DE VOLTA AO ALENTEJO (PORTUGAL)

Tivemos dias descanso e de usufruir do calor alentejano. Sobrou mais tempo para apreciar a típica arquitetura alentejana, com as suas ruas de casas baixinhas, caiadas de branco.

Junho foi um mês atípico. Além dos nossos trabalhos, do lançamento do livro Viagens de uma Vida, ainda saímos de casa em todas as folgas da Raquel para fazer parte do movimento #EuFicoEmPortugal. O nosso segundo destino era o Alentejo – Ferreira do Alentejo, Viana do Alentejo e Alvito. Escolhemos Évora como base para este percurso e lá partimos.

Acabaram por ser dias de descanso e de usufruir do calor alentejano, porque a pandemia ainda mantém muitos espaços museológicos fechados na região. Sobrou mais tempo para apreciar a típica arquitetura alentejana, com as suas ruas de casas baixinhas, caiadas de branco.

Ferreira do Alentejo

O nome deriva de uma lenda do século V, quando a esposa de um ferreiro, A Ferreirinha, defendeu a região da invasão bárbara. Este município já teve um castelo, da Ordem de Santiago de Espada, mas foi demolido em 1838, quando já se encontrava muito danificado.

O que visitar:

Museu Municipal: instalado na Casa Agrícola Jorge Ribeiro de Sousa desde 2004. Fecha à segunda-feira e feriados.

Núcleo de Arte Sacra: fica dentro da Igreja da Misericórdia. Fecha à segunda-feira e feriados e é necessária marcação prévia.

Casa do Vinho e do Cante: as memórias do vinho de talha e do cante alentejano estão preservadas na antiga Taberna do Zé Lelito. Fecha à segunda-feira e feriados e é necessária marcação prévia.

Estação Arqueológica do Monte da Chaminé:  Aqui encontrou-se uma villa Romana, que se estima ter sido ocupada entre os séc. I e VI d.C. As equipas de arqueologia encontraram um lagar de azeite, uma cave e parte da casa principal, entre outras estruturas. Necessita de marcação prévia. Fica na N2.

Capela do Calvário: é a imagem de marca de Ferreira, talvez pela sua forma inusitada. A sua arquitectura remete ao calvário de Cristo. Há outras igrejas no município, mas esta destaca-se.

Ponte Romana em Alfundão: a pequena ponte de três arcos fica sobre a ribeira de Alfundão. É muito curta e, apesar de ter origem na época romana, pensa-se que a versão atual já é do século XVI.

Nota: a ribeira está muito maltratada, quase sem caudal

A região coleciona inúmeros patrimónios imateriais, como o cante, artesanato (ferro forjado, cestas de esteira e as mobílias tradicionais alentejanas) e a sua gastronomia.

Três rotas turísticas passam por Ferreira do Alentejo: N2, a Rota da Uva sem Grainha e a Rota do Azeite e do Vinho. O festival Giacometti, um forte defensor do cante, acontece no primeiro fim de semana de junho.

Barragem de Odivelas: é uma das maiores barragens do Baixo Alentejo. Com praia fluvial e parque de campismo. Não precisam de ir à praia fluvial concessionada, se quiserem uma experiência mais pessoal é só descobrirem um espaço menos concorrido.

Lagoa dos Patos: se gostam de aves têm de vir até aqui. Garças, flamingos, patos, colhereiros e corvos marinhos estão aqui concentrados. E, além do olival intensivo, não se vislumbra presença humana.

Viana do Alentejo

Esta vila, atualmente com menos de 3000 habitantes, fazia parte das rotas romanas que uniam Évora a Beja e a Alcácer do Sal, onde se destacam, ainda hoje, as fontes naturais que ao longo da história fixaram a população neste local.

O que visitar:

Santuário d’Aires: este santuário barroco veio substituir a ermida. Ficou terminado em 1804. Todos os anos acontece a Feira D’Aires, para celebrar o vencer da epidemia de 1748. Estava fechado e em obras.

