A Madeira foi eleita o melhor destino insular da Europa 10 vezes nos últimos 8 anos (2013,14, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 23 e 24). Foi também considerado o melhor destino insular do mundo em 2023. Porquê? O que é que torna este nosso arquipélago especial, principalmente em disputa com ilhas como Canárias, Chipre, Grécia, Sardenha, Malta e outras? Perguntem aos “Lucky Ones”, os gibraltinos que se refugiaram na Madeira durante a Segunda Guerra Mundial (1940), aos ingleses que adoram o destino ou a um madeirense. Ou então leiam tudo o que nós descobrimos que o arquipélago oferece.
Todo o arquipélago foi descoberto em 1419, quando o reino tentava expandir o seu território, mas só em 1425 começou a receber portugueses de norte a sul para o povoar. O arquipélago é constituído pela Madeira, Porto Santo e desertas e selvagens. Em Portugal continental sabe-se que as ilhas fazem parte do país, mas a maior parte do tempo quase nos esquecemos que elas existem, infelizmente. Não nos levem a mal com este “quase nos esquecemos”, pois só queremos dizer que é um destino que valorizamos menos do que devíamos. E porquê? Talvez pela distância, já que em linha recta fica a 960 km de Lisboa e 1 hora e pouco de viagem de avião ou quase um dia no ferry previsto a partir de Portimão.
O Tiago conhece melhor que a Raquel porque tem lá família. Juntos fomos duas vezes, uma no ano em que casámos e agora apresentar a Maria à família. Havemos de voltar muitas mais.
Quando visitar
O clima no arquipélago torna-o apetecível todo o ano, pois no inverno a temperatura ronda os 17º. De inverno pode ser muito chuvoso, mas chover dum lado da ilha não implica que noutro ponto o céu não esteja radiante.
É um sítio bom para começar o ano já que o Funchal é famoso pelo seu fogo de artificio de passagem de ano. Em fevereiro temos o carnaval. Em abril o trail (MIUT) e em maio o grande evento da ilha, a festa da flor. Junho, julho e agosto são época de festas e festivais de música. Em setembro temos a festa do vinho. Dezembro permite juntar as festas de natal e de ano novo. Nós em 2015 vimos o majestoso fogo de artifício e garantimos que vale a pena, mas percebemos que seja uma época bastante alta para a maioria dos bolsos. Descobrimos que junho é mês de capacete, por isso menos apetecível para praia.
Localidades
As ilhas não são muito grandes, o que torna a Madeira fácil de visitar de carro alugado ou autocarro. Já experimentámos viajar no Hop-on Hop-off da Yellow Bus e gostámos. Apesar disso há muito que visitar. A Madeira divide-se pela Costa Sul (Funchal, a capital de todo o arquipélago), a Costa Leste (Santa Cruz e Machico), a Costa Oeste (Câmara de Lobos; Ribeira Brava; Ponta do Sol e Calheta), a Costa Norte (Porto Moniz; São Vicente e Santana) e depois temos Porto Santo, na ilha homónima. Falamos localidade a localidade porque cada uma tem as suas atrações e particularidades. As desertas e as selvagens não têm localidades.
Ilha da Madeira
Funchal: Comecemos pela capital, provavelmente o sítio que serve de alojamento a quase todos os visitantes. Em dois/três dias ficam a conhecer o principal da cidade. Claro que é possível visitar a cidade em apenas um dia se tiverem uma estadia curta na ilha. Os pontos altos são o Jardim Tropical Monte Palace, o mercado dos Lavradores, a Rua de Santa Maria, os teleféricos e claro sair à noite para beber uma poncha. A maioria dos museus são aqui. E de onde vem o nome? Do funcho.
Câmara de Lobos: quando se descobriu a ilha havia uma grande comunidade de lobos marinhos, daí o nome. Zarco (descobridor da ilha) viveu aqui, a primeira povoação criada na ilha. Dizem que a espetada nasceu aqui, num bar transformado no restaurante “As Vides” e a poncha do pescador também. O vinho da Madeira é produzido no Estreito da Câmara de Lobos e a Festa das Vindimas é cá. No miradouro Winston Churchill, sentou-se o próprio Churchill para pintar a baía recheada dos “Xavelhos”, barcos especializados na pesca do peixe-espada preto, em 1950, depois da Segunda Guerra Mundial.
Ribeira Brava: região agrícola que deve o nome ao caudal rebelde duma ribeira que ali passa. Agradeçam a esta região a banana, batata doce e o vinho. Aqui fica o Museu Etnográfico da Madeira, o Mosteiro de São Bento, a Fajã dos Padres (estância turística) e o Calhau da Lapa. A primeira central hidroelétrica da ilha foi construída aqui, em 1953.
Calheta: calheta significa ancoradouro, e terá sido o porto que João Gonçalves Zarco usou. Aqui fica o MUDAS, Museu de Arte Contemporânea da Madeira. O projecto é de Paulo David e é bastante relevante em termos arquitectónicos. O Morgadio de Vale dos Amores, onde está o MUDAS, pertenceu à família de Zarco e a obra aproveitou a casa original do século XVI.
