Não era um destino consensual entre nós. A Raquel queria muito ir, o Tiago nem tanto. Acaba por não circular muita informação sobre o país, apenas sobre os maus acontecimentos. E há algumas dúvidas quanto à segurança na Turquia. Ouvimos todos falar sobre o golpe de estado, nas frases do presidente, na preocupação com a fronteira com a Síria e, já depois de voltarmos, sobre o assassinato do jornalista dentro da embaixada da Arábia Saudita. 2016 foi um ano difícil para o país e a memória das pessoas ainda recorda o ataque em Istambul, caças a rasgarem os céus e tanques nas ruas numa tentativa de retirar Erdogan do poder. O que foi feito pelo presidente para controlar a instabilidade do país não é consensual, mas, no que toca ao turismo, o país está bastante calmo.
Várias pessoas mostraram-se preocupadas com a nossa escolha, nós ouvimos, mas não desistimos. Por outro lado, também por diversas vezes já nos tinham “vendido” este país. A descrição mais pormenorizada foi de um animador turco durante a nossa lua-de-mel. Fizemos snorkeling com ele quase todos os dias e nos intervalos dos programas de animação pós-jantar lá íamos conversando. Falou-nos muito bem do seu país, mas também nos contou que tinha feito o serviço militar e desistido de viver na Turquia devido ao rumo político do país, sentindo que estava numa guerra que não era dele. Hoje, conhecendo o país, faz todo o sentido que ele fosse o animador de um desporto aquático. Sempre deixou claro que a segurança na Turquia era uma não questão.
A Turquia faz fronteira com a Grécia, Bulgária, Geórgia, Arménia, Síria, Iraque e Irão, e com os mares Mediterrâneo, de Mármara, Negro e Egeu. Se, por um lado, a fronteira com países europeus encoraja a quererem fazer parte da União Europeia, por outro, não se pode negar que são um país com uma cultura e população claramente muçulmana. As mesquitas são uma componente forte das cidades, mas são tolerantes. Acabamos por sentir uma maior abertura do que, por exemplo, no Dubai. Como turistas, sentimos que temos mais liberdade e menor imposição de regras do que nos Emirados Árabes Unidos. Em termos de segurança estão provavelmente equiparados.
É preciso visto, não há livre circulação de pessoas, o que acaba por reforçar a segurança na Turquia, apesar de ser um visto fácil de obter, tanto electronicamente como à entrada. Este último é 5€ mais caro.
A nossa experiência:
Se pensarem bem, quase todos nós conhecemos alguém que foi de férias ao país nos últimos dois/três anos e conta como correu tudo lindamente. Claro que a maioria não faz um percurso como o nosso, contentando-se com uma ou duas cidades, enquanto nós fomos a mais de dez. Sobre seguranças na Turquia propriamente dita, nunca nos sentimos inseguros. Andámos muito a pé, de dia, de noite, com coisas de valor nas mochilas e até na mão. Nós somos bastante cuidadosos e evitamos sair à noite se o local não nos deixar à vontade. Tal não aconteceu em nenhuma paragem e acabámos por percorrer 9 cidades diferentes à noite. Nem no dia da chegada, em que fomos parar a uma estação totalmente desconhecida e sem saber como chegar ao nosso hotel, nos sentimos olhados de lado. Isto deve-se talvez ao forte turismo interno. Há um turismo doméstico muito grande, os turcos têm uma fisionomia muito variada, tanto são morenos como loiros, e nós não nos destacamos (principalmente o Tiago barbudo).
Não ligam muito a turistas, a não ser que estejam a vender algo. Há muita polícia na rua, as ruas mais turísticas e de acesso a monumentos estão barricadas e há veículos blindados em algumas praças, como na de Hagia Sofia e no antigo hipódromo. Em todos os monumentos, atrações ou locais de alta concentração de pessoas, os nossos pertences passam pelo raio-X e as pessoas passam por um detetor de metais. A polícia utiliza drones, radares e operações STOP frequentes (passámos por mais de duas dezenas de operações). Nós fizemos mais de 3.000km de carro e só fomos parados uma vez, com uma verificação da carta do Tiago recorrendo a um tablet.
Atenção, não andámos em tours, fizemos tudo por nossa conta, e correu tudo bem.
Se (não) pode ser considerado um país instável? Não dominamos política internacional para respondermos a essa questão, mas a nossa perceção foi muito positiva. A população demonstra reconhecer o valor do turismo para a sua economia e preocupa-se em receber bem. A segurança na Turquia, principalmente nas regiões turísticas, é uma preocupação nacional.
Sabemos que a política é mutável e o paradigma pode mudar. É uma questão de estar atento, para tal recomendamos estas listas governamentais, válidas para qualquer país que visitem:
- Foreign Travel Advice UK – “British nationals made over 1.6 million visits to Turkey in 2017. Most visits are trouble free.” – 1/11
- Travel Advisories USA – “Reconsider travel to Turkey due to terrorism and arbitrary detentions. Some areas have increased risk.” – 28/6
Se nos perguntarem, sentimos uma forte preocupação com a segurança na Turquia, o que nos fez sentir seguros, apesar do aparato poder causar algum desconforto a pessoas menos habituadas a polícia/militares armados.
365 dias no mundo estiveram 15 dias na Turquia, de 30 de setembro a 14 de outubro de 2018
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