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ESPELHO MEU, ESPELHO MEU, NESSE REFLEXO SOU EU?

Olhamos um para o outro e vemos que temos que chegue para ser felizes. Sentimos saudade, mas temos sede de aventuras

A Raquel e o Tiago são os mesmos que eram a 8 de fevereiro quando saíram do Porto rumo a São Paulo? Sem dúvida que não.

A Raquel contínua ser ansiosa, a gostar de conforto, a sonhar com casas de banho em que o chão brilhe, mas já consegue ficar calada quando odeia um hostel. Os padrões de qualidade continuam lá no alto, mas já sabe viver no razoável.

O Tiago continua a ficar com tremores quando a Raquel diz que prefere um quarto privado, mas já consegue gastar dinheiro num sumo natural.

Reconhecemos o que Portugal tem de bom, sabemos que Angola foi o nosso lar, mas já nos vemos a trabalhar em qualquer parte do mundo. 

Somos os mesmos, mas ao mesmo tempo já não somos. Sabemos aproveitar pequenos momentos, regatear souvenirs, manter uma conversa em três línguas, escrever um blog. Reconhecemos o que Portugal tem de bom, sabemos que Angola foi o nosso lar, mas já nos vemos a trabalhar em qualquer parte do mundo. Temos muito mais conhecimento em cima, conhecemos vários animais no seu habitat natural e sabemos o que está por trás da foto perfeita que as agências de viagem nos mostram em catálogos.

reflexo
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Dançamos à chuva e não em discotecas, dormimos em autocarros como se fosse um colchão, comemos o que houver, metemos conversa com desconhecidos, damos boleia à beira da estrada, veneramos um bom café, entregamos o passaporte nas fronteiras como quem compra bilhete para uma nova aventura, nadamos com leões marinhos como brincamos com o Ginguba (o nosso yorkshire terrier). Escorregamos na lama, penduramo-nos em lianas (true story), saltamos em queda livre, olhamos especados para árvores, maravilhados com as técnicas de equilíbrio dos primatas.

Escrevemos o que fizemos para não esquecer os cheiros, as cores e os sabores. Distribuímos sorrisos para receber de volta. Confiamos no desconhecido, mas trancamos o que é nosso. Continuamos a ter sangue quente, a afastar quem não nos quer bem, mas aprendemos a refrescar as emoções em mares azul turquesa e a aproximar quem vem por bem. Trocamos contactos com pessoas que mal conhecemos.

Olhamos um para o outro e vemos que temos que chegue para ser felizes (…) Sentimos saudade, mas temos sede de aventuras

Fisicamente voltámos mais magros e dourados, mas saudáveis. Seguimos menos padrões de beleza, barba, depilação, sobrancelhas fazem-se quando o tempo sobra e não quando seria esperado. Temos pernas e braços cheios de marcas de guerra, que tanto podem ser arranhões de caminhadas ou mordidas de mosquitos. Festejamos os nascimentos, aniversários, conquistas, gravidezes dos nossos amigos. Lamentamos as perdas. Pedimos desculpa pela ausência e distância, mas convidamos todos a encurtá-la vindo até nós e vendo as cores, os cheiros, os sabores com que se desenha o outro lado do mundo. Desculpamos a falta de visitas dos nossos, compreendendo que o português não gosta de viajar com uma mochila para o desconhecido, mas invejamos os alemães, franceses, irlandeses, americanos e suíços, que reencontram amigos de casa a partilhar um novo destino. Olhamos um para o outro e vemos que temos que chegue para ser felizes, que tudo o que tínhamos antes é acessório. Sentimos saudade, mas temos sede de aventuras.

Aprendemos que ser turista não é só lucro para quem recebe. Vemos a poluição, a invasão, o tocar no selvagem. Vemos que há o que ensinar e o que aprender. Descobrimos que por trás de uma paisagem de sonho há sempre um preço alto que a natureza paga para ser vista e partilhada. Fazem-se apropriações culturais na procura de intrusão.

Espelho meu, espelho meu, nesse reflexo sou eu? És sim, mudaste, mas foi para melhor. O que vês é o brilho da felicidade, o sol pintou-te de dourado e as caminhadas retiraram o peso do stress que trazias.

reflexo

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2 respostas

  1. Adoro viajar…. Raquel nunca me vou esquecer que a 1a vez que viajei sozinha tinha 17 anos, e a 1a vez que fui conhecer a aventura tinha 21 anos. Aí nunca mais ninguém, me segurou. Conheci tanta gente, que desconfio que “conheço” alguém em algum canto do mundo
    E concordo quando dizes mudamos, mas sempre para melhor. Conhecer o desconhecido, e ser feliz com pouco e de imediato. Adoro o vosso Blog, admiro a coragem e a “paciência” para o descreverem pois, é um grande trabalho. Boa sorte na vossa jornada de quem vos admira muito.
    Eugénia

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