365diasnomundo.com

A ENTRADA E SAÍDA DO CHILE

Dois países, várias fronteiras e diferentes métodos de atuar em cada uma delas.

Argentina – Chile – Argentina – Chile

A Argentina e o Chile dividem o sul do continente americano de forma muito peculiar. Ushuaia pertence à Argentina, mas não fica colada ao continente, contudo a forma mais rápida para lá chegar por terra obriga a atravessar o estreito de Magalhães de ferry. Ou seja, atravessando território chileno. Pode parecer estranho, mas a alternativa seria ir por mar aberto, o que não é, de todo, confortável. Então, saímos de Puerto Madryn para Rio Gallegos e, daí, seguimos para o Chile.

Argentina-Chile-Argentina

Chegar a Ushuaia

Quando se desce para Ushuaia não se carimba a saída da Argentina. Aliás, da nossa experiência, só carimbam a saída quando a fronteira é longa, ou seja, quando o carimbo de entrada do outro país fica a alguns quilómetros da outra fronteira. Ainda no autocarro dão-nos um impresso para preencher. O impresso pede os nossos dados, mas pede principalmente para declarar valores monetários, fruta, legumes, derivados animais e produtos arqueológicos. Com toda a certeza, os chilenos são os mais rigorosos com a entrada de legumes, frutas e derivados animais no país.

Na fronteira, a primeira coisa que fazemos é entregar o passaporte para emissão do talão de entrada (PDI) e colocação do carimbo. Esse talão é guardado até devolução na saída do Chile. Não só é importante para não serem “chateados” na saída, bem como o talão comprova que são estrangeiros não residentes, permitindo que não tenham de pagar o IVA (19%) quando utilizam dólares ou cartão de crédito estrangeiro para pagamento de alojamentos.

Em seguida, terão de passar pelo ministério da agricultura, onde entregam o formulário e passam a bagagem de mão no raio-x. Não vale a pena pensar que conseguem escapar, porque são revistados com cães. Se no raio-x se verificar que trazem alguma coisa, com toda a certeza a mala é aberta e é verificado o formulário para ver se declararam os artigos. Não declarar artigos proibidos implica duas coisas: 1) uma multa 2) ficar sem as coisas na mesma. No entanto, há funcionários benevolentes que apenas obrigam a deixar ficar os artigos proibidos. É provável que pensem que assim vão passar fome por não poderem levar comida, mas existe sempre um bar ou quiosque que vende snacks e aceita pesos chilenos e argentinos.

O percurso dentro do Chile é curto e em seguida está-se de regresso à Argentina, seguindo o caminho até ao fim do mundo. Logo depois, ao sair do Chile, entregam o talão, o funcionário carimba a saída e voltam ao autocarro. Poucos quilómetros depois estão na fronteira da Argentina, onde saem novamente do autocarro e carimbam a entrada na Argentina.

Em resumo, fácil, uma viagem, três autocarros e 3 carimbos no passaporte.

Argentina-Chile

Sair de Ushuaia é um bocadinho diferente. Apanhámos o autocarro em Ushuaia para Punta Arenas (Chile), mas parte do percurso é igual ao de ir para a Argentina. O funcionário do autocarro dá-nos o impresso da alfândega chilena e recolhe depois de preenchido. Em San Sebastián saímos da Argentina e do autocarro. Vamos para a fila de migração para receber o carimbo de saída da Argentina. Voltámos ao autocarro e logo à frente está a entrada no Chile. Enquanto avançamos o motorista do autocarro dá uma última oportunidade. Relembra os mais esquecidos para deitarem fora as frutas que possam ter.

Nesta fronteira ficámos à espera algum tempo sem saber porquê, mas quando chegou a nossa vez, percebemos que todas as malas saem do autocarro. O ministério da agricultura chileno e o seu cão dão a volta a todas as malas. No caminho para Ushuaia não passámos por este passo, talvez por irmos em trânsito. Vamos para a fila, carimbam o passaporte, e é-nos entregue o talão de entrada no país (o PDI).

Enquanto isso, o cachorro vai marcando as malas que devem ser revistadas. Vamos para a fila do raio-x e cada um deve verificar se a sua mala de porão não está separada. Toda a bagagem passa no raio-x e, se nos mandarem abrir as malas, é porque temos legumes ou frutas, e aí começa o filme. Dependente do funcionário, pode bastar alterar a cruz do não tem frutas para tem frutas. No nosso autocarro apanharam uma passageira com maçãs, mas não a vimos pagar multa.

A Raquel achou piada existir um dosímetro pendurado junto à máquina de raio-x. Para quem não sabe, o dosímetro mede a dose de exposição à radiação ionizante de funcionários, estando este a servir como dosímetro de área. Este foi o primeiro sítio onde vimos um dosímetro nessas máquinas, mas depois ainda estivemos numa fronteira onde os funcionários usavam dosímetros pessoais.

