Chegámos a Cartagena das Índias de avião. A Colômbia é o primeiro país em que os voos domésticos compensam em relação às viagens de autocarro. Do aeroporto para a Ciudad Vieja não encontrámos autocarros (ônibus), e lá pagámos 20.000COP (5,8€) de táxi até ao hostel.
A história desta cidade é antiga (4000 AC) e remete para diferentes culturas indígenas da região, tendo sido conquistada pelos espanhóis após várias batalhas. Rodrigo de Bastidas batizou a zona como Golfo de Barú, mas em 1503 o nome é trocado para Baía de Cartagena, em homenagem à cidade espanhola. A cidade é fundada por Pedro de Heredia em 1 de junho de 1533 e, durante o tempo colonial, foi uma cidade importante para o reino, sede de governo e morada dos vice-reis. O seu porto recebia o ouro e prata do Perú e Nova Granada, que daqui era enviado para Espanha. Foi um grande centro de escravos, onde estes chegavam de África para serem depois enviados para as minas do império. É destruída em 1697 e novamente em 1741, pois sempre foi cobiçada por outros países, como França, Holanda e Inglaterra. A 11 de novembro de 1811 declara a independência de Espanha, que volta a reconquistar a cidade em dezembro de 1815. É com Símon Bolívar que se dá a derrota definitiva de Espanha, em 1821. A cidade demorou a recuperar da destruição causada pelas guerras pela independência, mas a chegada de imigrantes de todo o mundo ajudou a desenvolver a cidade.
É desde 1984 património mundial da Unesco e desde 2007, o forte e sua arquitetura foram considerados a 4ª maravilha do país. Cartagena de Índias é a quinta maior cidade e um dos destinos turísticos mais famosos do país. Tem dois tipos de clima, dizem-nos os habitantes, quente e muito quente, o que a torna um ótimo destino de praia. A cidade é colorida, pintada de laranja, amarelo e vermelho. Devem reparar nas casas que ainda têm as portas originais, por onde os nobres entravam a cavalo, com os brasões familiares visíveis.
O que fazer:
Free walking tour
Como habitualmente, fizemos o free walking tour. Marcámos no site e recebemos um e-mail de confirmação. O ponto de encontro é dentro das muralhas, junto à torre do relógio. São feitas em dois horários que evitam as horas mais quentes (10:30h e 16:30h). A guia era simpática e prestável. Parámos para conversar com uma palanquera, onde comprámos fruta, fomos ao museu de chocolate, onde provámos tudo o que nos foi permitido, e estivemos numa loja de esmeraldas, onde tínhamos direito a desconto.
Plaza de los Coches
Começou por ser uma praça de venda de escravos, que lhe deu o nome de Plaza del Esclavo, trocado em 1585 para Plaza de Mercaderes, quando os comerciantes tinham as suas lojas no que é hoje o Portal de los Dulces. Também foi chamada de Plaza de la Yerba e de Plaza Equador. O nome atual deve-se à autorização em estacionar os carros em frente ao Portal de los Dulces.
O Portal de los Dulces tem este nome porque era aqui que as vendedoras vinham dos bairros vender os seus doces, como os caramelos. Ainda hoje a tradição se mantém, apesar de nos contarem que algumas receitas foram modernizadas.
Torre del Reloj
Símbolo da cidade e a porta para a cidade velha, é lá que fica a entrada para a Plaza de los Coches. Vê-se de toda a zona exterior da cidade velha.
Plaza de la Aduana ou Plaza Rafael Núñez
Antes da alfândega se encontrar num edifício da praça, esta chamava-se Antigua Real Contaduría, pois os escritórios de decisão da cidade encontravam-se aqui. Em 1894 passa a Plaza Colón, quando é inaugurada uma estátua de homenagem a Cristóvão Colombo. No século XX passa a denominar-se Plaza Rafael Nuñez em homenagem ao antigo presidente, nomeado 4 vezes. O fundador da cidade Pedro de Heredia morou numa mansão nesta praça. A Alcaldía Mayor de Cartagena também fica nesta praça. Durante a nossa visita decorriam cerimónias para comemorar o dia da cidade (1 de Junho), com jantar VIP e concertos. Para os fãs do Hard Rock Café, o edifício é nesta praça.
Plaza San Pedro Claver
Pedro Claver foi canonizado en 1888. Era um grande protetor dos escravos, defensor dos seus direitos, sendo chamado do “escravo dos escravos”. Na praça existe a estátua que lhe dá o nome e a Catedral San Pedro de Claver. Os restos mortais estão dentro da igreja.
Plaza Santa Tereza
O antigo convento, hoje um hotel, dá o nome à praça. Vale a pena subir as muralhas para ver o museu naval e a igreja San Pedro Claver. Têm também aqui charretes que fazem passeios.
