TOUR MAPUCHE: CONHECENDO AS ORIGENS DE PUCÓN (CHILE)

O Tour Mapuche, em Pucón, leva-nos até uma ruka tradicional para conhecer a história, cultura, tradições e gastronomia da comunidade.

Os mapuches (gente da terra) são um povo do centro do Chile e sudoeste da Argentina. Preservam a sua cultura apesar de terem sido oprimidos pelos espanhóis, que lutaram 300 anos para lhes conquistar as terras. Eram tratados como araucanos (pode significar selvagem) pelos espanhóis, designação que os ofende, por considerarem pejorativa. Espanha reconheceu a sua autonomia em 1641, mas com a independência ficaram confinados a pequenos pedaços de terra. Todavia, hoje lutam para recuperar as suas terras, pois têm muito valor para eles. Alguns mapuches adaptaram-se e aprenderam a viver junto a zonas urbanas e é assim que nasce a tour mapuche. Assim, apesar de viveram segundo a sua cultura e tradições, adaptaram-se a viver junto às cidades e usufruir do seu conforto.

A tour mapuche começou ao meio dia, com a saída da agência em carrinha própria. Chegando à ruka da Dona Rosário, ela apresenta-se na língua dos mapuches, mapudungun, e leva-nos até à casa típica. De seguida explica-nos como vivia a família tradicional, como aqueciam a casa e onde cozinhavam. Depois, conta-nos a sua história, e que história!

Dona Rosario

A Dona Rosário, hoje avó, teve que fugir da comunidade quando percebeu que o primo a tinha trocado por um cavalo e que o pai o iria permitir. Morou na vila de Pucón alguns anos, sendo discriminada pelas suas origens indígenas. Após a erupção de 75, do vulcão Villarica, começa a visitar a comunidade, preocupada com a família, e é nestas visitas, a atravessar o rio de barco, que conhece um barqueiro. Apesar de ter más recordações da comunidade, acaba por casar com o barqueiro (também mapuche).

A sua experiência de vida fê-la perceber que, apesar de mapuche, na sua casa não se iriam seguir todas as regras históricas, como o sistema patriarcal que sempre obrigou a sua mãe a estar calada, sem emitir opinião. Rosário conta que na sua casa todos têm voz ao atingir a idade adulta. Na sua família, primeiro tomavam decisões a dois, ela e o marido, depois os filhos foram entrando no círculo, hoje todos são ouvidos e todos têm o direito de dizer o que pensam. Diz-nos que conseguiu evitar que os seus filhos fossem para longe, dando-lhes um pedaço de terra junto a si, para os obrigar a construir ali.

Tour Mapuche

Utensílios e roupas típicos

Rosario dá uma pequena palestra, mostrando e explicando os utensílios, objetos e instrumentos musicais, falando das cerimónias e crenças. Os mapuches têm muitas tradições e festas que mantêm. Utilizam os instrumentos musicais que nos explicaram como utilizar.

tour mapuche

Inesperadamente, faz parte da excursão vestir-nos com as roupas típicas. Com a ajuda de Rosário, enquanto nos diz o nome das diferentes peças e acessórios, o cinto, o metal que prende o cinto, o alfinete que segura a capa, etc ficamos totalmente equipados. Antes de tudo, temos de referir que todas as roupas são feitas na comunidade, os mapuches têm muita tradição de tecer com lã de ovelhas criadas por eles. É engraçado de vestir, mas não nos parecem muito confortáveis ou quentes, preferimos os nossos casacos de penas.

Casas

Na ruka as casas são feitas com uma estrutura em madeira e um telhado com plantas próprias, que devem ser trocadas regularmente para se manter a impermeabilidade. Para os turistas mais aventureiros é possível dormir na ruka, nas suas camas tradicionais (ou em colchões modernos se preferirem), com a fogueira a aquecer a casa, no interior, servindo também para cozinhar. No entanto, é fácil reparar que o telhado leva agora uma manga plástica que reduz a frequência com que é necessário mudá-lo.

tour mapuche

Jogos

Antes da degustação, e apesar da chuva, Rosário e o marido ainda nos mostraram o seu jogo tradicional. Explicam-nos brevemente como é, em seguida dividem-nos por equipas e começamos a jogar. Joga-se com uns bastões semelhantes a hóquei e o objetivo é colocar a bola dentro de uma espécie de balizas para marcar pontos. O pastor alemão que têm gosta mais de jogar que nós e invade várias vezes o campo para roubar a bola.

tour mapuche

Gastronomia e prova de degustação

Logo depois do jogo, Rosário fala da sua alimentação e diz que tudo o que comem provém da terra, sagrada para eles. Em princípio, são os seus ingredientes biológicos e orgânicos que os fazem adoecer menos do que às pessoas da cidade, diz-nos ela. Em seguida, passamos à degustação de comidas típicas. Na degustação dão-nos sopaipillas, tortillas assadas nas cinzas, pão de trigo cozido, molho pebre, compota de framboesa, uma bebida típica fresca e muito mate. Já vos dissemos que não costumamos beber mate pelo hábito de partilhar a bomba, mas aqui não havia como recusar. Rosario tem o cuidado de limpar a bomba entre utilizadores. Estava tudo fantástico e a comida é saborosa. Rosario ensina-nos a prestar homenagem a pachamama, a mãe-terra. Primeiro despeja-se um pouco da bebida na terra para servir Pachamama. Respeitamos a tradição de primeiro servir a mãe-terra.

tour mapuche

Do mesmo modo que Rosário conta as tradições da sua comunidade, conta também que desde que existe a ponte para unir as duas margens se modernizaram. Ou seja, a sua ruka tem luz elétrica e água canalizada, o que lhes permitiu já não ter de descer até ao rio para ir buscar água. Sem dúvida que estamos perante uns mapuches diferentes. Todos os seus filhos têm uma profissão. Alguns aprenderam a arte dos mais velhos, como os carpinteiros, outros estudaram, como a filha que é de turismo.

Vale a pena?

Gostámos imenso do tour mapuche, embora faça pensar num aproveitamento dos turistas para viverem só mais uma experiência para fotos. Preferimos pensar que ajudamos Rosario e a sua família a ganhar um rendimento extra enquanto sensibilizam para a sua cultura e as suas tradições. Foi um passeio que valeu cada peso gasto. Fomos com a Cari, do País de Gales, que conhecemos no hostel. Além de ela ser uma ótima companhia, também lhe deu jeito a nossa presença para a tradução, pois ninguém fala inglês. No regresso a agência ofereceu a impressão de uma fotografia. Como somos dois tivemos direito a duas e agora carregamos mais dois souvenirs connosco.

tour mapuche

Preço:

Não esquecer que o nosso tour mapuche é de abril de 2017. Várias agências vendem este passeio, mas a recomendada pelo turismo da cidade encontrava-se suspensa porque o guia foi operado. Nós fizemos numa agência que tem também uma loja de fotografia, custava 23.000 pesos chilenos com degustação gastronómica, 24.000 com um prato de cazuela e 25.000 com assado. Nós escolhemos a tour com degustação e conseguimos regatear até aos 21.000 por pagar em dinheiro.

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