Saímos do Panamá por Guabito, como vos dissemos aqui. Atravessámos a ponte sobre o rio Sixaola, vendo à nossa esquerda a ponte antiga, que está fechada. Dirigimo-nos à migração da Costa Rica, um edifício do lado esquerdo, e, após a pergunta-tipo do tempo previsto de permanência, carimbam o passaporte – fácil! Lá, a fila era pequena e o edifício também. A entrada é feita de forma lenta, não gostam de ter muita gente a aguardar dentro.
O nosso serviço de shuttle trocou de carrinha (van) aqui para uma agência de viagens nacional, que esperava por nós do lado direito. O resto da viagem é feito sem sobressaltos, até Puerto Viejo, uma cidade chave para os surfistas. A paisagem é forte em bananeiras, ou não estivéssemos a cruzar zonas de produção em massa.
Puerto Viejo é uma boa paragem para viajantes: tem costa, ondas e é animado. O hostel Selina pareceu-nos bastante bom, onde deixámos alguns companheiros de viagem. Aliás, vamos ver esta cadeia de hostels várias vezes. Depois de nos deixarem junto ao local de onde parte o autocarro (ônibus) para San José comprámos o bilhete e fomos tomar o pequeno-almoço à beira-mar, de onde vos fizemos o direto para o facebook. Bela praia, não é?
Há outras alternativas para entrar pelo Panamá, como a fronteira de Paso Canoas, a sul. Os autocarros partem de David ou da Cidade do Panamá (Ticabus ou Expreso Panama). A escolha da fronteira terá sempre a ver com o vosso ponto no mapa. Apenas se sai por Guabito se estiverem em Bocas.
Sair da Costa Rica
Lembram-se de contarmos que somos uns sortudos? E somos, escapámos de sismos (Chile), ataques em shoppings (Bogotá), barcos turísticos que afundam (Guatapé), assaltos, etc, mas desta vez temos de confessar que não nos preparámos como deve ser para a saída da Costa Rica. Já estamos mais relaxados e já nos deixamos quase levar ao sabor do vento. Tínhamos pensado partir para Nicarágua só no dia 2, mas a existência de autocarros dia 1 fez-nos pensar em ir nessa noite. Primeiro, houve o apagão em San José, quase digno dos de Angola, mas como não há geradores o impacto torna-se maior. Tudo fechado, tudo sem luz, apenas o Starbucks tinha eletricidade. Quando abandonámos o Starbucks às 20h já a cidade tinha mudado, ficou escura e com as lojas fechadas. Decidimos que o ideal era ir táxi até ao terminal e jantar por lá. Quando passámos por lá para deixar as mochilas, reparámos que tem um andar só com restaurantes. Mais uma vez, fiasco total, já estavam todos fechados. Conseguimos encontrar uma loja de conveniência aberta e jantámos tostas com queijo de barrar. Porque não saímos à procura de um lugar para jantar? Bem, porque as ruas à noite ficam muito manhosas, com vendedoras de amor por toda a parte. O próprio terminal não tem ar de ser muito seguro e éramos dos poucos lá dentro. Apesar do aspeto noturno de San José, continuamos a confiar que seja das capitais mais seguras da américa do sul.
Viajámos na Nica Expreso, que nos permite fazer o check-in antecipado para passearmos pela cidade sem as malas, e pagar a taxa de saída da Costa Rica (8 USD). A parte gira é o recibo dizer 7 USD. O embarque é estranho: saem dois autocarros para o mesmo destino e é preciso estar sempre a confirmar qual é o veiculo certo. A fila de embarque é grande e o terminal acaba por não ter grandes condições. O autocarro em si não é mau, mas o que acontece na fronteira não faz o mínimo sentido. Sem querer fazer falsas acusações, quase que parece uma combinação entre todos, de tão estúpido que é o sistema. Saímos do terminal já depois da meia-noite (autocarro das 23:50h) e passava das 4h da manhã quando chegámos à fronteira, que só abre às 6h. O método é o seguinte: no autocarro dão-nos os papéis todos, o motorista manda preparar o passaporte e sair em grupo. Deixa claro que não nos devemos deixar ficar para trás, mas não explica porquê. Pois, porque às 4h da manhã o caminho é escuro e há quem goste desta passagem para assaltar pessoal, na esperança que haja quem atravesse a fronteira carregado de dinheiro. No nosso autocarro foi uma senhora assaltada. Ainda tentou lutar com o rapaz, houve até um senhor que a ajudou, mas o grupo que ia atrás não se quis meter e ela ficou sem o passaporte, em plena fronteira. A caminhada desde o local onde o autocarro nos deixa até à migração demora cerca de 20 minutos, numa estrada pouco iluminada. Chegados ao edifício, há gente com almofadas e mantas, bancos e gente deitada no chão a dormir. Demorámos um pouco a perceber o que se passava ali, cerca de vinte minutos depois lá nos apercebemos que o pessoal está todo sentado porque vamos esperar hora e meia à porta, sem casas de banho abertas, até os serviços abrirem. Isto faz algum sentido? Permitir que os autocarros despejem passageiros horas antes da abertura da fronteira de Peñas Blancas, saber que é uma zona de assaltos e não ter a estrada vigiada por polícia? É tão fácil contornar isto, basta não haver viagens noturnas. Invejamos as pessoas que se conseguem deitar em qualquer lado e dormir, mesmo com o mau acordar dos macacos às 5h da manhã, que reclamam durante mais de 20 minutos. Nós também começamos a ficar rabugentos, ao mesmo tempo que pensamos no erro que foi não ler sobre esta fronteira.
Pior, só estamos do lado da saída da Costa Rica, ainda vai faltar o processo de entrada na Nicarágua, do outro lado da fronteira. Mas somos sortudos, podíamos ter sido nós os assaltados.
O dia amanhece, o edifício abre. A fila agora está enorme, com o acumular de autocarros a chegar. Mais um reparo rabugento: alguém acha inteligente dar prioridade a toda a gente com crianças pequenas ou idosos, independentemente do autocarro onde seguem? Vemos dezenas de pessoas passarem à frente porque são prioritários, para depois ficarem à espera no seu autocarro pelos restantes passageiros, que não sendo prioritários, continuam no fim da fila. Esperamos que alguém um dia tenha a coragem de explicar aos serviços de migração que seria mais inteligente a entrada ser feita por autocarro, despachando um veículo de cada vez.
Aquele momento em que conseguimos entrar no edifício foi um alívio, apesar de ainda termos muita gente à nossa frente. O processo de carimbar o passaporte é rápido e seguimos para o autocarro, porque ainda falta a entrada na Nicarágua.
Conclusão: atravessar durante o dia, em autocarro diurno!!!
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