Dizer que Bilbau em si nos despertava muita curiosidade seria um exagero, mas depois de visitarmos o Guggenheim de Nova Iorque queríamos conhecer também o espanhol. Bilbau é a capital da região basca, vive como se fosse um pequeno enclave dentro de Espanha, e é uma das cidades portuárias mais importantes do norte do país.
Muita gente fala basco (Euskera) e sente-se uma identidade muito própria. Já não é comparável com a região basca dos atentados e problemas políticos, sendo hoje um sítio completamente seguro, mesmo em plena manifestação, como a que apanhámos durante a nossa visita. Bilbau é uma cidade de gente orgulhosa de ali pertencer, de famosa gastronomia, e é uma cidade que combina o Casco Viejo e a cultura tradicional com o Guggenheim e a arte contemporânea.
Apesar de a Raquel não ter bem a certeza de quais fins de semana terá livres, de vez em quando dá-nos um momento de loucura e compramos um voo para o chamado “bate e volta” (expressão brasileira, que define bem o que queremos explicar) na Europa. Sabemos que o resto do ano de 2020 está cheio de incertezas, por isso, esta viagem tem ainda mais importância para nós. Provavelmente, após o final desta pandemia, as viagens de avião de fim de semana não se voltarão a repetir (pelo menos para nós).
O que visitar:
Margem do Casco Viejo:
Teatro Arriaga: dos teatros mais antigos de Espanha. É um bom exemplo do que as inundações de 1983 causaram à cidade. Na escadaria do foyer podem encontrar um busto e um grande espelho, e no friso sobre o lambrim tem a marca onde chegou o nível da água.
Tem visitas guiadas diárias. Nós comprámos os bilhetes à porta, mas podem também comprar online.
El Arenal: um jardim em frente ao teatro. No nosso fim de semana tinha uma exposição de fotografia.
Iglesia de San Nicolás: foi inaugurada em 1756. É uma igreja com forma de cruz e fica na Praça com o mesmo nome.
Ayuntamiento: a Câmara Municipal de Bilbau tem vários edifícios. Um deles fica na margem da ria, junto à ponte com o mesmo nome. Atrás tem um edifício contemporâneo que também faz parte dos serviços municipais. É uma zona menos turística, com restaurantes mais em conta. Entre o edifício da câmara e o jardim El Arenal podem encontrar, ao sábado, o mercado de produtores e, ao domingo, o mercado das flores.
Casco Viejo: para sentir a verdadeira pulsação da cidade consideramos o centro histórico o melhor sítio para ficar hospedado. Fica na margem direita da ria Nervión (à esquerda fica Bilbao la Vieja). Em 1983, as cheias destruíram o centro e morreram 34 pessoas no país basco.
Las Siete Calles: são sete ruas pedonais com um estilo arquitetónico muito próprio. Inicialmente, o Casco Viejo só tinha três ruas e um muro. Quando a cidade cresceu destruiu-se o muro e fizeram-se mais quatro ruas. As ruas são pedonais desde 1979, criando as chamadas sete ruas, uma espécie de centro comercial a céu aberto. Encontram-se muitos negócios locais e poucas cadeias internacionais.
Catedral Santiago Bilbao: faz parte do Caminho de Santiago, sendo este o padroeiro da cidade. Já não é o primeiro edifício naquele local, tendo sido criada antes mesmo da própria cidade. O segundo edifício ardeu e a basílica, tal como existe hoje, é de 1397, com a sua construção durado mais de um século. É de estilo gótico, mas tem também influência barroca e renascentista, e partes agora renovadas em estilo neogótico. Pode ser visitada gratuitamente ou com audio-guia (6€) juntamente com a Iglesia San Antón. Deveria estar aberta das 10h às 20h, mas nunca a encontrámos aberta.
Plaza Nueva (Plaza Barria): foi inaugurada em 1851, após um longo percurso construtivo de 65 anos. É conhecida como Praça Nova, porque a Plaza Vieja era onde fica atualmente o Mercado Ribera. Aqui vimos pais e filhos a jogar à bola e é um bom local para jantar. Ao domingo há mercado.
Museo Euskal: aqui ficam a conhecer a história do País Basco. O preço é de 3€ e fecha à terça-feira. As visitas guiadas pagam-se (30€). Podem ler algumas informações no site.
Museo do Paso: um museu que nos mostra como é vivida a semana santa em Bilbau. Fecha à segunda-feita e custa 2€.
Arkeologi Museoa: o museu arqueológico conta a história da região pelos artefactos encontrados. O museu fecha à segunda-feira e custa 3,5€ (com as visitas guiadas incluídas no preço).
