás, exorbitantes. O cúmulo para nós é o “buseo con los liones”, ou seja, snorkeling com os leões marinhos – 30 a 40 minutos dentro de água custam aproximadamente 120€. A tour sai na maré cheia, um barco, 8 passageiros, devidamente equipados com fatos térmicos, atraca-se junto à praia dos lobos e vai tudo para a água. Se já viram leões marinhos em estado selvagem em alguma praia, sabem que é um animal brincalhão e muito curioso. Brinca com os da mesma espécie, com golfinhos e até com humanos. Os vídeos são fantásticos, eles são filmados de nariz encostado à câmera, pendurados em cima de humanos, ou a fazer outras brincadeiras. Faz-se na praia de Punta Loma, uma zona natural protegida de predadores que tem lobos marinhos o ano todo. Não fizemos, temos a esperança de o fazer a um custo reduzido ou mesmo grátis nas Galápagos.
Podem-se alugar kayaks, bicicletas, fatos de mergulho, etc. Em tudo o que alugarem, recomendamos que verifiquem previamente o estado do equipamento e as penalizações se algo acontecer.
Nós tivemos problemas com o aluguer do carro. Alugámos entre os cinco num rent a car mal referenciado e sem seguro de franquia protegida. Já depois do almoço, enquanto seguíamos para sul da Península Valdés, começámos a sentir um forte cheiro a combustível. Percebemos nessa altura que o carro vertia combustível. Ficámos aflitos, espantados com a nossa capacidade de “estragar” um carro com uma condução que não ultrapassou os 50, talvez 60 km/h. Lembrámo-nos dos conselhos da funcionária em não ultrapassar os 40 km/h, para não ter problemas, e decidimos ir à estação de serviço de Puerto Pirâmides. Era domingo, e apesar da oficina estar fechada até terça feira, o funcionário foi prestável e verificou que o carro tem umas anilhas para remediar uma situação que seria facilmente solucionável de forma definitiva. Percebemos que a avaria não foi causada por nós, logicamente, e que a agência sabe do problema e anda a empurrá-lo, talvez até conseguir imputar as culpas num cliente, coisa de que são acusados nas críticas do Google. Entregámos o carro, em melhor estado do que o recebemos, e depois tivemos aquele problema de não se cancelar o debito do cartão de crédito imediatamente à nossa frente, com a lógica do vou fazê-lo, não se preocupe. Não que se deva desconfiar de toda a gente, mas nos negócios a confiança por vezes sai cara.
Vale a pena?
Vale, mas não em excursões. Vimos golfinhos duas vezes na Argentina e Chile, sempre sem ser em excursão. Vale a pena ir em grupo, alugar um carro num sítio confiável, e percorrer as zonas de interesse de cada um.
365 dias no mundo estiveram 2 dias em Puerto Madryn, de 10 a 12 de Março de 2017
Classificação: ♥ ♥ ♥
Preços: caro
Categorias: natureza, mar, vida selvagem, passeios
Essencial: Península Valdés, Punta Tombo, passear a pé ou de bicicleta por Puerto Madryn
Estadia Recomendada: 2 dias
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