No esteiro de Magalhães apanhámos o mesmo ferry do caminho de ida, mas desta vez não havia turbulência, e ainda conseguimos ver um golfinho. Em Punta Arenas trocámos de autocarro e seguimos para Puerto Natales.

Bariloche-Puerto Montt

Nesta fase já estamos peritos em atravessar as fronteiras entre a Argentina e o Chile. Eventualmente a mais profissional foi a Cardenal Antonio Samoré, de Bariloche para Puerto Montt. Aqui todas as malas de porão saem do autocarro. Em seguida vão para umas plataformas e nós saímos com a bagagem de mão. A bagagem de mão fica noutras plataformas. Em seguida, o funcionário do ministério da agricultura leva o cão a dar várias voltas entre as bagagens e, aparentemente, nunca falha! Assim que eles sinalizam uma mala ou um saco, sai de lá uma maçã, bananas ou até mozzarella.

Sentimos que há um grande rigor na passagem das fronteiras da américa latina. É provável que seja pelo tráfico de droga. Na Argentina, os autocarros são parados várias vezes e revistados por carabineros com cães, à procura de droga. Por exemplo, a própria aplicação do registo viajante avisa que têm havido alguns problemas com turistas apanhados com droga. Se antigamente se falava apenas no México ou Colômbia, agora a Argentina também entrou na lista. Viu aumentar o tráfico da droga dentro do país. Também aumentou a criminalidade associada.

Chile-Argentina-Chile

Por causa do drone, fomos mais uma vez à Argentina, desta vez a Mendoza. Enfim, foi mesmo por necessidade. Fomos num dia e regressámos no dia seguinte.

A Raquel tinha comprado curcuma fresca, em raiz, tipo gengibre, em Pucón, mas nunca mais nos lembrámos que a tínhamos. Sem dúvida que ninguém está livre de errar. Na fronteira de Los Libertadores, a Raquel foi parada pela curcuma. Apesar de ser curcuma chilena, saindo do país não pode reingressar, porque é uma planta. Os medicamentos da colite ulcerosa também fizeram fogo de artifício no raio-x, mas, felizmente, a funcionária tem uma patologia semelhante e percebeu logo o que era. Sem dúvida que ajuda, porque foi ela que explicou às colegas que era um medicamento de uso diário, portanto necessário em grandes quantidades para a viagem. Ficámos parados mais de uma hora por causa de umas senhoras que decidiram arriscar. Levavam material para venda no Perú sem declarar. De cada vez que abriam malas saiam bonés de todas as cores.

Chile – Bolívia

A última vez que saímos do Chile foi para ir de São Pedro do Atacama para o Uyuni, na Bolívia. O carimbo de saída é feito ainda dentro da cidade de São Pedro, muito longe da fronteira. Junta-se imensa gente no edifício, por isso é que o início das tours ao Salar é tão cedo. Depois regressa-se ao carro e segue-se para a fronteira da Bolívia. Essa parte fica no artigo sobre a entrada e saída da Bolívia (aqui). A fronteira que utilizámos é Hito Cajon. Existe também uma alternativa por Calama. Ali fica o posto fronteiriço de Ollagüe-Avaroa, mas por este caminho perdem-se imensos pontos de atração do tour do salar.

Notas:

  • PDI significa Policía de Investigaciones de Chile
  • O formulário é a tarjeta única migratória, é informatizado, identifica o posto fronteiriço de entrada e os vossos dados pessoais
  • Falamos muito nos carimbos porque andámos a fazer cálculos mentais para perceber se vamos precisar de outro passaporte durante a viagem. Tínhamos contado cada país como um só carimbo, sem perceber que íamos entrar e sair várias vezes de alguns deles. Por exemplo, desde fevereiro já entrámos e saímos da Argentina 4 vezes.
chile

Este artigo pode conter links afiliados

Partilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Indice

Mais artigos

América do Sul

ENTRAR E SAIR DA COLÔMBIA

A Colômbia não é um bicho de sete cabeças na fronteira como à partida parece, ou então tivemos sorte. Tudo foi fácil e rápido, apesar de quase termos perdido o voo de saída.

Ler Mais »
América do Sul

ENTRADA E SAÍDA DO EQUADOR

Já estamos a ficar especialistas em fronteiras. Já pouco nos chateia, estamos preparados para abrir a mala em qualquer altura e já não temos grandes planos para o resto do dia porque sabemos que basta alguém tentar contornar o sistema e não declarar mercadorias que podemos ter permanência para várias horas.

Ler Mais »
América do Sul

A ENTRADA E SAÍDA DO PERÚ

Entrar e sair do Peru varia muito conforme a fronteira utilizada. Uma mais calma que a outra, conheçam a nossa experiência.

Ler Mais »