DENTRO DO AROUCA GEOPARK (PORTUGAL)

serra da Freita
Arouca tem uma dualidade que nos encanta. Pertence ao distrito de Aveiro, à zona metropolitana do Porto e ao Turismo do Porto e Norte. Leva-nos a fenómenos naturais ímpares, à 2ª guerra mundial e alguma incerteza da neutralidade portuguesa, e a uma gastronomia ... de engordar.

A Raquel conhecia Arouca de miúda, visitou com a escola num intercâmbio. O Tiago, nem por isso. Quando aderimos ao #euficoemportugal queríamos uma região que não conhecêssemos bem. Escolhemos o Arouca Geopark.
A escolha do espaço onde ficar e do programa foi fácil. O Alfredo abordou-nos e logo percebemos que não precisávamos de procurar mais. Conjugar datas num mês tão ocupado para nós já foi mais difícil, mas tudo se consegue quando há vontade. Deixámos tudo nas mãos de quem conhece a região e não podíamos estar mais satisfeitos.

Arouca

Arouca tem uma dualidade que nos encanta. Pertence ao distrito de Aveiro, à zona metropolitana do Porto e ao Turismo do Porto e Norte. Embora se saiba que a história da região começa com os celtas e os romanos, é o mosteiro que a põe no mapa. O seu foral chegou com D. Afonso Henriques e a padroeira é a Rainha Santa Mafalda. No entanto, a real pérola da região não é a história da vila, mas a sua riqueza em geossítios que formam o Arouca Geopark. Levam-nos a fenómenos naturais ímpares, a alguma incerteza da neutralidade portuguesa na Segunda Guerra Mundial e a uma gastronomia… de engordar.

Arouca é vila e assim quer permanecer, mas isso não implica ficar esquecida no mundo. Soube destacar-se num país pequeno, tendo sido a primeira a apostar nos passadiços de madeira. No seu caso, na garganta do Paiva. Soube também demonstrar que a sua posta de vitela não é inferior às mais reconhecidas a norte, e conseguiu o feito de ter a maior ponte suspensa do mundo, ainda por inaugurar.

No centro da vila devem conhecer o Mosteiro (antigo Convento da Ordem de Cister). Destacam-se o altar mor em talha dourada, o túmulo da Rainha Santa Mafalda e o coro alto, uma obra de arte. O Museu de Arte Sacra encontra-se também aqui. Fecha à segunda-feira e a entrada custa 3€.

A Capela da Misericórdia (abre ao domingo à tarde e tem um pequeno museu) e o Calvário também são de visitar. O Museu Municipal encontrava-se encerrado no dia da nossa visita. Também se pode visitar o monte e capela da senhora da Mó (vista panorâmica) e o Memorial de Santo António.

Alvarenga

Alvarenga é uma vila que se auto-intitula a capital do mundo. A explicação é fácil: jantar de amigos da terra, todos vivem fora, e percebem que podem estar espalhados pelo globo, mas é Alvarenga a sua “capital”. A moda pega e a placa oficial acabou mesmo por ser colocada, Alvarenga é a capital do mundo. Ouvida a história, podemos reconhecer que uma aldeia tão pequena conseguiu mesmo grandes feitos pelo país. Por exemplo, o famoso Café A Brasileira, em Lisboa, foi aberto por um alvarenguense. Há também vários alvarenguenses notáveis, principalmente no mundo empresarial.

Alvarenga acabou por se tornar o centro para o percurso dos passadiços do Paiva, pela sua proximidade ao Areirinho. O seu pelourinho e a farmácia centenária são de visitar. A destilaria da Pinguça surpreendeu-nos enquanto projeto de arquitetura, e sabemos que abre para visitas.

Arouca Geopark

Reconhecido como património UNESCO, tem dezenas de espaços a conhecer. A sua maior fama é pelos incomuns geossítios, como as pedras parideiras ou os passadiços do Paiva, mas isto é apenas a ponta do icebergue do que devem visitar.

Passadiços do Paiva

Em plena Garganta do Paiva e dentro do Arouca Geopark ficam os passadiços mais concorridos do país. Têm três praias fluviais e alguns geossítios, como a fenda da Espiunca. Nós percorremos o percurso em família em 2016. A nova ponte pedonal suspensa, a maior do mundo neste tipo, deverá abrir nos próximos meses.