Museo Naval
O edifício, de 1785, já foi quartel de prisioneiros e escravos, hoje é partilhado com a Faculdade de Ciências. Nele está representada a história da armada colombiana, desde 1728 até à atualidade. Na Sala Isaac Peral, inaugurada em 2013 noutro edifício, encontra-se o primeiro submarino. A entrada é grátis. Vale a pena visitar para compreender um bocadinho a história naval do país e ver os quadros e réplicas dos barcos.
Em frente ao museu existe uma réplica da Fonte de Canaletas (a original encontra-se em Barcelona). Reza a lenda da fonte original que quem beber a sua água regressará a Barcelona. A réplica foi doada a Cartagena pela cidade de Barcelona em 1999.
Aproveitámos para comprar fruta a uma palanquera, vendedora de rua vestida com trajes coloridos. Há sempre vendedoras de fruta nas ruas, por 3.000COP (85cent.) comprámos um copo de manga com sumo de lima e sal.
Museo del Oro
Abre portas em 1982, pelo Banco de La Republica, com uma coleção de ouro e cerâmica das culturas pré-colombianas. Em 1984 é remodelado com foco na cultura Zenú. Tem ar condicionado, o que torna a visita ideal para as horas mais quentes. A entrada é grátis, mas fecha ao domingo e segunda-feira.
Em frente encontra-se a Plaza de Bolivar,um ótimo local para fugir do sol, pois as árvores dão muita sombra. Vimos aqui um espetáculo de dança típica, durante o Free Walking Tour.
Daqui também se pode ver a catedral da cidade (Catedral de Santa Catalina de Alejandria), que fica na Plaza de la Proclamación.
Palacio de la Inquisicion
Fica na antiga Plaza Mayor, atual Plaza de Bolívar. O edifício é imponente e expõe as ferramentas utilizadas pela igreja para torturar, contando a história do mercado de escravos na cidade. É o Museo Histório de Cartagena das Indias que dá ênfase ao passado e o enquadra no presente, para que seja analisado com os valores que temos nos dias de hoje, por exemplo, em Direitos Humanos. A entrada custa 19.000 COP (5,5€) e no último domingo do mês é grátis.
Plaza Santo Domingo
Perto da Praça Bolivar, é o ponto turístico da cidade. Aqui fica a Iglesia de Santo Domingo, a preferida para quem quer casar. Em frente à igreja ficam vários restaurantes com esplanadas cheios de turistas e prestáveis funcionárias que tentam convencer quem passa a se sentar. É também aqui que está Gertrudis. E quem é a Gertrudes? É umas das mais famosas estátuas de Fernando Botero, artista colombiano de quem falaremos em Medellín, La Gordita. A estátua tem um certo ar erótico, provocatório, e para juntar à festa, tem fama de dar sorte no amor se esfregarem as mamas da Gertrudes. É muito comum ver turistas a esfregar a estátua e a tirar fotografias na esperança de ter mais sorte no campo amoroso.
Ciudad Murallada
No século XVI os espanhóis descobrem em Santa Marta esmeraldas e ouro que enviam para o Reino por Cartagena. A cidade torna-se o centro de ataques piratas ingleses, holandeses e franceses. Os espanhóis decidem construir as muralhas e o forte para proteção da cidade. 11 km de muros envolvem o centro histórico. As muralhas são um belo local para ver o por-do-sol. Nós aproveitámos uma das noites para ir beber um copo ao Café del Mar que fica nas muralhas e, apesar das bebidas serem caras, permite sentir o ambiente da cidade.
Camellón de los Martires
Quando Espanha reconquista Cartagena, torna-se importante mostrar quem manda. É neste local que 9 antigos dirigentes da cidade são executados em 1816. Hoje em dia este espaço está reabilitado e une a cidade velha ao bairro Getsemaní. É um espaço aberto e agradável, que permite ver de longe a cidade muralhada e que se encontra junto ao centro de Convenciones de Cartagena, Muelle del Pégaso e à Bahia de Cartagena.
Muelle del Pegaso
Esta doca liga a cidade velha ao bairro Getsemaní. O seu nome vem das diversas esculturas de pégasos que a decoram. Fica junto ao Centro de Convenções e ao Camellón de los Martires, na direcção do porto turístico. Junto ao porto vêem-se diversos barcos turisticos e privados. Um deles é um bar/restaurante e no outro assistimos, enquanto caminhávamos, a uma sessão de fotos.
Getsemaní
É um bairro moderno, colorido, turístico. Sofreu uma renovação nos últimos anos, sendo a casa de street art da cidade. Bons restaurantes e hostels apelativos voltaram a chamar os cartageneros para o bairro onde a independência foi declarada.