Ermida do Senhor Jesus do Cruzeiro: Monumento Nacional, classificado em 2012, datado da primeira metade do século XVIII. Totalmente voltado ao abandono, é mais um mau exemplo das prioridades nacionais que deveriam envergar entidades públicas como a DGPC. Já no momento da sua classificação se encontrava parcialmente arruinado, mas ainda exibia alguns vestígios de pinturas murais. Passados oito anos, o estado do monumento apenas se agravou. Segundo o decreto de classificação, “o seu interesse patrimonial reside, para além do valor arquitetónico, na ligação com o complexo setecentista de Nossa Senhora de Aires, que a ermida provavelmente antecedeu, sendo possível que nela se tenha guardado a imagem cultuada no santuário enquanto decorria a sua edificação”. Vale a pena a visita (fica mesmo ao lado do Santuário d’Aires). Descobrimos o espaço explorando o google maps, para perceber que ruínas se viam à direita do santuário.

Castelo: construído durante o reinado de D. Dinis, tem um aspeto trecentista, manuelino e mudejar, sendo também um Monumento Nacional. Dentro do castelo encontram a Igreja Matriz e a Igreja da Misericórdia.

Anta do Zambujeiro: um monumento megalítico importante para o concelho.

Fontes: como referimos antes, as suas fontes foram um factor importante para a riqueza da região.

Alcáçovas:

  • Paço dos Henriques: aqui fez-se história em 1479, com o tratado de paz entre D. Afonso V e D. Fernando de Castela (tratado de Alcáçovas) e com o último testamento de D. João II que definiu D. Manuel como seu sucessor. Tem dois edifícios separados pela rua do Paço: de um lado a casa de habitação de 4 pisos, o pátio interior, o celeiro e o pátio exterior, do outro lado a capela e o horto. A visita custa 4€, que terá de ser paga em numerário (não aceitam multibanco nem MBway e a caixa mutibanco da praça, a única próxima, tem por hábito não funcionar. Uma falha das duas partes: nossa, por não termos dinheiro (a Raquel tinha deixado a carteira no hotel), e do museu, por não estar preparado para pagamentos sem dinheiro físico numa época de pandemia. Fica para a próxima. Soubemos pelo proprietário da Chocalhos Pardalinho que está aqui uma exposição sobre os chocalhos (reconhecidos como património da humanidade em 2015).
  • Horto e Capela das Conchas: pertence ao Paço dos Henriques, fundado em 1622. É a zona nascente do Paço, do outro lado da rua, e a visita está incluída no bilhete.
  • Convento nossa senhora da Esperança: exemplo da arquitectura monástica rural, no estilo manuelino, exibe uma coleção de azulejos dos séc. XVII e XVIII. O convento está implantado sobre uma ermida do séc. XV dedicada à nossa senhora da Graça.
  • Igreja Matriz de São Salvador: o edifício gótico original já não existe, sendo o atual renascentista (abre quando o padre aparece).
  • Feira do Chocalho: o site da CM de Viana do Alentejo diz que “aconteça o que acontecer, a Feira de Alcáçovas realiza-se no 4º Domingo desse mês (de julho) e no Largo da Gamita”. Infelizmente, este ano a pandemia ditou o seu cancelamento, mas esperamos no próximo ano regressar para visitar esta festa, onde não faltam “comes e bebes”, artesanato e cantares da região.
  • Chocalhos Pardalinho: uma “instituição” no que toca ao fabrico do chocalhos. Se tocarem à campainha alguém vos vem abrir a porta e leva-vos até à fábrica. Tivemos a sorte de nos mostrarem todo o processo de fabrico: desde o molde, a ida ao forno envolvido em barro, o polir, a gravação de símbolos ou letras, a aplicação do badalo e o processo de afinação. Explicaram-nos o objectivo de pôr chocalhos nos rebanhos e falaram sobre os seus maiores clientes. Têm loja e a vantagem de se poder pagar por MBway. Foi talvez das experiências mais especiais que tivemos nesta curta visita. Vimos mais que o processo de fabrico, conversou-se sobre como a região devia aprender a explorar melhor os seus potenciais turísticos, vimos videos de festas, falámos sobre os museus (por exemplo do chocalho) privados não terem um horário compatível com as visitas.

Alvito

Tem registo de presença humana durante o neolítico e foi ocupada pelos romanos, tendo Portugal reconquistado a povoação em 1234. Em 1475 foi casa da primeira baronia com D. João Fernandes da Silveira. Foi-se desenvolvendo, principalmente, até ao séc. XVIII, entrando em declínio no séc. XX. Apesar disso, o seu esplendor de outrora pode ainda ser recordado através dos seus belos monumentos e praças.

