SEGURO DE VIAGEM: UMA NECESSIDADE OU UM LUXO?

Quantos de nós pensamos duas vezes na hora de fazer um seguro? Será que vale o investimento? Já somos obrigados a fazer tantos (quando compramos casa e carro) será que faz assim tanto sentido viajar com seguro?

Somos daqueles casais que acumulamos uma infindável bucket list de sítios onde gostaríamos de ir e coisas que gostaríamos de fazer, e estamos constantemente a tentar tirar alguns desses sonhos/desejos do papel. Algumas coisas são mais inacessíveis, outras mais perigosas. Será que faz sentido pensar no seguro de viagem, gastar esse dinheiro?

A viagem que deu início a este blog foi, sem dúvida, uma grande experiência de vida. Cinco meses a percorrer grande parte da América latina, a subir montanhas, percorrer trilhos, experiências gastronómicas, grandes doses de conversas com desconhecidos, nadar em lagoas de água gelada e termas quentinhas, fazer rappel sobre uma floresta tropical, enfim, uma listagem infindável de experiências fantásticas. E a essa lista já acrescentámos mais algumas a não perder, se algum dia voltarmos à américa latina.

Aprendemos que a vida não tem de funcionar sempre das 9 às 5, que nem toda a gente tem de ter um emprego normal e que somos nós que traçamos o nosso futuro. Aprendemos, por outro lado, que não precisamos todos de viajar de mochila às costas durante mais de um ano para que essa viagem tenha mais valor, que é normal não gostar de dormir em dormitórios, partilhar quartos de banho, ou cozinhar num sítio imundo. Que os países não precisam de ser conhecidos de lés a lés, que não precisamos de atravessar todas as fronteiras a pé ou de fazer a viagem da forma mais difícil para que isso nos torne verdadeiros viajantes. E é tão bom conhecer 10 países como 120. Aliás, até ficamos com algumas reservas em relação à postura de “pronto, já pus um pé na cidade principal, este país está mais que conhecido, posso riscar”.

Mas somos todos diferentes, e adoramos conhecer pessoas a quem um sítio onde dormir basta para chamar de lar e que podem viver um mês a sandwiches de atum ou ovos mexidos. Achamos imensa piada a quem considera a prancha de surf a parte mais importante da sua bagagem e escolhe os destinos pela qualidade das ondas. Ouvimos deliciados histórias de quem fez México-Panamá de bicicleta. E não julgamos quem prefere dormir de dia e palmilhar as cidades quando o sol se põe.

Temos alguma inveja de quem viajou com um orçamento maior que o nosso e conseguiu fazer coisas que para nós foram inatingíveis. Nós somos pessoas que preferem comer em restaurantes em vez de cozinhar, para conhecer a gastronomia local, dormir em quartos com quarto de banho privativo, conhecer a história da cidade e viajar num autocarro confortável que permita uma bela noite de sono. Se é possível viajar com estas premissas? Claro! É barato? Nem por isso. Então, como fazemos? Tentamos encontrar um ponto a meio do caminho.

Descobrimos que, na américa latina, o mercado dos dormitórios é muito melhor que dos quartos privativos (económicos). Então, em cidades onde temos muito que fazer durante o dia e em que o quarto será só para dormir, optamos por dormitórios, como em Bocas del Toro, Punta Ballena, etc. Descobrimos que os pequenos-almoços da maioria dos alojamentos são fracos e quando este se destaca os viajantes escrevem sobre isso nas reviews, portanto só nesses casos é que optamos por alojamento com pequeno-almoço. Não saímos muito de noite, por isso escolhemos alojamentos que sejam mais perto de atrações diurnas, como museus, parques, etc. Tentamos atravessar as fronteiras da forma mais confortável e mais simples possível porque sabemos que são troços sensíveis. Preferimos uma viagem única de autocarro do que uma combinação autocarro+van+atravessar a pé+van+autocarro. Não temos comportamos arriscados, como mexer no telemóvel na rua, andar a pé sem questionar a segurança do bairro, mostrar muito dinheiro, fotografar indiscriminadamente expondo o nosso equipamento, não balançamos os nossos passaportes ou os pousamos em sítios fora da nossa vista, nunca abandonamos em simultâneo as mochilas, não deixamos os funcionários dos restaurantes saírem de junto de nós com os nossos cartões de crédito, etc.

E no que se refere à saúde? Temos um seguro de viagem. Sabem quanto custa ser evacuado? Muito dinheiro, sabemos pelos nossos anos em Angola que uma evacuação médica pode tornar uma estadia calma num grande pesadelo e colocar facilmente o plano de uma vida em causa. Para já, porque a evacuação não se faz de forma leviana, o que quer dizer que falamos de uma verdadeira emergência, e pelo preço exorbitante que tem. E não é preciso ir tão longe, um internamento ou uma cirurgia de urgência podem-nos criar uma enorme dívida, bastando estar num país em que a saúde não é grátis ou os cuidados públicos não têm qualidade. Se na Argentina, por exemplo, isso não será um problema, porque todos têm direito a cuidados de saúde gratuitos, já nos EUA falamos de um grande pesadelo.