Mercado de La Ribera: fica junto à ria de Bilbau, na zona antiga da cidade. É dos mercados mais completos, com banca de venda de frescos e uma zona de alimentação. Existe desde o século XIV, mas este edifício é de 1929. Em 1990 entrou para o livro do Guiness como o mercado mais completo (10.000m2) e em 2012 sofreu uma profunda renovação. É um projecto original de Pedro Ispizua, arquitecto local que projectou vários edifícios da cidade e que trabalhou com Gaudí na Sagrada Família. Vale a pena conhecer o edifício e é um bom local para uma refeição. Fecha ao domingo e só de terça a sexta-feira é que funciona de manhã e de tarde. Se querem saber onde fica cada banca podem investigar no site oficial.
Iglesia Santo Antón: junto ao mercado, do antigo Ayuntamiento e da Puente Santo Antón, encontram a Igreja com o mesmo nome. Já existiu neste local um armazém e depois uma alcáçova com muralha. A igreja, de estilo gótico, sofreu algumas obras de ampliação e é a mais frequentada da cidade.
Monte Artxanda: é possível subir de teleférico e ver a vista panorâmica sobre a cidade. A forma mais inteligente de comprar o bilhete é com um Barik. Mesmo que não tenham saldo suficiente, pode ser carregado no local e fica muito mais barato. Gastámos 8,60€ para os dois (sem este método). O acesso fica perto de Zubizuri.
Margem de Bilbao La Vieja
Estacion de Abando Indalecio Prieto: é uma estação terminal, que fica em frente ao Teatro Arriaga, na outra margem da ria. Tem um impressionante vitral de Jesús Arrecubieta (1948). Daqui saem linhas de curta e longa distância, como Santander e Madrid.
Azkuna Zentroa: este centro cultural foi instalado onde outrora existiu um depósito de vinho. O espaço tem graça pelas suas 43 colunas, todas diferentes. Visitámos à noite e estávamos à espera de mais animação e restaurantes, mas, ainda assim, acabámos por experimentar um deles. Há uma piscina que pertence ao ginásio e de dentro da praça do centro cultural conseguem olhar para cima e ver os nadadores, como podem ver aqui. O terraço está aberto de junho a setembro.
Plaza Moyua: deverão sair aqui se vierem de autocarro do aeroporto em direção ao Casco Viejo. É uma praça elíptica desenhada por José Luis Salinas, onde tem alguns edifícios interessantes, como o Hotel Carlton.
Iglesia San Jose: uma igreja vistosa. Podem encontrá-la no percurso entre a Plaza Moyua e a Torre Iberdrola.
Puente Zubizuri: É da autoria do arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Alguns dos projetos mais emblemáticos deste reconhecido arquiteto são o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, a Ciudad de Las Artes y Las Ciencias, em Valência, a Puente de las Mujeres, em Buenos Aires, e, para os portugueses, a Gare do Oriente, em Lisboa. Deste lado da margem é possível ver uma fachada antiga (Deposito Franco) convertida num gigante ginásio (Club Metropolitan), outra das imagens de marca de Bilbau.
Museo Guggenheim Bilbao: o edifício projectado por Frank O. Gehry trouxe um novo fôlego à cidade. A cidade era monocromática e a zona onde hoje habita o maior ponto do interesse da cidade era um espaço para contentores. Falamos mais detalhadamente sobre o museu aqui.
- Os bilhetes devem ser comprados com antecedência, aqui. Fecha à segunda-feira e está aberto das 10h às 20h. O bilhete custa 13€ online, 15€ na bilheteira.
Próximo do museu encontram a Biblioteca da Universidade de Deusto e a torre Iberdrola.
Parque de Doña Casilda: aqui encontram o Museu de Belas Artes e o Palácio Euskalduna.
Museo de Bellas Artes: é rico em obras de artistas locais, mas também encontram ali obras de Vieira da Silva. É grátis a partir das 18h. No período normal custa 10€ (20€ quando combinado com o Guggenheim). Ao domingo às 12h, o El Corte Ingles oferece as visitas guiadas.
Palacio Euskalduna: Este edifício alberga o Centro de Congressos e da Música. É a sede da Orquestra Sinfónica de Bilbau e recebe a temporada de Ópera. Foi inaugurado em 1999 e é uma obra de Federico Soriano e Dolores Palacios. Ao sábado, pelas 12h, há visitas guiadas.
Museo Marítimo Ria de Bilbao: Fica junto à ria de Bilbau e funciona dentro de um edifício e nos diques no exterior. Aqui encontram também a Grua Carola, uma grua vermelha. O museu conta a história da cidade e a sua relação com o mar. Fecha à segunda-feira e, à terça-feira, a entrada é grátis. O preço normal é 6€. Nós não visitámos, mas agora que tudo está fechado (Covid-19) visitámos virtualmente (aqui).
