Como já referimos (aqui), as free walking tours são sempre um bom ponto de partida para nós. Em Santiago achámos importante fazer de ambas as empresas que operam no mercado. A Free Walking Tour foi importante para conhecer a história e a cidade de uma forma mais abrangente, enquanto a Tour4tips deu-nos uma visão da cidade para quem lá vive, ou seja, o que interessa fazer e não vem nos guias, onde se juntam os habitantes da cidade, etc. As duas empresas são facilmente encontradas na internet, onde se consegue saber todas as informações importantes, como ponto de encontro, hora de início, duração e provável percurso. Já falámos sobre isto, mas são empresas que funcionam na base de “propinas”, ou seja, gorjetas. Vão-vos sempre falar num valor de referência, que a nosso ver está sempre inflacionado. A lógica destas agências é de cada um dar o que puder, e vão-vos dizer que quanto mais derem mais mostram quanto apreciaram. Fica ao critério e carteira de cada um…
Os cerros de Santa Lucia e San Cristobal são grátis e, apesar de terem uma vista espetacular para o pôr-do-sol, fecham antes de anoitecer, no inverno. No cerro de San Cristobal, porque o caminho a pé durante a noite é perigoso, pela falta de iluminação, no entanto se optarem pela bicicleta poderão sair quando quiserem. Poderão também utilizar um funicular para subir ou descer, com paragem no jardim zoológico. O topo do cerro tem uma vista fantástica de toda a cidade, sendo uma espécie de igreja ao ar livre. O trajeto completo, ida e volta, custa 2.000 CLP (2,7€) em dias de semana e 2.600 CLP (3,5€) ao fim-de-semana. O cerro de Santa Lucia não é tão alto e fica no centro da cidade, sendo assim mais concorrido, principalmente no acesso às torres mais altas do miradouro, por ser um espaço bastante pequeno. Das torres conseguem ver o cerro de San Cristobal. Possui um belo jardim, onde muita gente aproveita para ler, namorar ou dormitar.
Para quem gosta de Pablo Neruda, o Chile tem diversos museus dedicados a este famoso escritor e político. Um dos mais famosos é La Chascona, junto ao cerro San Cristobal, e a entrada custa 7.000 CLP (9,3€), aberto todos os dias excepto à segunda-feira e com desconto de 50% para estudantes e maiores de 60 anos. A história deste museu é simples: Pablo, apesar de já ser casado, apaixona-se por uma jovem, com quem manteve uma relação discreta enquanto foi diplomata em Paris. Quando voltou ao Chile, sem intenções de romper a relação, mas com maiores dificuldades em passar despercebida, Pablo teve a ideia genial, pensou ele, de comprar uma casa num bairro de má fama, achando que a probabilidade de alguém acreditar que ele circulasse por ali fosse baixa. Como nada é secreto durante muito tempo, Pablo, após o escândalo, divorcia-se e casa-se com a amante, tendo vivido nesta casa, agora museu, o resto da vida. Não visitamos, mas sabemos a história porque a Free Walking Tour acaba à porta do museu. A Free Walking Tour da tarde tem um problema, acaba num sítio perfeito para se visitar o cerro de San Cristobal, mas demasiado tarde durante o inverno. Para visitar o cerro sugerimos fazer a tour da manhã, porque são iguais.
O Palácio de la Moneda tem visitas guiadas grátis em espanhol, que devem ser marcadas com duas semanas de antecedência neste site. O Palácio de la Moneda é um edifício importante na história chilena. Para além de ser o palácio do governo, foi palco do golpe de estado que culminou com a morte de Salvador Allende. Resumindo, Salvador Allende era amigo de Fidel Castro, considerado comunista e um problema. Com a aplicação de algumas reformas que iam de acordo com estas ideologias políticas, começou a deixar os empresários do país em alerta, preocupados que ele destruísse os seus negócios e riquezas. A 11 de setembro de 1973 Allende é informado que a marinha se encontra na costa de Valparaíso com os canhões apontados à cidade e que é melhor que ele renuncie. Orgulhoso e confiante que ainda podia mudar o país, Allende recusa e prepara-se para a luta. Pinochet, general e comandante das forças armadas, ordena um ataque aéreo ao palácio que culmina na morte do presidente. Na Free Walking Tour dizem que ninguém sabe se ele se suicidou ou se foi morto, mas que a versão oficial é o suicídio com uma arma que lhe foi oferecida por Fidel Castro. Para quem gosta de política, de história, ou está só curioso, pode ver o filme Allende, disponível no Netflix, que retrata esse dia.
