Chegámos ao Atacama dias depois do previsto porque antes fomos a Mendoza buscar o drone. Não vamos falar de Mendoza porque não conhecemos nada da cidade visto termos chegado no domingo de páscoa. Só podemos dizer que a paisagem entre Santiago e Mendoza é imperdível e se soubéssemos tínhamos alugado um carro em Santiago e ido de carro, fica a dica.
Quando chegámos a Santiago vindos de Mendoza já não havia lugares nos autocarros para San Pedro de Atacama. Íamos desistir, quando o funcionário da Turbus nos fala numa alternativa, ir a Antofagasta e aí procurar autocarro para San Pedro de Atacama. Foi o que fizemos, viajámos até ao Atacama na turbus, via Antofagasta, que nos pareceu ser uma cidade bastante interessante junto ao mar.
Chegámos na véspera do censo. Não tínhamos pensado muito sobre isso porque achámos que era um dia como outro qualquer. Mas enganámo-nos. Percebemos, na véspera à noite, que seria “feriado” no país, mais um depois da sexta-feira santa e domingo de páscoa. Ninguém percebeu que seria um dia perdido, incluindo os próprios chilenos, que não tinham um censo há anos. Sabiam que estavam “obrigados” a estar em casa à espera do recenseador, mas não sabiam bem o que fazer aos turistas que tinham à espera. Tudo, ou quase tudo, estava fechado. A space tour marcada tinha o escritório fechado, as agências estavam quase todas encerradas e os turistas andavam à deriva pela cidade, sem nada para fazer, porque até o free walking tour da Tour4tips foi cancelado. Rapidamente se esgotaram as bicicletas e empanadas devido ao fluxo de gente não habitual durante o dia.
A cidade não é grande e o centro é quase todo construído em adobo. A praça principal tem uma igreja, o museu e os restaurantes mais caros, mas tudo se passa na Calle Caracoles. É lá que encontram quase todas as agências turísticas e os restaurantes, onde preparam o agendamento da estadia, onde têm de bater de porta em porta para encontrar o melhor preço e onde podem aproveitar aquela bebida de final de dia. Sabíamos que a cidade era muito turística, mas não estávamos preparados para o círculo vicioso de explorar ao máximo o turista que iremos explicar.
A nossa estratégia era alugar um carro e fazer os percursos dos tours por conta própria. O plano era ótimo: tínhamos com quem partilhar o carro, poupávamos dinheiro em agências e otimizávamos o tempo num destino caro, turístico. Dois ou três dias seriam suficientes para ir aos locais de maior interesse. O problema está num belo esquema montado para o funcionamento em tours, onde o turista alugar carro não encaixa. Em San Pedro de Atacama existem apenas duas agências de aluguer, a Europcar e a Avis, e, mesmo essas, limitadas. No aeroporto de Calama, a 100km de San Pedro de Atacama, existem várias agências. No entanto, nenhuma tem carros disponíveis sem ser por marcação, sendo esta recomendada com uma antecedência de 7 dias e nunca menos de 3 dias. Como não sabíamos isto e conseguimos fazer uma reserva online via Autoescape, para a Keddy, versão low-cost da Europar, lá fomos os dois numa viagem de uma hora e meia (por extenso, para se ler devagar) para levantar o nosso carro, que afinal não estava disponível… O regresso, após a desilusão, foi caótico, porque quase não havia autocarros que regressassem a San Pedro. Gastámos 20200 CLP (27€) nesta brincadeira, não nossa, de ir e vir.
Claro que se tivéssemos percebido que seria assim teríamos ficado mais dois dias em Mendoza, para fugir do censo chileno, tínhamos ido de autocarro até Calama, de táxi para o aeroporto, e finalmente de carro 4×4 alugado até San Pedro de Atacama, reservado uma semana antes, para posterior devolução no mesmo local, ou em San Pedro, caso optássemos pela Avis ou Europcar. Não nos podemos julgar por falta de planeamento, porque investigámos bastante o destino antes chegarmos, podemos apenas dizer que o negócio está muito bem montado por aqui.
