O norte da Islândia é a região onde primeiro chega a neve e esta região acaba por ter uma paisagem muito uniforme na altura do ano em que visitámos – outubro-novembro. Imaginamos que este cenário se mantenha até meados de abril. As montanhas exibem-se com a sua vegetação rasteira salpicada de branco, escondendo os tons naturais das montanhas.
Sempre que se fala em viajar pela Islândia fala-se em Ring Road ou Route 1, a estrada principal que contorna a ilha desde Reykjavik. As atrações mais reconhecidas estão perto desta estrada e, geralmente, é circulável todo o ano. Quem tem mais tempo disponível acaba por procurar também atrações “fora da caixa”, menos turísticas. Uma opção passa por conhecer as povoações costeiras do norte. Falamos da Arctic Coast Way. Esta estrada abriu “oficialmente” em junho de 2019 e oferece 900km de estrada junto ao Círculo Ártico. Não tínhamos lido nada sobre esta nova rota antes da nossa viagem, e não a seguimos, mas lemos um artigo de um blog de viagens que conhecemos e acabámos por procurar mais informações (já em Portugal). O texto dos Wise Travellers é a forma ideal de saberem mais sobre a Arctic Coast Way, por isso não vamos falar muito nela. É uma rota que a Lonely Planet já colocou no Top 10 na Europa e uma oportunidade para conhecer pequenas aldeias, natureza e a cultura islandesa, seja verão ou inverno.
O que fazer:
Icelandic Seal Center: chegámos de noite ao alojamento em Hvammstangi, e só no dia seguinte vagueámos pelo centro, à procura de uma bomba de combustível. Encontrámos logo o museu. Como vêem na foto, tinha nevado e estava fechado. Aproveitámos então para espreitar a costa nas traseiras e acabámos por ver uma foca ao longe. É um museu familiar, para todas as idades. Custa 1100 ISK e abre das 10h às 15h no inverno, e das 9h às 16h no verão.
Hvíterkur: parece um rinoceronte, ou um dragão, as opiniões divergem. De verão é possível descer em segurança do miradouro até lá. No inverno, a alternativa é percorrer a praia, mas a distância é muito maior. É mesmo o que se vê, uma rocha numa praia, mas com uma forma diferente.
Kolugljúfur Canyon: de inverno, faz lembrar uma cena de GOT ou de Frozen. Apesar de a água correr, parte fica gelada. A estrada passa por cima do desfiladeiro. Estacionem num dos lados e passem dos dois.
Bogarvirki: uma antiga fortaleza no topo de uma montanha. É uma estrutura de formação natural, aproveitada pelos homens para que fosse utilizada como forte. Apesar de sobrarem apenas algumas ruínas, vale pela vista fenomenal.
Blönðuós Black Church: é uma igreja contemporânea no meio de uma cidade de passagem, desenhada por Maggi Jónsson. Muito bonita, destaca-se das igrejas islandesas tradicionais e vale a pena sair do carro para dar uma volta pelo seu exterior. Se a virem coberta de neve não estranhem, foi construída de forma a que esta “se agarre” às paredes e mude o aspecto visual entre as duas estações. A cidade é simpática e tem supermercados onde se podem abastecer. Aqui percebemos pela primeira vez que se pagava taxas nos ATM’s, mesmo com Revolut.
Viðimyrarkirkja: uma das igrejas mais antigas do país, ainda com os telhados relvados (em turfa). Tal como em muitas outras no país, o cemitério fica nos terrenos que envolvem a igreja. A vantagem que o norte tem é que muita gente dispensa alguns pontos de paragem. Aqui tivemos a sorte de sermos os únicos visitantes.
Saurbæjarkirkja: fica em Eyjafjörður, perto de Akureyri, e também tem o telhado relvado. Pertence ao Museu Nacional e tem 60 lugares, a maior igreja preservada do género.
Grafarkirkja: a igreja católica mais antiga do país. “Aqui” aconteceu-nos uma coisa engraçada. Quando marcámos isto no mapa ficou marcado noutro lugar (no sul da Islândia). Quando chegámos ao “spot” era uma igreja normal, onde estava a decorrer um funeral. Um engano infeliz, mas que nos traz mais um história. Acabámos por nos envolver na comitiva de gente que estava a chegar para o funeral e optámos por ficar algum tempo no estacionamento a aguardar que este começasse, para podermos sair mais sorrateiramente.
Hofsós Sundlaug: é uma piscina infinita municipal, construída na encosta sobre o mar, com vista para a ilha de Drangey. Custa 1000ISK e o horário varia consoante a época do ano.
