Gostamos de free walking tours, aliás, já falámos disso várias vezes. Em Bilbau muitas começam na Praça em frente ao Teatro Arriaga. Queríamos fazer a visita do Teatro, mas calhou em simultâneo com a Free Walking Tour que tínhamos marcado. Entre as duas ganhou a visita ao teatro, em castelhano. Mas por que é que preferimos assistir ao tour do teatro? Porque o edifício é uma das marcas da zona antiga da cidade, da Bilbau antes de Guggenheim.
Depois de pagar o bilhete para a visita, somos recebidos por um funcionário, jovem, que nos contará mais sobre a história do edifício e da própria cultura teatral da cidade. A visita começa com um vídeo que mostra um pouco da vida do teatro.
Chegámos à conclusão que pode pensar-se que este é um edifício “amaldiçoado”, porque desgraças não lhe faltaram ao longo da vida.
História:
Sabe-se que as representações na cidade estão documentadas a partir do século XIV e XV, mas só em 1799 abre na Rua Ronda o primeiro espaço dedicado às artes cénicas. Este primeiro espaço só funciona até 1816, porque é destruído num incêndio.
Em 1834, e durante 52 anos funciona o Teatro de la Villa em Arenal, até ser fechado por mau estado. Porque a cultura é uma parte importante da vida citadina começa a pensar-se num novo.
Em 1887, durante as obras para o novo edifício, morrem trabalhadores num desabamento.
A 1 de maio de 1890 inaugura-se o Novo Teatro de Bilbau, de Joaquín Rucoba, que começa a ser conhecido por Teatro Arriaga, o nome da praça (Plaza Maestro Arriaga). O teatro abre com La Gioconda. O edifício possuía luz elétrica e um serviço de streaming, por 15 pesetas, ouvia-se a ópera por telefone. Inovador!
A 22 de dezembro de 1914 um incêndio destrói todo o edifício e decide-se reconstruir o teatro. Muita gente começa a contestar as obras e há até quem sugira demolir todo o edifício. As obras de reconstrução demoram 4 anos e é inaugurado em 1919, com Don Carlo, de Giuseppe Verdi.
A 31 de janeiro de 1924 a Sociedad Nuevo Teatro de Bilbao entrega a exploração do edifício à família Diestro, e volta a entregar em 1963 a Trueba. No entanto, durante os anos da ditadura de Franco a cultura basca sofre, e o teatro funciona só como cinema.
Declara-se o Casco Viejo conjunto histórico-artístico englobando o Teatro, em 1972. O edifício passa a ter outra importância.
Em 1978 o Teatro passa a ser gerido pela Câmara, que inicia obras, mas em 1983 todo o teatro sofre nas inundações da cidade. A água chega até ao segundo andar. O edifício é alterado, retiram-se as lojas do piso térreo, acrescenta-se a escada imperial. Volta a reabrir em 1986 e quatro anos mais tarde celebra o 100º aniversário.
O edifício:
Na escadaria imperial temos o busto de Arriaga, o lambrim marca até onde a água chegou em 1983.
A sala foi reconstruída ao esplendor de 1890, em estilo neo-barroco. Símbolos não faltam na sala, do lado esquerdo do palco temos Cervantes e à direita Dante e as datas mais importantes do edifício estão gravadas, como 1890, 1919. Tem 4 pisos, sendo o quarto de influência árabe, sem grande explicação para isso.
Hoje em dia tem algumas peças em cena, com uma lotação de 1500 lugares. As peças mais complexas vão para o Palácio de Congressos.
No segundo andar temos o Foyer, espaço de espera onde se aguarda entre actos, o bengaleiro e os WC’s.
Na Sala Isabelina vemos fotos antigas e ouvimos parte da história inicial. Somos poucos o que transforma a nossa visita quase numa conversa de amigos.
A Sala Oriente Express é uma sala utilizada para as figuras ilustres aguardarem, e chama-se assim, porque pela sua decoração e espelhos dos dois lados parece a carruagem dum comboio antigo.
A visita termina junto à exposição de trajes onde alguns dos fatos das peças estão expostos. O guia conta histórias sobre eles e nós vemos como os fatos se encontram gastos e como serão pesados.
Curiosidades:
Juan Arriaga é conhecido como o Mozart espanhol. Aos 11 anos já compunha e uma das suas óperas mais emblemáticas é os “Escravos Felizes”. Foi escrita aos 13 anos e esteve em cena. Aos 18 anos dava aulas em Paris, tinha um repertório invejável que se perdeu. Morreu de tuberculose a uma semana de fazer 20 anos.
A família real ou outras visitas ilustres tinham um camarote privado, o palco de honra, mas nos últimos anos como o rei assiste, juntamente com os mais ilustres da cidade, de mais perto do palco, tem sido utilizado pela equipa técnica.
No foyer há um espetáculo anual, lêem-se clássicos, chama-se Lectura ininterrumpida de clásicos. Acontece entre maio e junho.
O tapete que contorna o foyer e desce a escada imperial é uma peça única, feita à medida. No meio tem o brasão da cidade com os 4 símbolos, os lobos, a igreja de Santo Antão, a ponte e a ria.
- lobos: são as armas da Casa de Haro, fundadora da cidade. Pode ser por várias razões, o fundador era Diego López, filho do lobo, ou porque reza a lenda que na batalha de Padura, Juan Zuria viu dois lobos com dois cordeiros na boca.
- ponte: simboliza o primeiro ponto navegável da ria e relações comerciais.
- igreja: substitui o castelo nos brasões iniciais, a igreja de Santo Antão foi construída no lugar onde ficava a torre.
- rio: simboliza a ria de Bilbau.
O símbolo nos vitrais das portas, que muitos pensam ser um caracter chinês, são apenas o monograma do teatro, um T e um A.
As festas da cidade (Aste Nagusia) começam na varanda do Teatro Arriaga. Mari Jaia é a personalidade das festas, e são 9 dias de festejo com música, teatro, dança, bebidas e comida. Ocorrem em agosto.
Visitas guiadas:
Ocorrem entre as 11 e as 13h de sábado e domingo e podem ser em euskera, castelhano e inglês. Custam 5€ e demoram cerca duma hora. Leva-nos do Hall ao Foyer e entramos na sala Oriente Express, sala Isabelina, vemos a exposição de trajes das óperas e posteriormente à sala de espetáculos.
Compram-se nas bilheteiras, ou pela internet, mas acresce taxa. Sabe-se que em período de pandemia há condicionamentos. Informem-se localmente.
A programação está também online, na página do teatro.
Sobre Bilbau:
Podem ler a nossa opinião sobre Free Walking Tour
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3 Responses
Caiu-me no e-mail uma publicidade a Bilbao 5 minutos antes de chegar aqui. O universo conspira 🙂 Quero muito (re)visitar, mal me lembro da última vez.
Eh eh eh! Tens de ir. Aqui o universo conspira com Viena, ainda faltam conhecer uns quantos museus.
Adooooooro Viena!