Bem, ficando sem a alternativa do aluguer, optámos por prolongar um dia a estadia e escolher alguns tours. O problema destes, e lá vem mais um esquema, é não serem compatíveis, porque os horários de chegada das manhãs sobrepõem-se às partidas da tarde. Do que percebemos, apenas o Valle de la Luna, à tarde, e o tour astronómico, ao final do dia, podem ser realizados no mesmo dia que outros tours da manhã. Esta logística obriga quase a fazer só um tour por dia. Pelo contrário, em gestão e viatura próprias, consegue-se visitar por dia dois a três locais vendidos em tours separados.
O que fazer?
Com tempo e orçamento limitados, pelos motivos explicados antes, optámos por fazer os Geysers del Tatio, o Tour Astronómico e as Lagunas Escondidas de Baltinache. Cada tour detalhado num artigo específico.
Reservar tudo no mesmo local, a agência parceira do nosso hostel, deu-nos um ótimo desconto, tendo pago 48.000 CLP (65€) por pessoa. Reservámos também o tour de 3 dias do salar de Uyuni, que termina na Bolívia. A agência foi a Sun Travel, na porta 179 da Calle Caracoles. É uma agência pequena e de média qualidade, as funcionárias pareceram-nos muito honestas e sinceras, ajudando a fazer a melhores escolhas para o tempo disponível. Adicionalmente, no dia do censo, tivemos a sábia decisão de alugar bicicletas para visitar o Valle da Muerte, tendo custado 4.000 CLP (5,4€) por bicicleta, para meio-dia. Vejam aqui o nosso guia sobre como fazer este passeio de bicicleta.
Abdicámos assim dos seguintes “highlights”: salares do Atacama e do Tatio, as Piedras Rojas, a Laguna Cejar, as Lagunas Altiplânicas, as Termas de Puritama, o Valle Arco-iris, o vulcão de Licancábur e o Valle de la Luna.
Temos de confessar, como já devem ter percebido, ficámos bastante chateados com o contratempo do aluguer de carro frustrado, quase ao ponto de não querer gastar mais um cêntimo na cidade e seguir direto para Uyuni. As datas começavam a ficar apertadas para o trekking de Machu Picchu e não dava para perder mais tempo à espera de encontrar um carro livre.
O que recomendamos? Primeiro, muita atenção! Segundo, lerem o nosso guia de como escolher o melhor tour e agência para o Atacama. Apesar de existirem dezenas de escritórios na Caracoles, na prática as empresas que fazem as tours são muito poucas e os negócios funcionam na base da subcontratação. Qual é o problema? Quase nunca sabem com quem estão efetivamente a fazer o tour, não ajudando quando as coisas correm mal.
Recomendamos:
- Estar atento, perceber se vão fazer o tour diretamente pela agência ou por uma outra.
- Tentar saber o nome da agência contratada e verificar as “reviews” no Tripadvisor.
- Tentar juntar um grupo grande e todos juntos irem negociar diretamente com as agências que organizam os tours.
- Não sejam contidos na negociação dos descontos, afinal, estamos na América do Sul, não é esperada outra coisa.
- Tentem explicar o que querem ver e tenham a noção do que existe na região. Se tiverem pouco tempo e um orçamento limitado tentem não repetir coisas. Por exemplo: o tour do salar do Uyuni permite ver flamingos, geysers ( não são bem geysers, mas muito semelhantes), lagoas, termas e, claro, o salar. Isto risca, teoricamente, os geysers del Tatio, as idas para ver flamingos, o Salar do Atacama e do Tatio e as termas.
