La Paz fica a cerca de 3640 metros de altitude e quase todas as encostas dos cerros da cidade estão preenchidas com casas e outros edifícios não muito altos, quase todos com um aspeto de inacabado, porque não têm o hábito de pintar as fachadas. Dizem-nos que em alguns países da américa do sul as casas ainda em construção não pagam impostos. É habitual deixar uma parte da obra por fazer com esse propósito, neste caso a pintura. Durante o dia a encosta da montanha fica com o tom laranja cor de tijolo e à noite fica amarela, iluminada pela luz que vem das casas e da rua. De certa forma, é esta a imagem de marca da cidade.
A Bolívia é diferente da américa do sul que tínhamos conhecido até aqui. Tudo é mais desorganizado e ao mesmo tempo mais genuíno, não tão semelhante ao resto do mundo. Os trajes pouco mudaram nos últimos anos, claro que se vê senhoras com roupas “ocidentais”, mas a maioria ainda utiliza as suas saias abaixo do joelho muito rodadas, o cabelo, muito escuro e comprido, em duas tranças, e um chapéu na cabeça. Às vezes até trazem uns acessórios no final da trança. Também usam os seus panos às costas para transportar crianças ou coisas que necessitem. Fez-nos lembrar Angola, mas é tão parecido em algumas coisas quanto diferente noutras. O trânsito é quase tão caótico como em Luanda, muita gente ainda usa os trajes típicos e acreditam em superstições e magia, mas em pouco mais se assemelhará.
Andar na cidade não é difícil, mas envolve um subir e descer constante. Há várias praças rodeadas de edifícios municipais em bom estado, apesar de coloniais. Há mercados, mas supermercados há poucos, preferem o comércio informal, de janela ou em barraquinhas na rua, mercearias minúsculas onde se vende quase tudo.
O que fazer em La Paz?
Além de passear pela zona histórica onde estão os edifícios governamentais ou municipais, deve-se passar pelos mercados.
Ir à Plaza Murillo, onde no tempo colonial existia uma fonte, substituída em 1909 pela atual estátua de Pedro Domingo Murillo, um mártir da independência da Bolívia. Esta história começa como a de todos os países da américa do sul. Em 1807, Napoleão invade a península ibérica e o rei de Espanha desaparece. Em La Paz, Murillo ataca a cidade, a 16 de julho de 1809, para obrigar o governador espanhol a demitir-se. Esta revolução é feita por crioulos (filhos de europeus nascidos nas colónias) e mestiços (filhos de europeus com indígenas) considerados uma linhagem de segunda classe quando comparados com os que nasciam em Espanha e vinham depois para a América. Não lhe serve de muito proclamar a independência da cidade porque Espanha consegue recuperar do golpe e ele é enforcado como traidor, em 1810.
Nesta praça poderão visitar o Palacio del Gobierno, a Catedral e o Palacio del Congreso Nacional. Chamam Palacio Quemado ao palácio do governo, porque em 1875 foi incendiado por rebeldes que se opunham ao presidente Tomás Ametller. Não acreditamos em edifícios com más vibrações, mas neste palácio aconteceu de tudo, incluindo suicídios e homicídios de presidentes. No total, mais de 200 mudanças de governo violentas decorreram ali. O palácio não pode ser visitado e a troca de guarda acontece uma vez por dia, durante a manhã.
A sede do congresso é um edifício colonial, onde também não se pode entrar, mas que tem uma particularidade. O relógio da torre, desde 2014, gira no sentido contrário. Apesar do governo querer simbolizar uma valorização das raízes andinas e um desligar da influência dos estados unidos, a ideia não é consensual.
Evo Morales, presidente da Bolívia, tem valorizado as raízes indígenas do país e os hábitos tradicionais, como o cultivo da coca, tendo até conseguido reconhecimento para os agricultores que cultivam coca, mostrando ao resto do mundo que não está diretamente associada com o fabrico de cocaína.