Castillo de San Filipe de Barajas
É a maior fortificação espanhola na América. O “guardián de Cartagena” foi construído em 1536 como Castillo de San Lazaro, para proteção contra os ingleses, sobre o monte San Lázaro, durante o mandato do Governador Pedro Zapata de Mendoza. Foi ampliado, concluído em 1657, e o nome mudado em homenagem ao rei Felipe IV. À entrada tem uma estátua do militar Blas de Lezo, que defendeu a cidade durante um dos ataques.
Há visitas guiadas, com todo o passeio feito a céu aberto, no calor, portanto água e chapéu são imprescindíveis e devem evitar as horas mais quentes. Nós não fomos porque apanhámos dias muito quentes e não conseguimos coordenar a visita com uma hora mais fresca. A entrada custa 27.000COP (7,8€). Fica fora das muralhas, mais afastado da cidade velha, mas a uma breve caminhada, depois do bairro Getsemaní.
Bocagrande
É a península balnear urbana de Cartagena das Índias, um conjunto de edifícios em altura a que os próprios locais apelidam de Little Miami. Ora, nesta altura ainda não tínhamos planos de passar em Miami, mas acreditávamos que Bocagrande deixava muito a desejar. Confirmámos um mês depois, em Miami, que a alcunha não se enquadra de todo. As praias não são grande coisa, apesar de serem caribenhas, e o ambiente também não é o melhor. O potencial existe, a água está à temperatura de um jacuzzi, mas é suja, sem a cor azul turquesa que se encontra 30km a sul, no arquipélago de Rosario. A avenida marginal, o passeio alegre do lado do mar, não faz jus aos edifícios, privilegiando o trânsito automóvel ao invés dos peões e velocípedes. Existem constantemente obstáculos nos passeios, desde calhaus, postes partidos, a simples amontoados de lixo. Fomos do centro até Bocagrande a caminhar, nas calmas. Assim que começámos a passar os hotéis, muitos vendedores começaram a rondar-nos, muita gente a chamar para vender guarda-sóis, cadeiras de praia, refeições, e até droga. Nunca foram antipáticos, mas foram insistentes e aborrecidos.
Não nos parece difícil transformar Bocagrande numa zona agradável de praia. As grandes cadeias de hotéis já lá estão, como a Hilton e a Sheraton, mas as praias têm que ser concessionadas para que a qualidade melhore. Nós acabámos por ficar na praia em frente ao Hilton, por ter funcionários e estar mais vazia, e experimentámos stand up paddle num bar de praia próximo, depois de muito negociar o tempo com a prancha e o cacifo para nos guardarem as coisas. Conclusão: não temos jeito nenhum para SUP.
Islas del Rosario
Este arquipélago tem direito a artigo separado, para vos contar a peculiaridade que foi a visita. Não percam aqui.
Onde comer:
No centro histórico ou no Getsemaní boas alternativas não faltam, para todos os bolsos.
- Gelados é na Yoga You, gelataria de um português.
- Café San Alberto, para o café
- Chocomuseo para o chocolate
- Delicias del Mar, no Shopping junto ao Castelo de São Filipe, para refeições baratas
- Bohemiano, restaurante para quem quiser uma refeição de alta qualidade.
- Bazurto Social Club, junto ao Parque Centenario em Getsemani, lugar de eleição de Gabriel García Marquez
Para quem quer festa há as Rumbas Chivas (35.000COP), uns autocarros onde há música e bebida. Não é bar aberto, há um limite no número de bebidas. Acabam à porta de uma discoteca. Nós fomos só ao Café del Mar, que tinha bailarinas, daí o preço das bebidas ser inflacionado.
Onde dormir:
Nós ficámos numa espécie de airbnb bastante afastado do centro, que não recomendamos. O quarto não era mau, a cozinha era bem equipada, mas a vida da senhora que toma conta do apartamento entristeceu-nos profundamente. A localização do alojamento também obrigava-nos a andar de táxi após anoitecer.
O limite da localização da estadia deve ficar no bairro Getsemaní, que ainda permite uma caminhada segura à noite até ao centro histórico e é mais barato que o centro.
Achámos piada a toda a gente conhecer as ruas pelos seus nomes, mas depois elas aparecerem no Google Maps pelos números, coisa que dificulta imenso a localização.
Para viajarmos para Medellín fomos de táxi novamente para o aeroporto, mas negociando quanto custaria a viagem antes de entrar no táxi.
365 dias no mundo estiveram 3 dias em Cartagena, de 2 a 5 de Junho de 2017
Classificação: ♥ ♥ ♥ ♥ ♥
Preços: barato
Categorias: cidade, cultura, história, gastronomia, praia
Essencial: Castillo de San Filipe, Ciudad Murallada, Museo del Oro, Plaza de los Coches, Plaza Santo Domingo, Plaza de la Aduana, Museo Naval, Getsemani, Muele del Pegaso
Estadia Recomendada: 5 dias
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