Com tudo bem planeado, chegámos na noite anterior a Arequipa e acordámos no “dia” seguinte às 2:45h (sim, leram bem) para sermos recolhidos pelo veículo do tour até ao Canhão do Colca às 3:10h. Reservámos o tour diretamente no hostel por 60 PEN (15,7€). Tínhamos tentado deixar este tour já reservado desde Puno, mas o preço era mais alto e até estávamos a ter alguns problemas na recolha no hostel já reservado, pelo que acabámos por trocar por um mais central e com reserva direta do tour (boa decisão!).
A viagem foi tranquila, passada a dormir, tendo começado com uma longa recolha de outros passageiros pelos diversos hostels e hotéis. A primeira paragem foi o pequeno-almoço. Havia fiambre, pão, manteiga, sumo de laranja e café. Foi de qualidade acima da média, até melhor que o pequeno-almoço de alguns hostels.
Chegámos às 8h à bilheteira do Canhão do Colca e já havia bastante gente. Mais uma vez, deu para perceber que estamos sempre inseridos no grupo de países que paga mais pelas entradas, neste caso 70 PEN (18,3€). Aqui é preciso ter atenção, países do Mercosul, como o Brasil, pagam menos. Os guias assumem que somos todos estrangeiros do grupo de países mais caro, portanto quem tem direito a desconto deve lembrar o guia.
O autocarro deixa-nos no miradouro maior, a Cruz del Condor. Não é fácil encontrar um lugar de boa visibilidade sem estar demasiado aglomerado. Há vendedores de souvenirs e de iguarias, dando para perceber que estamos perante uma grande atração da região.
No início não conseguimos ver muitas aves, é preciso esticar bem o pescoço para conseguir ver quatro pousadas no canhão do Colca. Mas, 40 minutos depois, chegamos a ver oito a voar em simultâneo, alguns muito perto! É um animal gracioso e enorme, que apesar de se assustar com facilidade com humanos, voa bastante perto de nós.
O Canhão do Colca é impressionante, enorme, iluminado pela luz do sol, o que torna a permanência quente, apesar de estarmos em dias frios. Há quem diga que é o maior canhão do mundo, mas pelos vistos cada país decide de onde e até onde faz a medição. Mas vamos deixar ficar como o maior canhão do mundo.
Há vários miradouros, mas o mais alto e junto à estrada é talvez aquele de onde se pode ter a sorte de ver as aves mais perto, mas é também o mais concorrido. Nós experimentámos todos, e como ficámos mais tempo (o nosso tour foi de um dia, então ficámos nos miradouros enquanto o motorista e o guia seguiam para o local do início e fim dos trekkings de dois ou três dias) conseguimos encontrar um espacinho agradável junto ao muro para a Raquel se sentar enquanto o Tiago fotografava. Como já é nosso hábito, um fotografa e o outro relaxa.
Estava a Raquel sentada em cima do muro quando se tornou claro porque é que nunca vamos ter 10.000 seguidores. Porque, enquanto miúdas giras, com os óculos de sol certos, aguardam ao nosso lado para ter espaço para a selfie perfeita, com a pose perfeita, as aves voam exatamente do outro lado, onde o telemóvel não consegue fotografar. Esperamos continuar a ser os esquisitos, como nos chamaram a pensar que não entendíamos inglês. À Raquel por estar sentada a observar os condores, sem máquina fotográfica ou telemóvel na mão há mais de 20 minutos, e ao Tiago por estar a tirar sequências de fotografias às aves, sem selfies. Cada vez mais, o normal é em instantes tirar várias fotos a si em poses favoráveis a likes e fugir para o próximo “spot”, sem relaxar ou usufruir do lugar único. Que interessa que seja ao fim de uma hora que se vêem não 4, mas 8 condores em simultâneo? Que interessa que com paciência se vejam os animais mais perto? A nós interessa, a nossa viagem é feita para ver as cores, sentir os cheiros, observar como a natureza é fantástica. Para nós, o mundo é para ser conhecido no meio de interjeições, de olhares maravilhados, de queixos caídos.
Ao mesmo tempo que nós, estava uma equipa de gravação a gravar uma peça sobre o canhão do colca enquanto atração, tendo ficado claro que uma frase que se diz em meio minuto demora horas a gravar, principalmente se a intenção for proclamá-la enquanto um condor voa ainda no plano do vídeo.
Mas o tour de um dia ao Canhão do Colca não termina aqui. Como explicámos acima, ficámos mais tempo porque o motorista foi deixar os passageiros que iniciavam o tour de dois dias, e foi buscar os que terminavam nessa manhã. Com o carro cheio de caras novas, seguimos caminho até outros miradouros para ver o vale. Este segundo guia estava cansado do tour que terminava e cheio de pressa, tendo tentado por diversas vezes saltar paragens. Passámos por uma pequena localidade, onde estava a acontecer uma festa religiosa e pudemos ver de perto algumas aves de rapina, alpacas e muitos souvenirs.
De seguida, parámos nas termas La Calera, pagas à parte. Não fomos, porque vamos ter termas em Machu Picchu, mas como não nos foi permitido atravessar o rio sem pagar acabámos por ficar na estrada a “brincar” com o drone e a conversar com uma senhora brasileira.
A paragem seguinte foi para almoçar, e aqui foi difícil a comunicação. Tentam vender-nos o menu de buffet, que não vale de todo o preço, mas lá conseguimos pedir um menu do dia completo por um preço muito mais aceitável.
Já no regresso a Arequipa, depois da sinuosa estrada de montanha, paramos num dos miradouros dos vulcões, onde nos explicam o porquê das pedras empilhadas. A última paragem foi num terreno onde podíamos ver as vicuñas, alpacas e lamas. Mais uma das paragens que o guia tentou saltar dizendo “vocês não querem ver as lamas, pois não?”
No dia anterior soubemos que tinha havido um sismo no canhão, fazendo rolar algumas pedras pela encosta, que felizmente não atingiram os nossos colegas de viagem durante o trekking, mas que viríamos a saber que atingiram os nossos futuros companheiros no inka jungle trek. O guia do tour deles não os conseguiu avisar a tempo e foram atingidos pelas pedras.
Soubemos na Colômbia, quando reencontrámos o australiano Scott da space tour do Atacama, que se pode ir de autocarro/ônibus até ao canhão, e assim aproveitar o dia de outra forma. O Scott acabou por chegar a Chivay na véspera, dormir lá, e na manhã seguinte ir e regressar de autocarro. Provavelmente é a melhor forma de aproveitar o canhão. De Arequipa a Chivay são 164km. Os autocarros custam entre 10 e 15 PEN (2,6-3,9€), mais a taxa de embarque do terminal terrestre de 1 PEN. Para aproveitar a vista, devem escolher assentos do lado direito na ida. A entrada no parque custa 70 PEN e inclui os dois percursos de trekking (de 3 ou 4 dias). Os destinos mais comuns são Chivay, a cidade mais próxima, ou Cabanaconde, a 220km, mas o ponto de início dos trekkings. O autocarro que segue para Cabanaconde pára na Cruz del Condor.
365 dias no mundo estiveram 1 dia no Vale de Colca, a 1 de Maio de 2017
Custo: 130 PEN (34€) (excluindo almoço/snacks)
Duração: todo o dia (saída às 3h e regresso às 17h)
Grau de dificuldade: baixo
Nível de segurança: alto
Satisfação: recomendamos o destino, apesar de o tour não ser bom
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