Dalvik: uma cidade ponto de partida para ver baleias. Falámos nessa experiência aqui, e foi espetacular. Nós escolhemos outra cidade como nosso ponto de partida, e pouco vimos, excepto o percurso. É uma pequena cidade costeira.
Akureyri: É uma das maiores cidades do país, sendo conhecida como a capital da região norte. Sabíamos que a piscina pública era boa e foi a nossa primeira experiência nas piscinas. A cidade tem uma bela igreja e, aparentemente, os melhores, ou mais famosos, gelados da região. O gelado é um símbolo do país. O islandês adora comer gelados em todas as ocasiões, mesmo durante o inverno, caso contrário não teriam muitas oportunidades. Aqui vagueámos minutos, dezenas deles, à procura da aurora boreal, mas nada. No entanto, em contrapartida, descobrimos a cidade de noite, guiados pelas luzes das casas de quem lá vive, e acabámos por chegar à estância de ski de Hlíðarfjall. Podem ver no site os preços e outras estâncias que fazem parte do passe.
Laufás Museum: dizemos já, nós não fomos, porque que só abre de maio a outubro. É um museu importante para conhecerem a cultura local. As casas estão decoradas como no século XIX. No verão, há póneis e artesãos locais. Existe também uma igreja com o telhado típico original.
Goðafoss: há cascatas no país espetaculares, mas esta é das mais impressionantes. São 30 metros de comprimento, onde a água do rio Skjálfandafljót cai de uma altura de 12 metros. A cascata dos deuses recebeu as estátuas pagãs, quando Þorgeir Ljósvetningagoði declarou o país como católico. Esta cascata faz parte do Diamond Circle.
Husavík: a capital de observação de baleias. Tem um museu onde se vê o esqueleto de uma baleia azul de 22 metros. Nós não fomos, já vimos esqueletos no Chile (spoiler: tentámos ir a Dettifoss, por isso não fomos à cidade). Vimos na internet que a baía permite observar 23 espécies de baleias e os papagaios do mar. Vale a pena ir à cidade para sair à procura destes grandes mamíferos, mas a cidade tem outra atração, é a mais antiga do país, Garðar Svavarsson assentou arraiais aqui no ano 860.
Geosea: Uma fenomenal piscina infinita perto de Husavík, com vista para o mar, mas das caras. Fica perto do farol local. A entrada custa 4.300 ISK. Abre das 12h às 22h. Parece-nos das piscinas mais bonitas do país, mas… optaríamos por ir a VOK.
Aldeyjarfoss: esta é uma das cascatas famosas para os instagramers, porque há meninas que posam numa pequena piscina, de água GELADA! Foi aqui que ficámos presos na neve. Resumindo, passámos na neve a caminho da cascata, estrada aberta nos sites, mas achámos que o carro estava a encontrar demasiada neve e receávamos atolar. Parámos para decidir e voámos o drone para ver o caminho. Entretanto, passa um grande jipe, cheio de turistas, pedimos boleia, recusada, e voltámos para trás. Não chegámos a andar 10 metros até ficarmos completamente presos na neve. O Tiago foi a pé a uma quinta próxima pedir ajuda e o agricultor islandês veio de trator. Foi fácil, mas ele queria cobrar-nos 150€ pelo serviço, em vez dos 400€ padrão que cobram as rent-a-cars. Não tínhamos mais de 33€ e, felizmente, ele aceitou. Resumindo, não chegámos até à cascatas, o drone não chegou até à cascata (já tivemos muitos azares para arriscar voos longos) e nós perdemos 33€. Looking at the bright side, poupámos mais de 100€!
Lago Mývatn: uma dos principais destinos da Islândia é este lago, acima de tudo porque é um foco de concentração de atrações. Aqui tínhamos imenso que ver, sempre à volta do lago, de 36km2. Também faz parte do Diamond Circle e a cidade principal da região é Reykjahlíð.
Dimmuborgir: neste campo de lava e de formações rochosas conta-se parte das lendas islandesas. Aqui vivem os 13 filhos de Grýla and Leppalúði. Dormem durante o verão e podem ser vistos em novembro e dezembro. 13 dias antes do natal eles aparecem 1 a 1 para colocar algo dentro dos sapatos das crianças até à véspera de natal, crianças mal comportadas recebem uma batata. Dentro do parque encontram uma gruta com as camas de cada um deles e alguns acessórios. O parque tem vários trilhas que podem ser feitas. Não se deve subir às rochas porque são frágeis.