Por trás do Palácio encontram o Centro Cultural La Moneda. Também tem visitas guiadas grátis a algumas exposições, bastando chegar antes da hora e inscrever-se. Quando estivemos na cidade havia exposições gratuitas de arte chilena. Para nós, bastante leigos em arte, confessamos que um guia dá muito mais sentido ao que vemos, apesar de nos sentirmos um pouco ignorantes de cada vez que nos perguntavam se conhecíamos determinado pintor ou escultor chileno, aparentemente mundialmente famosos. A exposição que vimos mostra de forma cronológica um período de forte influência europeia e, mais tarde, o romper da relação, e o assumir das raízes indígenas, como, por exemplo, a influência da arte mapuche. Aqui encontram também um cinema e feiras temporárias, além de outras atividades. É uma zona bastante interessante para caminhar e conseguem ver tudo o que está a decorrer na página de internet.
O Museo Parque de las Esculturas é um jardim próximo da zona nova da cidade e, exatamente como o nome indica, é um jardim ao ar livre, grátis, preenchido com esculturas de vários artistas, a maioria oferecidas por empresas. As esculturas estão acessíveis ao toque, ou seja, ao contrário de um museu tradicional, aqui pode-se interagir com a arte. Acaba por receber muitas famílias com crianças que se deliciam a brincar.
Para uma vista panorâmica da cidade existe uma alternativa aos cerros, mais cara, mas onde é possível ver o pôr-do-sol sem infringir as regras, o Sky Costanera. É um shopping, também na zona nova, que possui no topo um espaço com vista para a cidade. Não é barato, custando 14.000 CLP (18,5€). Se quiserem, aproveitem o desconto de 50% à quarta-feira.
Na Plaza de Armas encontram a Catedral Metropolitana de Santiago, reconstruída por diversas vezes devido aos sismos, e o Museo Histórico Nacional. O museu é grátis (como todos da DIBAM) e de quinta a domingo é possível subir à torre do relógio em visita guiada grátis, com uma vista para a praça que não merece ser desperdiçada. Este relógio tem uma particularidade: necessita que o relojoeiro, um senhor idoso de 83 anos, lhe vá dar corda uma vez por semana, subindo toda a escadaria da torre. Não tem substituto e já se começa a pensar no que sucederá quando já não lhe for possível continuar o serviço. O restante museu mostra a história do Chile e Santiago, desde a sua conquista por Valdívia, com um espólio de vários quadros e objetos da época, continuando até à proclamação da independência, com a particularidade de esta ser comemorada antes do ano oficial da independência. Oficialmente, a data é 18 de fevereiro de 1818, mas tem início com a instabilidade vivida na Europa, tal como na Argentina, após o desaparecimento do rei de Espanha. As comemorações do centenário foram em 1910, pois a demanda pela independência iniciou-se a 18 de setembro de 1810. Em frente ao Museu de Belas Artes existe um jardim onde se encontram quase todas as ofertas dos países para a comemoração do centenário.
O Museo de la Memória y los Derechos Humanos é uma construção bastante impressionante, fazendo parte de um conjunto de museus da memória que existem pelo mundo. Estes museus existem em países que têm histórias graves de homicídios, massacres, genocídios, perseguições, opressão, entre outras, a maioria das vezes por razões políticas. Aqui achamos que Portugal deve estar orgulhoso por não fazer parte da lista dos países que os têm, apesar de ter razões para se envergonhar do passado. O museu, inaugurado em 2010, é emotivo, referindo-se ao período de ditadura a partir da tomada do poder pelo General Pinochet. Encontram fotografias das pessoas perseguidas, mortas, desaparecidas, muitas vezes acompanhadas de um breve testemunho de um familiar. Têm vários recortes de jornais, desenhos de crianças, gravações televisivas e relatos na primeira pessoa. É incomodativo, mas é para isso que existe. Exige algum conhecimento histórico para acompanhar a ordem cronológica, porque está demasiado preenchido, tornando-se algo confuso. Devido à sua ligação à história do país, talvez fará mais sentido ser visitado por chilenos, mas o nosso anfitrião contou-nos que não sente vontade de ir ao museu, precisamente por ter na família vítimas da perseguição política.
O Museo Nacional de Bellas Artes está em obras, é grátis, e, para já, a sua visita não é algo que consideramos obrigatório. Só estão duas salas abertas e a sala principal é composta por cópias de esculturas, ainda assim de enorme beleza. Também faz parte da DIBAM.