O nosso seguro de viagem foi contratado a pensar não só em questões médicas, mas também em questões de segurança, como roubo de documentos ou extravio de malas. Sabemos que em caso de extravio de malas num voo as companhias são responsabilizadas, mas também sabemos que o processo de reembolso de gastos e bens perdidos pode ser demorado. Sabemos, caso nos roubem os documentos, que a embaixada portuguesa, ou qualquer uma da união europeia, nos dará apoio, mas também sabemos que são processos cheios de burocracia. Aliás, temos experiência com os serviços consulares portugueses e sabemos que são péssimos (se algum funcionário nos lê, lamentamos muito, mas é a opinião da maioria dos portugueses que já necessitou dum consulado). Também é do conhecimento público que, caso os nossos cartões de crédito sejam clonados, os bancos têm de nos ressarcir, mas que tentarão ao máximo atrasar o reembolso, e também sabemos isto por experiência própria (obrigado Santander Totta pelos cinco meses à espera da devolução do nosso dinheiro gasto a comprar peixe congelado e bilhetes para jogos de futebol, no Brasil). Hoje em dia usamos muito mais o nosso revolut que os cartões dos bancos físicos.

Os imprevistos acontecem e são o que dão cor ao relato quando regressamos. Coisas que nos fizeram perder a cabeça quando aconteceram, hoje são motivo das gargalhadas quando contamos aos amigos.

Para que meses depois apenas nos provoquem gargalhadas, estes problemas têm de ter sido resolvidos de forma rápida. Por isso, para nós, é impensável viajar sem seguro de viagem. Durante os cinco meses viajámos com um da World Nomads. Não sabemos dizer por experiência própria se o nosso seguro é mesmo bom porque, felizmente, nunca o acionámos. Lemos relatos de quem teve de usar e diz que tudo correu bem, como o Filipe Morato Gomes, que teve de interromper uma viagem por doença de um familiar e todas as despesas foram pagas. É o maior seguro de viagem e engloba na apólice atividades que muitos excluem. A nossa queixa é na proteção de equipamento eletrónico, aumentando muito o custo para englobar coberturas mais elevadas. É muito fácil viajar com mais de 3.000€ em equipamento de fotografia e vídeo e um teto de 1.000$ é muito curto. Também achamos pouco flexível em viagens de longo curso, como as de um ano. Agora encontrámos outra solução, chegou a IATI a Portugal e para além de ser mais barata que a WN inclui apólices mais adequadas ao tipo de viajante mochileiro. Somos parceiros, e connosco têm 5% de desconto no vosso próximo seguro. É só clicarem no link ou preencherem o quadro abaixo e fazerem a simulação. 

Iati seguros

Também usamos o seguro dos nossos cartões de crédito, principalmente para englobar os nossos documentos pessoais. Não fazemos os seguros extra das companhias aéreas porque as coberturas estão englobadas no seguro de viagem. E fazemos sempre seguro sem franquia quando alugamos carros. Achamos comparável a estacionar em Lisboa e não utilizar o parquímetro. Digamos que por 4,80€ (2h numa zona vermelha) poupados, pode-se vir a gastar mais de 100€ para desbloquear o carro. Quando queremos ir à água em simultâneo prendemos a mochila a postes ou árvores, com cabo de aço e cadeado. E mesmo nos free walking tours passeamos com as mochilas fechadas a cadeado/aloquete. Sabemos que quando tudo nos corre bem o seguro tem um gosto amargo no regresso. Pensamos no que podíamos ter feito com aquele dinheiro, mas deve ser visto como um investimento e não uma despesa.

Na Europa (UE, Suíça, Noruega, Lichtenstein e Islândia), para um cidadão de um estado membro existe uma alternativa mais barata a um seguro de saúde internacional, que obviamente não funciona como um seguro de saúde: o cartão europeu de seguro de doença. É emitido com uma validade de três anos e permite que sejam atendidos em hospitais públicos dentro do espaço europeu pagando o mesmo que um nacional ou tendo direito a reembolso no regresso. Também temos tido a sorte de nunca ter sido preciso, e temos de confessar que há muito tempo que não fazemos nenhum porque não éramos residentes em Portugal. Mas para a nossa temporada na Europa será indispensável. É feito na INSS, pode ser pedido pela internet ou ao balcão. Fizemos os nossos no balcão Espaço Cidadão. O cartão vem para casa em cerca de 10 dias, mas fica válido na hora, bastando apresentar o recibo do pedido.

Vale a pena fazer um seguro? Nós dizemos que sim. Preferimos chorar o dinheiro que gastámos do que chorar pela desgraça a resolver.

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