Apesar de o texto ser escrito em nome dos dois, há alturas em que é mais fácil um de nós assumir-se como narrador, geralmente a Raquel. E é assim que vos vamos contar como tudo começou e o plano para esta viagem.
Assim que comecei a ter os “dates” com o Tiago percebi logo que ele era diferente. Tinha um emprego estável, era competente (muito), tinha futuro (muito), mas o plano, contou-me ele, era não renovar o visto e dar a volta ao mundo (o quê?). Na altura pareceu-me giro, claro, mas loucura. Quem é que desperdiça os melhores anos para formar carreira, em viagens? Ora, as pessoas que vêem a vida de uma forma diferente, que sabem que se o mundo acabar amanhã não é do trabalho que se querem orgulhar. Claro que eu também gostava de viajar, já tinha sido emigrante, a minha família está espalhada por todo o lado, o meu primeiro voo foi feito com duas semanas, e não me lembro de quantos mais já tenho em cima, mas gostava de trabalhar, e muito. Gostava da vida que tinha construído para mim em Angola e não me via a mudar. O Tiago renovou o tal visto, só ele vos pode dizer porquê, mais tarde trocou de emprego, eu troquei também, e a minha troca não correu nada bem. Comecei a pensar que se calhar não queria viver os meus 30 num trabalho que era um sacrifício diário e não dignificava o país que também é meu.
Estabelecemos uma data para começar e começámos a traçar o plano. Eu era do quadro, o Tiago continuava com vistos, por isso a data seria a da próxima renovação do visto. Correu tudo mal, fui despedida, e o plano alterou-se. Acabámos por decidir que era melhor o Tiago renovar mais um ano e eu andei meses entre Portugal e Angola, a organizar o nosso projeto de ter um alojamento local no Porto e a dar aulas, que foi das coisas mais especiais que fiz na minha carreira. Entretanto, a crise em Angola agravou-se e tornou ainda mais evidente que precisávamos de outros ares.
Mas vamos ser realistas, uma volta ao mundo não é uma corrida e precisávamos de uma data de fim
Estabelecemos nova data para o arranque da viagem, 2017, logo no início do ano. Escolhemos o primeiro destino pela comodidade e facilidade do voo, Porto para São Paulo, e a partir daí comecei a ler blogs, guias, artigos, e a fazer uma lista de países e cidades que queríamos conhecer. A primeira lista era louca. Dos que não conhecemos estavam lá quase todos, incluindo Butão e todos os outros países acabados em “ão”. Mas vamos ser realistas, uma volta ao mundo não é uma corrida e precisávamos duma data de fim. Decidimos que seria um projeto desenhado para um ano, mas talvez mais, talvez menos. Enquanto houvesse dinheiro.
Escolhemos um nome para o projeto, 365 dias no mundo. Estrategicamente, o nome não ficava estragado se, por algum motivo, a viagem fosse encurtada ou alongada. Vivemos todos no mundo e um ano tem 365 dias (excepto de 4 em 4 anos). E certamente teremos 365 dias interessantes além desta viagem, para continuarmos o projeto indefinidamente.
Comecei então a afunilar o processo, escolhia países, depois procurava cidades que valesse a pena visitar e tentava unir os pontos. Acrescentava ou retirava destinos da lista inicial. O Tiago fazia a estimativa de gastos essenciais, em alojamento, transportes e alimentação. Eu procurava os tours a não perder, museus e respetivos preços.