Cascata das Aguieiras
Ponte suspensa de Arouca

Casa das Pedras Parideiras

O fenómeno é curioso e incomum, falando-se que apenas na Rússia existe algo semelhante. Hoje é proibido retirar pedaços, mas antigamente era habitual guardar um pedaço da rocha-mãe ou da filha para dar fertilidade (punha-se debaixo da almofada). A casa-museu tem uma loja, um auditório, uma amostra do manto rochoso coberta e uma a céu aberto. Recomendamos vivamente que assistam ao documentário 3D para perceberem o que acontece ali na aldeia de Castanheira, a pequena povoação junto ao geossítio. A visita com visualização do documentário e amostra coberta custa 2,5€ e carece de reserva, só a visita custa 1€. Do museu faz parte o Radar Meteorológico com piso panorâmico (fechado atualmente devido à pandemia).

Outro fenómeno natural rochoso próximo das parideiras são as pedras boroas do Junqueiro (não tivemos oportunidade de conhecer).

Museu das Trilobites

Na Pedreira do Valério ficam os maiores exemplares do mundo de trilobites. Ao trabalhar com ardósias, muitas vezes foram encontrados exemplares destes fósseis, que se pensam ter cerca de 465 milhões de anos. O museu tem um custo de 5€.

Há outros museus na região que não conseguimos visitar, como: Casal Romano da Malafaia, Destilaria Eduardo de Noronha Dias, onde é produzida a Pinguça, e o Núcleo Museulógico da Lavoura e do Linho.

Minas de Regoufe

Viram a série que passou na RTP sobre os tempos da Segunda Guerra Mundial? A Espia falava muito em volfrâmio (tungsténio). Duas das minas do país ficavam dentro do Arouca Geopark, as da Companhia Inglesa (Regoufe) e as da Companhia Alemã (Rio de Frades). As de Rio de Frades eram uma verdadeira industria desenvolvida, por necessidade dos alemães, e as inglesas apenas serviam para limitar o acesso dos alemães ao “ouro negro”. Hoje estão abandonadas e sobram apenas as ruínas de tempos em que Portugal tinha algo para vender que era precioso para a indústria do armamento. Existem ainda as minas da Pena Amarela, umas minas clandestinas. Há vários operadores que organizam visitas guiadas às minas.

Minas de Regoufe

Panorâmico do Detrelho da Malhada

Daqui conseguimos ver o vale de Arouca, a serra de Montemuro, Espinho e muito mais, um dos miradouros mais bonitos da região.

Não foi possível conhecer todos, mas recomendamos os miradouros panorâmicos de S. Pedro o Velho e o dos Sobreiros.

Frecha da Mizarela

O rio Caima, que desagua no Vouga, cai aqui de uma altura de 60 metros. A vista é impressionante. Vêem-se grupos e casais de marmita na mão, a descer por um caminho que leva até ao fim da cascata.

Portal do inferno e garra

A 1.000 metros de altitude vão encontrar o Portal do Inferno e a Garra. É preciso imaginação para ver na montanha cortada uma garra (as nossas fotos são tiradas de outro ponto). Gostámos especialmente de parar aqui e da vista nos acompanhou durante todo o percurso até cá chegar, vindos de Arouca e da Mina de Regoufe.

Serra de Montemuro

É a serra habitualmente preterida em favor da Serra da Freita, mas é igualmente bonita e também pertence ao Arouca Geopark. Aqui, o Alfredo levou-nos à Senhora do Monte, que nos fez recordar o Lubango. A vista sobre Alvarenga é impressionante, tendo sido possível reconhecer vários locais, como a nova ponte suspensa.

Senhora do Monte
Serra de Montemuro

Daqui seguimos para S. Pedro, onde era suposto estarem a decorrer as festas ao santo padroeiro, não fossem estes tempos de pandemia. Velhos hábitos não se perdem, e quem vive em meios pequenos sabe que dias de festa não se deixam para o ano que vem e encontrámos grupos a festejar S. Pedro, mas com algum distanciamento. O santo protegia os campos agrícolas e ajudava as solteiras a encontrar marido. A capela é em pedra, do séc. XVIII.