- Procurem seriedade. Esmiúcem a pessoa da agência para sentirem se só quer vender ou se está preocupada em prestar um bom serviço. Perguntem como é o carro, quantas pessoas levam, o que são as refeições, o que está incluído e se vão andar à pressa ou se vos dão tempo para caminhar pelas paragens. Peçam uma espécie de contrato, um papel escrito e assinado pela agência ou troca de e-mails em que esteja explícita a descrição do serviço.
Para um programa mais cultural pode-se ir ao Mercado de Artesanato a partir da praça central e ao Museo Arqueologico Regional de San Pedro de Atacama, com uma exposição permanente de R. P. Gustavo Le Paige, fundador do Museu em 1963, com milhares de peças arqueológicas encontradas na região.
Também encontram o Museo Regional de Atacama pertencente ao DIBAM que, tal como em Santiago, tem entrada grátis e fecha à segunda.
O Museo do Meteorito tem meteoritos verdadeiros em exposição, fecha à segunda e a entrada custa 3.500 CLP (4,7€).
Nós não fomos aos museus nem fizemos o típico free walking tour, de que somos fãs, e é fácil perceber que foi por falta de tempo. A Tour4tips faz duas rotas, uma às 10h e outra às 15h.
Onde dormir:
O nosso hostel era confortável, a uma caminhada de 20 minutos do centro, completamente segura de dia ou de noite. Ficámos num quarto privado com casa de banho partilhada. Tinha um grande pátio e uma cozinha minúscula. Não era barulhento, exceto se no quarto ao lado se conversar alto. Chama-se Tiny Hostel Atacama e recomendamos, pelo que vimos das opções de outros viajantes este tem uma ótima relação qualidade-preço. Também recomendamos que reservem apenas a primeira noite, e só se chegarem tarde, porque existe muita oferta, e assim poderão escolher o hostel que mais vos agradar.
Onde comer:
O ideal é deambular pela cidade e ir vendo, há opções para todos os gostos e carteiras.
Podemos recomendar o vegetariano Estrella Negra, com as suas empanadas grandes e saborosas (a experimentar a de tomate e manjericão).
Disseram-nos que o melhor hambúrguer era o do Mancha Panza, mas quando tentámos lá ir éramos cinco pessoas e não tinham pão suficiente (devem ter sido afetados pelo censo).
Vale a pena?
A região é linda e única, não dá para negar, mas agora que já conhecemos outras coisas mais a norte, podemos dizer que está um pouco sobrevalorizada. Isto não quer dizer que se deva riscar da lista de sítios a conhecer, de todo. Tem é de se ir mentalizado que é demasiado caro para o serviço que presta e que as visitas são demasiado comerciais com o típico chegar, “tirem as vossas selfies” e “pessoal temos de ir para o ponto seguinte”. É importante dizer que é possível um serviço mais personalizado, como melhores refeições, mais flexibilidade, menos gente e melhores veículos, com a desvantagem de serem abusivamente mais caras. Também acreditamos que numa experiência diferente da nossa, com menos azares, tudo pareça melhor.
Recomendação final:
Cuidado a levantar dinheiro. Conhecemos vários casos de cartões clonados na cidade. As caixas multibanco fecharam à vez, durante a nossa permanência, para retirar os dispositivos de clonagem de cartões. De referir que uma delas está dentro dum banco e mesmo assim estava “quitada”.
365 dias no mundo estiveram 3 dias em San Pedro de Atacama, de 18 a 22 de Abril de 2017
Classificação: ♥ ♥ ♥ ♥
Preços: caro
Categorias: paisagem, natureza, aventura, deserto, montanha
Essencial: Geysers del Tatio, Tour Astronomica, Lagunas Escondidas de Baltinache, Valle de la Muerte, Salares de Atacama e del Tatio, Piedras Rojas, Laguna Cejar, Lagunas Altiplânicas, Termas de Puritama, Valle Arco-iris, Vulcão de Licancábur, Valle de la Luna
Estadia Recomendada: 4 dias (para fazerem todos os pontos de interesse em carro próprio) ou 1 semana para fazer em tour
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