Grjótagjá Cave: esta caverna fica perto do lago, tem um parque de estacionamento, ao qual não chegámos porque estava uma happy campers presa na neve. Para evitar que duas raparigas atoladas na neve tivessem de chamar um reboque, vários turistas, das mais variadas origens, tentámos com métodos inovadores desencalhar a sua carrinha. Claro está, sem sucesso. Então, fomos a pé até à gruta, informando os carros ligeiros que tentassem outro acesso, para evitarem aquela estrada. Voltando à gruta, esta tornou-se famosa ao aparecer num episódio de GOT (season 3, episódio 5). A lagoa que existe na gruta era usada como piscina de água termal, mas as erupções de 1975 a 1984 fizeram a temperatura da água subir acima dos 50º e passou a ser proibido entrar. Quando regressámos ao nosso carro as raparigas já tinham sido resgatadas, a custo zero, porque era a segunda vez em 24 horas que utilizavam o mesmo reboque. Pelos vistos, não somos os únicos a apanhar islandeses fofinhos e generosos.
Mývatn nature baths: ficam junto ao lago Myvatn, a 105 km do Círculo Ártico. Passámos só para ver o ambiente, logo à hora de abertura. A fila à espera que abrisse era razoável (já havia vários autocarros) e sentíamos um odor forte a ovo podre sempre que inspirávamos, revelador da riqueza destas águas em enxofre. As piscinas são muito bonitas, mas custam 5.000 ISK. Não nos pareceu ser necessário reservar os bilhetes com antecedência, mas é só irem ao site.
Námaskarð ou Hverir: junto à montanha Námafjall existe uma área geotermal ligada ao vulcão Krafla. Um terreno de cores variadas e onde o chão borbulha e expele vapores. Junto às fumarolas há uma miscelânea de cores, como verde, vermelho ou laranja. As botas ficaram imundas porque o excesso de turistas cria lama por todo o lado. Acabámos por não vaguear muito pelo campo e vimos só de longe, dos miradouros.
Hverfjall: vamos falar a seguir de outras crateras, mas a esta fomos. Tem um Posto de Turismo com casas de banho (ainda não falámos nisso, mas é muito comum as casas de banho pagarem-se). Parámos no parque, com cuidado, havia muita neve, e subimos por uma das trilhas. Há duas, uma a norte e outra a sul. A subida ao topo da cratera com 1km de diâmetro demora 20 minutos. Num dia de céu aberto conseguem ver o lago, os campos de lava e Dimmuborgir. No dia da nossa subida estava muito vento, tornando o percurso incómodo, frio, mas no topo conseguimos ver a areia negra, o orifício do cone e uma fabulosa paisagem até ao lago Mývatn.
Lofthellir Ice Cave: aqui está uma coisa que não fizemos, porque custa 186€ em tour. Junto à montanha Hvannfell é possível caminhar no campo de lava até à gruta de gelo. Ali encontram-se esculturas naturais em gelo impressionantes, fruto do pingar de água do teto durante anos e anos. Diz a descrição do tour que a rocha por trás do gelo tinge-o em tons roxos, azuis, rosa e verdes, parecendo que estamos perante pedras preciosas. Vendo imagens na internet, não achamos que seja assim tão extraordinário, até nos parece que as cores são fruto de iluminação artificial. Não é possível chegar lá sem guia, porque, tal como muitas atrações no país, é em terreno privado.
Krafla: a sua cratera tem 10km de largura e a fissura tem 90km de comprimento. É conhecido por ser um vulcão ativo muito temperamental, já que as suas erupções duram muito tempo. Há, no entanto, duas mais famosas, a de 1724 a 1729, e a de 1975 a 1984 (a mesma que fez subir a temperatura da lagoa da gruta Grjótagjá). A primeira não matou ninguém, mas destruiu três quintas, tendo sido visível desde as Highlands (Terras Altas). A segunda limitou o turismo e a indústria do país. É nos fogos de Mývatn (primeira erupção) que tem origem a cratera Víti.
- Víti: a cratera inferno, está na fissura do Krafla e tem um lago com uma bela cor verde (quando não está gelado ou coberto de neve, o que foi o caso na altura em que visitámos, perdendo muito do interesse). Lemos que há quem mergulhe no lago quando este não está gelado (temperatura normal da água é de 30º).
- Askja: é uma das maiores crateras da Islândia, com 50km2, e fica no Vatnajökull National Park. Em 1875, uma erupção levou ao abandono da região por parte dos moradores, porque a cinza expelida matou o gado e destruiu os campos. Tem um dos lagos mais profundos do país, Öskjuvatn, onde, em 1907, desapareceram dois cientistas alemães sem deixarem rasto. Foi em campos de lava aqui perto que Neil Armstrong e Buzz Aldrin treinaram para pisar a lua (fizeram-no em 1960). Os 100km de estrada geralmente estão abertos apenas no verão (junho a outubro).