O Museo Nacional de História Natural já poderá valer a pena, apesar de não termos ido, conhecemos pessoas que recomendam. Nós não fomos porque estivemos recentemente no de Nova Iorque e, com os feriados da Páscoa que se me meteram pelo meio, não tivemos muito tempo. O Museu de História Natural também faz parte da DIBAM, sendo grátis.
A ligação das duas margens do rio Mapocho é feita por várias pontes. Uma delas (puente Vicente Hoidobro) foi desativada e é hoje uma sala de teatro. O Centro Cultural Teatro del Puente foi inaugurado a 9 de setembro de 1998, apoia jovens companhias e é o único teatro do mundo numa ponte.
O Museo Chileno de Arte Precolombino fica junto ao Palácio e a entrada custa 4.500 CLP (6€). É um museu que se divide em várias áreas, como a mesoamérica, andes e caribe. Abriu em 1981 e tem origem num esforço conjunto entre um particular (dono das coleções) e a Municipalidad de Santiago (dona do edifício), daí ser pago.
Ir aos mercados é obrigatório. A Tour4tips passa por alguns, mas se estiverem com um orçamento limitado não caiam na esparrela de a seguir ir almoçar com o guia, porque provavelmente acabam num sítio mais caro. O Mercado Central é o local onde devem ir se quiserem comprar peixe ou marisco. Para almoçar encontram ceviche de corvina, caldillo de congrio e outros pratos típicos, como empanadas de camarones ou machas a la parmesana. O edifício é um monumento histórico, tendo sido considerado, em 2011, o 5º melhor mercado pela National Geographic. O Mercado de Abasto Tirso de Molina já é o sítio onde vão comprar legumes, queijos, ou beber um maravilhoso sumo natural (recomendamos pedir sem açúcar, já que os chilenos abusam nesta matéria). Fica junto ao Mercado Vega Central, na Recoleta, numa zona conhecida como La Chimpa, ou seja, do outro lado do rio. No segundo piso come-se comida de todo o mundo, a bom preço. O Mercado Vega Central, ou La Vega, está aberto desde 1916, mas o local já tinha sido escolhido há muito por vendedores e tem 7000 trabalhadores. É o sítio de eleição para comprar frutas e legumes de todas as variedades. O mercado tem uma história com Pablo Neruda que ele descreve no livro “Confieso o que he vivido”. Nesse livro, Pablo conta que um dia foi levado até ao mercado para uma conferência com o sindicato dos trabalhadores do mercado. Pablo saiu de lá impressionadíssimo pois, sem saber o que lhes dizer, lê vários poemas de um livro seu e sente que cada ouvinte está totalmente focado naquilo que ele lhes lê, durante mais de uma hora, numa leitura considerada difícil, levando até à comoção dos ouvintes. Ir aos três mercados é fácil e pode ser feito no mesmo dia, porque são todos muito próximos. Fecham cedo, por isso só são opções para almoço.
Tal como em Buenos Aires, também em Santiago o cemitério é digno de ser visitado. O Cementerio General foi criado em 1821 para enterrar apenas católicos e assim foi até 1954, quando a Igreja cedeu à pressão. Antes disso, os ricos eram enterrados nas igrejas e os pobres nos pátios de casa. Este cemitério é do tamanho de 120 campos de futebol e tem mais de 2 milhões de corpos. Apesar de possuir túmulos de gente importante, como presidentes, tal como em Buenos Aires, a sua importância deve-se à arquitetura. É possível fazer tours diárias ou noturnas, que têm de ser marcadas no seguinte site: http://tour.cementeriogeneral.cl/. As tours noturnas têm um custo de 2.500 CLP (3,3€) e podem ser de 3 tipos. O tour alternativo da Tour4tips faz uma passagem por lá.
Terças-feiras às 19h há cinema grátis na Sala Sazié, da Casa Central de la Universidad de Chile.
Junto ao Museu da Memória e dos Direitos Humanos encontra-se o M100. Este espaço concentra a sua atividade na divulgação de artes cénicas e visuais e cinema. A programação é divulgada aqui.
Para terminar, ir a Valparaíso e Viña del Mar, que exploraremos em pormenor noutros artigos.
Provavelmente há mais do que isto para fazer, mas estes locais foram os que visitamos ou nos recomendaram em Santiago.
Mais sobre Santiago no nosso artigo geral, aqui.
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