O que visitar:

Portais Manuelinos: encontram por toda a vila portas e janelas com características manuelinas. Muitas foram recuperadas, outras estarão a ser.

Castelo: pertencente ao barão do Alvito, é hoje uma Pousada de Portugal. Apesar de não estarmos hospedados, deixaram-nos entrar e visitar os jardins e muralhas. A história gira aqui é que D. João Fernandes da Silveira, primeiro barão, era um fidalgo não militar. Ia para as festas da corte de espada à cintura, como todos os fidalgos, mas por não ser guerreiro era gozado pelos restantes. Após várias gerações, os Silveira já serão reconhecidos militares. O castelo foi mandado construir pelo 2ª Barão D. Diogo, diplomata.

Igreja Nossa senhora da Assunção: edifício do séc. XIII, ampliado nos séc. XV e XVI, provavelmente durante a mesma altura da construção do castelo. Tem um painel renascentista no interior. Os túmulos do primeiro barão do Alvito e sua esposa encontram-se aqui (estava fechado, sem indicação de possibilidade de visitas).

Ermida de são Sebastião: do séc. XVI, com arquitectura mudejar. Apesar do seu aspecto exterior simples, a sua riqueza está nos frescos que se pensam ser de José Escobar (estava fechada, sem indicação de possibilidade de visitas).

Grutas do Alvito: grutas mouras de exploração de calcário através de mão de obra escrava. Pensa-se que serviam de saída alternativa a túneis que vinham do castelo mouro. Hoje, dizem os mitos urbanos que os túneis são assombrados.

Recomendações:

Conversem com as pessoas. Primeiro, porque são a melhor fonte de histórias da região e fazem as melhores recomendações. Depois, porque estas são regiões mais fechadas, com menos turistas e menos habitantes, onde sabe bem a todos ter dois dedos de conversa.

No Alvito pudemos apreciar a dinâmica local. Sabemos que o Alentejo é muito quente nas horas do calor de verão, por isso não é habitual ver muita gente na rua. Vimos alguns senhores sentados em bancos à sombra a jogar cartas e por momentos esquecemos que há isolamento social e uma pandemia no ar.

Onde dormir:

Opções não faltam, nós escolhemos o Tivoli Évora Ecoresort, parceiro da iniciativa #EuFicoEmPortugal. O hotel é premiado, principalmente na área da sustentabilidade, e foi construído a pensar na área envolvente. A cortiça é um dos seus elementos e as suites são numa arquitectura típica da região. A sua piscina infinita também é premiada. Tem o selo Clean and Safe e o espaço é tão inserido na natureza que vimos de noite uma coruja e um ginete (gato bravo), sendo garantidos o céu estrelado e o silêncio. O pequeno-almoço funcionava num sistema de marcação de hora, em buffet servido diretamente pelos funcionários, de acordo com as medidas sanitárias.

Ficámos um bocadinho frustrados por termos visto tão pouco na região, falha nossa, que não confirmámos se os museus estavam abertos ou fechados. Por outro lado desfrutámos ao máximo do hotel, terminámos sempre os dias na piscina infinita a ler.

O hotel vende chocalhos Pardalinho.

Onde comer:

No primeiro jantar optámos por ir ao Rei dos Frangos, em Évora. Fomos recebidos com simpatia e um serviço rápido, até porque, com a pandemia, a churrascaria em take-away tornou-se um forte e está sempre em funcionamento. Para além da qualidade da comida, a relação de preço é ótima.

Almoçámos n’O Portão, em Ferreira de Alentejo, e não podíamos ter escolhido melhor. O porco preto com migas e a sopa de tomate com garoupa foram ótimas escolhas e representaram bem a gastronomia local. O espaço tem graça também pela sua decoração. É um restaurante familiar.

Jantámos no ultimo dia em Évora, no Molhóbico, dentro das muralhas e com uma esplanada grande. Comemos dois hambúrgueres black angus, que eram bastante bons. O espaço por dentro é castiço, fazendo lembrar as tabernas antigas.

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365 dias no mundos estiveram no Alentejo de 23 a 25 de junho a convite do Tivoli Évora Ecoresort

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