Dettifoss: a cascata mais poderosa da Europa ficou-nos como uma falha na check List. Saímos de manhã, verificámos as estradas e seguimos viagem. O objetivo era chegar a Dettifoss, principalmente depois de já termos falhado Aldeyjarfoss. Tudo correu bem, estrada aberta no site, mas, quando já faltavam poucos quilómetros, encontrámos uma placa que estragava tudo. Uma das palavras que mais vimos pelo país foi Lokað, a estrada está fechada, a atração está fechada, ou o museu está fechado. Não tinham limpo a estrada e continuava a nevar, por isso não pudemos avançar.
Ásbyrgi Canyon: o canhão tem a forma de uma ferradura. Pode-se explicar a sua formação pelo transbordar do rio Jökulsá, com água do glaciar, ou quando a água do mar inundou os campos de lava. Mitologicamente, os islandeses explicam-no de outra forma. Óðinn, um deus, e o seu cavalo, Sleipnir, cavalgavam à volta da Terra. Numa dessas viagens distraíram-se, e a pata de Sleipnir tocou o chão aqui na Islândia. Fica numa zona remota, como Dettifoss. O abrigo dos deuses é intocável no inverno, pela dificuldade em lá chegar.
Ilha Grímsey: é uma ilha habitada por 100 pessoas, a 40km da costa. É também habitada por papagaios do mar, de abril a agosto. Descrevem-na como uma gema no Círculo Ártico. Não há noite no verão e, no inverno, quase não há luz natural. No entanto, a vida funciona como no resto do mundo. Há uma escola, uma igreja, um aeroporto, dois alojamentos, e o ferry funciona 3 vezes por semana.
Vatnajökull National Park: é um dos maiores parques, fazendo parte do norte e do sul da Islândia. No norte da ilha temos Jökulsárgljúfur, um desfiladeiro que separa geograficamente as duas zonas, e onde circula o rio Jökulsá á Fjöllum. O desfiladeiro tem 25km de cumprimento e 500m de largura. Pertencem a este rio glaciar várias cascatas, como Selfoss, Dettifoss, Hafragilsfoss e Réttarfoss.
Artic Henge: uma das zonas que temos mais pena em não ter conseguido visitar. Fica numa zona remota da ilha, Raufarhöfn, fora da Ring Road e com acessos que podem fechar no inverno. Tem 50 metros de diâmetro e 6 de altura.
Onde dormir:
Guesthouse 46 (Hvammstangi): Dormimos aqui, vindos dos fiordes. Uma cidade simpática onde conseguimos assistir aos rituais matinais dos habitantes. O alojamento é grande, a cozinha é super equipada e as casas de banho são grandes. Os donos estão pelo alojamento, mas não são muito faladores.
FE Accommodation (Akureyri): Mais um alojamento que é uma casa de família. O dono é simpático e não percebemos porque ficámos num quarto tão bom. Fornece chá e café e fica perto da piscina municipal.
Hótel Laxá (Mývatn): um hotel confortável, com funcionários eficientes e atenciosos, e com um pequeno-almoço de sonho (panquecas). Foi aqui que nos alertarem para a questão das portagens (ver nota abaixo). Entrámos e estava um vento surreal, pedimos para nos avisarem se houvesse auroras boreais, mas nada. Seria um sítio espetacular porque o hotel é isolado.
Onde comer:
Em Akureyri fomos aos gelados no Brynja, que tínhamos lido que era dos melhores de todo o país. A loja é pequena, mas há montras infindáveis de coisas que podemos por no nosso gelado: gomas, maltesers, pintarolas, pedaços de frutos secos…
Para jantar fomos ao Bryggjan, junto ao porto, onde encontrámos os que viriam a ser nossos companheiros de tour em Dalvik. Pedimos um hambúrguer e uma pizza. O Tiago bebeu uma cerveja islandesa, Einstök White Ale.
Em Dalvik comemos o peixe que pescámos, bacalhau fresco com manteiga de ervas, e estava muito saboroso.
Em Myvatn jantámos no Daddi’s Pizza, um espaço com parque de caravanas. As pizzas são variadas, boas e baratas (é verdade!).
O resto do tempo comemos coisas cozinhadas por nós, como massas, e bebemos café na rua. Ao almoço fizemos sandes ou wraps.
Atenção!!!
Quem faz a ring road em road trip deve ter atenção ao percurso Akureyri-Myvatn, onde vai encontrar um túnel. O ideal é não seguir pelo túnel. É pago por registo no site, ANTES DE ATRAVESSAR O TÚNEL, ou nas 3 horas seguintes. Custa 1.500 ISK e só precisam da matrícula do carro. No hotel avisaram-nos disto logo à chegada e tinham um grande placar com informações.
365 dias no mundo estiveram na Islândia de 23 de outubro a 7 de novembro de 2019
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