Fala-se muito das coisas más que acontecem a portugueses em Angola, fala-se muito da vida que quem trabalha em Luanda faz nas suas férias em Portugal, mas o que é que Luanda tem?
Tem um português em cada esquina, de fato ou de roupa mais descontraída, e com ar de que sofre com o calor húmido da cidade.
Tem uma criança que dança e sorri descalça, sem música, mas com o ar mais feliz que a simplicidade pode dar.
Tem um angolano que nos chama de tia ou madrinha, ou cota, enquanto nos pede uns cem para nos ajudar a levar as compras para casa, num quarto andar sem elevador.
Tem paracuca em saco, ginguba torrada ou banana assada num braseiro, vendidas na rua. Tem boa comida e bons restaurantes. Tem boa cerveja (ou birra), a cuca.
Tem uma mãe com um pano enrolado à cintura, uma criança às costas e uma bacia na cabeça com abacates, mangas, tomates ou bananas.
Tem um candongueiro com um cobrador de janela aberta a gritar o destino “Mutamba! Mutamba!” Ou “Zango II”.
Tem uma moça que passa a vender roupa ou sapatos, ou um rapaz que vende saldo de telemóveis. Querem Unitel ou Movicel?
Tem Range Rover, Hyundai ou Toyota. Tem i10, motas ou 4×4.
Tem barulho de gerador porque a luz faltou outra vez. Tem também a cantiga da bomba de água para ajudar a ter pressão no quarto andar sem elevador.
Tem brigas, porque aquele “wi já está chupado”.
Tem um estrangeiro a beber água tónica em esforço, porque acha que assim não apanha paludismo, mas tem também um “pula” integrado, no terceiro gin com água tónica.
Tem uma fila (ou uma bicha) num serviço público ou num banco.
Tem alguém que grita “moço, me ajuda só”.
Tem malas LV ou Gucci falsas, mas também tem as verdadeiras.
Tem passeios na marginal, caminhadas ou corridas.
Tem música: kizomba, tarraxinha ou kuduro. Tem sunset, festa de quintal ou boda.
Tem buzinas, gritos, gargalhadas, choro, travagens a fundo, apitos de polícia.
Tem nascer do sol e pôr do sol vermelho africano.
Tem a Luanda do tempo do colonizador e a Luanda moderna, onde edifícios antigos contrastam com os novos.
Não tem makas, tem cambas, e podia haver mais kumbu.
Tem gente feliz e gente contrariada, tem honestidade e corrupção, tem amor e tem violência.
Tem amigos verdadeiros e falsos amigos, principalmente entre os imigrantes.
Tem contrastes. É Luanda!
365 dias no mundo viveram em Luanda de junho de 2012 a dezembro de 2016
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