A viagem começou com a primeira fase ao pormenor, e com a segunda e terceiras mais por estimativa, para encaixar no orçamento. A primeira fase era América, segunda Ásia e terceira Oceânia. Na América decidimos fazer o Brasil, Uruguai, Argentina, Chile com ilha da Páscoa, Bolívia, Perú, Equador com Galápagos, Colômbia, Panamá, Costa Rica e México. Paraguai pareceu-nos demasiado parado para o nosso perfil, Venezuela já se sabe, Guianas e Suriname não ficavam “a caminho”, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Belize e El Salvador ficavam de fora porque iríamos da Costa Rica ao México de avião. Deixámos de fora Canadá, EUA e ilhas do Caribe porque são destinos que encareceriam demasiado a volta ao mundo e se enquadram melhor em outros tipos de viagem, para uma outra altura. Também deixámos África de fora porque morámos em Angola mais de 4 anos, portanto já precisávamos de conhecer outras coisas. E a Europa? A Europa é ali ao lado, podemos ir em qualquer altura, até aos fins-de-semana, pensámos nós.
Para a fase dois quase não ficou nenhum país de fora. O plano era viajar do México até ao Japão e, a partir daí, percorrer tudo o que conseguíssemos. Não está tão planeado propositadamente, para arriscarmos mais, irmos mais ao sabor do vento. É uma segurança ter a noite reservada, mas quando já não se pode cancelar é uma frustração, principalmente quando nos apetecia virar o plano do avesso. E aconteceu-nos algumas vezes querer desistir do hostel, querer desistir do destino, mas depois já não dá sem perder demasiado dinheiro. Depois da Ásia iríamos para a Oceânia, onde não evitaríamos o cliché da passagem de ano em Sydney, reservada com um ano de antecedência, e acabaríamos por terminar a viagem um ano depois, na Nova Zelândia, à procura de um voo para Portugal.
Mas…
Não vamos esquecer o que fica por fazer, vamos só adiar. Viajar é viciante, já o era antes, mas agora já não somos os mesmos, não queremos as mesmas coisas, queremos conhecer mais, conhecer-nos melhor, ser mais
Tudo mudou. Quatro meses depois, não cumprimos o plano, não fomos à ilha da Páscoa, e sabendo que ainda falta tanta América Central e que o México é destino para mais um mês, percebemos que estávamos já algo saturados da américa latina. Não deixa de ser espetacular, mas nesta fase já se torna algo repetitiva, o que até nos faz desfrutar menos. Deixando mais países por visitar (México, Honduras, Belize, Guatemala, El Salvador, Canadá, grande parte dos EUA, além das ilhas do caribe) na América, temos desculpa para regressar. Seguirmos direto para a Ásia não nos parece aceitável, não queremos desperdiçar o tão agradável verão na Europa que, por estarmos em Angola, perdemos nos últimos 5 anos. Além disso, a minha colite está a pedir alguma rotina e começa a ressentir-se de tanta loucura alimentícia. Assim, e porque também há vários assuntos pessoais e profissionais a tratar, vamos interromper a viagem, regressar a casa, e a partir daí fazer o máximo que conseguirmos de pequenas viagens na Europa.
Não desanimem, vocês quase não vão dar conta porque temos mais de dois meses de atraso no blog. É desta forma que terminaremos no dia 8 de julho aquilo que podemos chamar de Season 1 do 365 dias no mundo, com a nossa chegada a Portugal, não sem antes acrescentarmos uma visita a Nicarágua e Miami, dando início à Season 2 pela europa.
Não vamos esquecer o que fica por fazer, vamos só adiar. Viajar é viciante, já o era antes, mas agora já não somos os mesmos, não queremos as mesmas coisas, queremos conhecer mais, conhecer-nos melhor, ser mais. Bem, também queremos pensar em formas de sermos autossustentáveis viajando (se alguém souber uma formula mágica agradecemos que divulguem) e queremos fazer um turismo mais responsável, consciente e dinamizador. Temos visto coisas que nos têm incomodado, desde a poluição que encontramos em lugares que deveriam ser quase intocados, à forma como se tratam os animais, à falta de formação em turismo, tanto por quem recebe como por quem viaja, tantas coisas. Queremos contribuir, fazer algo bom, mas ainda temos de estudar o assunto…
Estão prontos para entrar na 2ª temporada? Nós estamos!!! Até lá, como já dissemos, a primeira ainda vai a meio, e achamos que guardamos o melhor para o final!
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