Aldeia de Meitriz

Antes de chegarmos a Alvarenga atravessámos a serra da Freita, lentamente e com prazer, parando onde nos apetecesse. Este ritmo de viajante fez-nos parar em Meitriz. Aqui existe uma pequena praia fluvial que atrai curiosos e clientes habituais, e alguma oferta de turismo rural, mas há quem prefira acampar. Os seus espigueiros ficam em cima de muros e são feitos em madeira e xisto. O percurso pedestre Rota das Tormentas atravessa a aldeia.

Meitriz

Aldeia da Paradinha

A Paradinha é uma aldeia de xisto com praia fluvial. Muito típica, pequena, foi quase toda transformada em turismo rural, com reabilitações casa a casa. Espalhadas pelas suas ruas vêem-se várias obras de arte, dando-lhe um toque muito especial e, no verão, organiza o festival Sons da Água. Antes de chegar à aldeia encontram uma capela.

A aldeia de Drave é uma das mais famosas da região, mas como o percurso é longo e não podíamos fazer no nosso carro, adiámos. Podem chegar lá num percurso pedonal de 3 horas a partir da Mina de Regoufe – PR14.

Desporto aventura

Se vos interessam desportos náuticos radicais, como rafting, river trekking, canyoning e canoeing, então o Clube do Paiva é para vocês. Nós fizemos river trekking, com o Gonçalo. Foi uma manhã intensa, mas adorámos. A empresa é certificada, o material de qualidade, e os guias são locais, conhecedores do rio. Para o desporto-rei do Paiva, o rafting, o inverno é a época ideal, sendo possível fazer a partir das primeiras chuvas. O Rafael explicou-nos que trabalham muito com empresas em eventos corporativos, mas também com grupos de amigos que se juntam. Recomendamos, com a garantia que tudo é feito em segurança.

E muito mais

Há muito mais para ver e conhecer no Arouca Geopark. Mais fenómenos geológicos, vários percursos pedestres, mais aldeias de Portugal, mais gastronomia. Não conseguimos fazer tudo, apenas queremos deixar-vos com vontade de conhecer o local, tal como nós ficámos com vontade de regressar.

Onde dormir:

Opções há muitas, mas temos de falar naquilo que conhecemos… e adorámos! A Quinta da Vila, em Alvarenga, foi o espaço ideal para estas duas noites na região de Arouca. O Alfredo cuida do seu espaço com amor, recebendo os hóspedes como família. Não teríamos visto a ponte suspensa tão de perto sem o Alfredo, o seu primo, e o tio que nos deixou entrar pelo seu quintal. O espaço tem quartos espaçosos e uma piscina com um pequeno bar, onde são servidas refeições ligeiras, ideal para almoços descontraídos. A quinta está dividida em duas partes: a casa da piscina e os lagares. Enquanto os quartos da casa dos lagares estão mais resguardados, com namoradeiras em pedra, os da piscina são bastante espaçosos. Em ambos os casos, estão decorados de forma simples e despretensiosa. O pequeno-almoço é completo e caseiro, com compotas e bolo de laranja feitos com carinho pela Dona Rosa. Talvez a principal maior-valia do espaço seja mesmo a proximidade, sabedoria, dedicação e saber receber do Alfredo, que tem nos planos uma expansão da “vila”, com a recuperação de mais uma bela casa da família.

Onde comer:

Em Arouca recomendamos o Pedestre 142. Fomos muito bem recebidos e a comida era de qualidade, com produtos da região e algum “twist” inovador. Podemos tentar elogiar a qualidade do salpicão de Canelas e da posta Arouquesa, ou dos doces conventuais, mas não faremos jus. O Sérgio foi-nos sugerindo os pratos e serviu-nos o pudim de Abade de Priscos como nunca tínhamos visto fazer, numa receita de autor. É um negócio familiar recomendado pelo Geofood (produto local).

Em Alvarenga, fomos bem recebidos pelo Filipe e pelo Nuno, na Casa dos Bifes Silva. Não se enganem no restaurante, porque casas de bifes não faltam na freguesia. Além do típico bife, conquistaram-nos a valer pela vitela assada no forno a lenha e pela simpatia e simplicidade com que nos receberam. Contaram-nos dos tempos caóticos que se viveram quando os passadiços abriram e irromperam multidões pela pacata freguesia, tendo mesmo chegado a ter de fechar a porta por já não terem o que servir.

365 dias no mundo estiveram no Arouca Geopark de 27 a 29 de junho de 2020, a convite da Quinta da Vila

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