O Mercado de las Brujas é o mercado da cura e da superstição. Ali compram-se amuletos, sente-se a mística, ou simplesmente observa-se uma cultura tão diferente da nossa.
Andar de teleférico é essencial. O trânsito não é fácil, as ruas são estreitas e a saída da cidade faz-se quase toda para o mesmo lado. Os transportes são privados, autocarros, pequenas carrinhas (micros), táxis, o que não facilita a ida e vinda. O governo, para colmatar isto, criou uma rede de teleféricos. Das onze linhas previstas estão prontas e em funcionamento quatro. A linha vermelha sai do centro e liga-se à azul, que vai até El Alto. As mais turísticas são a verde e a amarela. É um projeto imenso e acaba por ser um transporte económico, com cada viagem a custar 3 BOB (38 cêntimos). Ou seja, uma tarde de teleférico por todas as linhas custa 24 BOB (3€). Nós andámos na vermelha e azul. Foi muito interessante sair de La Paz e chegar a El Alto neste meio de transporte. El Alto, apesar de estar colada a La Paz, é outra cidade, a segunda maior da Bolívia e onde se localiza o aeroporto da região. É a segunda cidade mais alta do mundo a 4150m (a mais alta fica no Peru e é La Rinconada a 5100m).
Na linha amarela chegam até ao Parque Mirador e na linha verde até Irpavi. Todas as estações têm o nome em aymara e em espanhol. Nota-se que ainda não é muito utilizado, mas funciona até às 23h. É bastante barato como atividade turística e fomos quase o tempo todo sozinhos nas cabines. É uma forma gira, mais confortável e segura de subir a montanha. Nós tivemos a sorte de regressar ao ponto inicial com um boliviano que fez questão de ir explicando alguns pontos que se viam do teleférico, inclusive um carro que caiu, ficando preso na montanha. Há tour com guia para vos acompanhar na viagem e fazer o transbordo entre linhas, mas não achamos necessário.
Downhill pela estrada da morte. A estrada da morte é uma estrada antiga que durante muito tempo foi a única forma de chegar ou sair de La Paz. São 64 km de estrada em terra batida pela montanha. Tem este nome porque foi extremamente perigosa, por ser tão estreita, inclinada e sem qualquer tipo de proteção para o abismo da encosta, causando cerca 300 mortes anuais. Hoje em dia é um atrativo para fazer de bicicleta. Falaremos melhor sobre isto em outro artigo.
Fazer trekkings pela montanha Huayna.
Entrar nas lojas de desporto na Av. Illampu. É uma experiência única ver os funcionários a terem a lata de vos venderem mochilas e roupas falsificadas como se fossem originais, argumentando até que têm garantia. Não encontrámos uma única mochila verdadeira.
Onde comer?
A nossa estadia foi muito rápida, mas aconselhamos o Namaste. É um restaurante vegetariano que tem um menu de almoço acessível. É pequeno, o menu esgota cedo, mas a comida é muito boa. Nós provamos as falafel de quinoa e o mani Thai, eram os dois muito bons. Os sumos são frescos. A dona é muito simpática e prestável.
De resto, como sempre, há muita comida à venda na rua, como frango frito e um género de empanadas doces.
Onde dormir?
Escolham bem. Nós fomos parar a um hostel que mais parecia uma viagem no tempo. Estão a ver aquelas pousadas antigas dos filmes? Igual. Funcionário que só escreve à máquina, mobiliário antigo, chão que range e portas mal afinadas. Até o frigorífico deve ter mais de 20 anos. Não recomendamos porque a limpeza também ficou no século passado. Aquele espaço até já pode ter sido uma boa hospedaria, mas digamos que morreu no tempo.
365 dias no mundo estiveram 2 dias em La Paz, de 26 a 27 de Abril de 2017
Classificação: ♥ ♥ ♥ ♥
Preços: económico
Categorias: cidade, cultura, arquitetura, história, aventura, trekking
Essencial: Downhill estrada da morte, teleférico, mercado de las brujas, plaza murillo
Estadia Recomendada: 3 dias
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