Estadio San Mamés: o estadio do Athletic de Bilbao vê-se de várias zonas da cidade, principalmente a partir do Guggenheim, Euskalduna e Artxanda. Em dia de jogos torna-se impressionante, pois é todo iluminado. O museu com tour custa 14€ e pode ser comprado online.
Puente Bizkaia (Puente Colgante): não tivemos tempo para ir a esta obra património mundial na UNESCO, mas merece a vista. A construção é de um discípulo de Eiffel, Alberto Palacio. É de 1893 e foi a primeira ponte de transbordo no mundo deste género, unindo Getxo a Portugalete. A passagem não é feita da forma comum, mas através duma “barquilla” que faz o percurso entre as duas margens, uma espécie de autocarro-teleférico que corre suspenso sobre a água. A viagem custa a cada passageiro 0,45€ e 1,65€ por veículo. A entrada no passadiço superior (ponte em si) custa 10,5€ com audio-guia.
Onde comer:
Pintxos, sem dúvida. A Plaza Nueva ou o Mercado de la Ribera são bons locais para comer estes petiscos sobre pão. Comemos no Gure Toki e no The Boar. O Sorgintzulo também é famoso. As combinações vão do óbvio ao arrojado, como uma fatia de pão, bacalhau e molho, ou uma espetada de ananás, uma almôndega e um pickle.
Genericamente não adorámos, gostamos mais dos bocadillos de jamon da loja em frente ao hostel (7,70€), na Vianda de Salamanca.
No sábado fizemos a versão caseira. Fomos ao supermercado e comprámos uma baguete, presunto cortado em fatias finas e uma limonada (comprámos no supermercado Eroski e gastámos 7,50€). No topo do Monte Artxanda, junto às letras Bilbao e Bilbo que contornam todo o panorâmico, fizemos nós as sandes de presunto e acabou por ficar mais em conta.
A bebida da moda é o Kalimotxo – vinho com coca-cola – uma moda que passou fugazmente por Portugal há uns anos, mas a Raquel correu tudo até encontrar uma sangria.
O pequeno-almoço de sábado comemos fora, mas achámos caro (El Kapikua 5,20€). Então, no segundo dia combinámos croissants de supermercado com cappuccinos de máquina.
Café Iruña: tentámos visitar, mas estava fechado para obras. O centenário café é um dos espaços de marca da cidade. Abriu a 7 de julho de 1903 e já ganhou vários prémios, como o de Monumento Singular e o Prémio Especial Melhor Café de Espanha em 2000. Serve menus e pequeno-almoço. Podem visitar a página oficial, o que também fizemos, na falta da visita presencial.
Onde dormir:
Nós ficámos no Casual Gurea. Fica no centro, na cidade velha. Ficámos duas noites num quarto com casa de banho privada, sem pequeno-almoço. A catedral fica a cerca de 100 metros. Não fica na margem do rio, mas é simpático, uma boa escolha para o preço. Fica também perto da Fuente de los Perros, onde apanhámos uma manifestação.
Dicas:
- Vale a pena visitar Bilbau num fim de semana, de sexta a domingo ou, se conseguirem, até segunda-feira. Como (esperamos) o futuro é o “Slow Tourism”, sugerimos que percorram toda a costa basca.
- Assim que conseguirem comprem o Barik e saiam do aeroporto de autocarro.
- Durmam no Casco Viejo.
- Olhem para as placas com os nomes das ruas e vejam como estão escritas em castelhano e basco.
- Façam como os espanhóis e comprem uma lotaria. E que a sorte vos sorria!
Usem o Revolut. Não precisam de andar com dinheiro vivo. Pagámos tudo com Revolut e, no total, este fim de semana em Bilbau para os dois custou-nos 330€, incluindo os voos.
365 dias no mundo estiveram em Bilbau de 10 a 12 de janeiro de 2020
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4 respostas
Eu não viajei quase nada em 2020, à espera das grandes viagens da Páscoa e do Verão. Ferrei-me. Por isso também recordo com tanto carinho o bate-volta (sim, o termo é fixe) que fiz a Barcelona para uma foto junto da Sagrada família, uns pintchos e pouco mais.
Ainda não estive em Bilbau e anotei as vossas dicas
Estamos tão contentes por ter tido um primeiro trimestre agitado, que ainda não sentimos a ressaca de viajar. Queremos muito voltar a Barcelona, nunca fomos juntos, e até temos lá família. Vais gostar de Bilbau, e o pequeno viajante também.
Bilbau está na minha lista há que tempos mas ainda não saiu do papel. Estive há muitos anos apenas no exterior do Guggenheim mas preciso voltar! 🙂 Os pintxos chamam por mim.
Não ficámos fãs dos pintxos. Alguns são bons, mas tens que saber escolher. Nós queremos voltar para fazer a costa.