Ponta do Sol: como o nome indica aqui o sol é mais quente e mais brilhante (dizem). Daqui saem as canas de açúcar e as bananas. O Paul da Serra, único planalto da ilha, fica aqui, a 1500 metros de altitude. O por-do-sol de referência vê-se aqui.
Porto Moniz: a estrada que a une a São Vicente é uma das mais bonitas da Madeira. A estrada foi escavada na encosta depois da Segunda Guerra Mundial. Hoje em dia tem alguns tuneis, para evitar a derrocada de pedras, mas continua a ser atravessada por quedas de água. A grande atração da região são as piscinas naturais.
São Vicente: na foz da ribeira existe uma capela na rocha de basalto. Pode-se visitar o Núcleo Museológico da Rota do Cal, caminhar daqui até às pedreiras são 30 minutos. A famosa cascata o véu da noiva fica na antiga estrada que liga São Vicente e Seixal.
Santana: aqui moram os bragados, pois em 1550 chegaram “povoadores” de Braga. Deve o nome à capela de Santa Ana. Santana é o maior postal da Madeira. As suas casas triangulares com o seu telhado de palha são dos pontos mais visitados.
Machico: é uma cidade muito recente, desde 1996, mas relativamente importante. Aqui atracaram Zarco e Tristão Vaz Teixeira. Diz o mito urbano que Robert Machim e Ana d’Arfet chegaram antes que os portugueses à ilha. Querem ir a Marrocos sem sair da Madeira? É mais ou menos possível, já que as areias da Praia da Banda Além vieram de lá. Encontram aqui o Museu da Baleia e a Ponta de São Lourenço. Da Ponta de São Lourenço vêem-se as desertas e Porto Santo. A ponta de São Lourenço é o ponto mais a oriente da ilha.
Santa Cruz: aqui fica o busto do Ronaldo, ai, o Aeroporto Internacional da Madeira Cristiano Ronaldo. Na Camacha jogou-se futebol pela primeira vez e recebe muitos turistas pelo folclore do Bailinho da Madeira. Na Ponta do Garajau pode-se fazer mergulho e fica o Cristo Rei. O bordado da madeira também é daqui. Em 1896 Michael Grabham colocou o relógio da Igreja de Walton, Liverpool, na Quinta da Camacha, tornando-se um marco da Camacha. Hoje fica no Café Relógio. Os três ilhéus que constituem as Desertas administrativamente pertencem a Santa Cruz.
Ilha do Porto Santo
A ilha fica só a 500km de África, metade da distância à Europa. O chamado paraíso, já que a água é temperada e pode-se fazer praia o ano todo. Encontra-se aqui o Museu Cristóvão Colombo, que remonta à época em que ele viveu aqui. No Pico Ana Ferreira fica o “piano”, umas colunas em forma de prisma. Na Portela existem moinhos de vento. Se querem uma praia deserta têm de ir ao Porto dos Frades. Há dois trilhos procurados.
Restantes
Desertas: pertencem a Santa Cruz. Têm a última colónia de lobos marinhos do arquipélago. Devido à falta de água doce todas as tentativas de criar uma povoação na ilha fracassaram. Já foram de propriedade privada, mas o estado português comprou-as e hoje são uma reserva.
Selvagens: pertencem ao Funchal. É preciso uma autorização especial para as visitar. Também foram de propriedade privada, o estado português comprou-as em 1971.
O que visitar
Monte: no Funchal deve-se subir até ao Monte de carro ou teleférico e visitar o Jardim Tropical e a Igreja, depois podem descer nos carros de cesto.
Mercado dos Lavradores: fica no centro do Funchal. Vão encontrar vendedoras com o traje típico e ambiente turístico, mas não se acanhem, comprem fruta ou especiarias. Nós comprámos algumas, que desconhecíamos.
Vinho da Madeira: devem visitar um produtor deste vinho fortificado. A história do vinho começa com o Infante D. Henrique que quer “roubar” o mercado do vinho aos venezianos e genoveses. Nós pensámos ir ao Henrique Menezes Borges (HM Borges), apenas influenciados pelo programa The Wine Show, depois recomendaram-nos o Madeira Wine Company, mas não tivemos tempo de ir a nenhum.
Street Art Tour: visitem a Arte Portas Abertas, na Rua de Santa Maria, no Funchal. Pintaram-se portas de edifícios abandonados e tornou-se uma atração local. O projecto estendeu-se a outras ruas.
Pico do Areeiro: é o terceiro ponto mais alto da ilha, com 1818m de altitude. Tem um vistoso miradouro e pode-se fazer uma caminhada até ao Pico Ruivo, o ponto mais alto. O trilho PR1 permite partir do Pico do Areeiro e chegar ao Pico Ruivo, mas passando pelo segundo ponto mais alto da ilha, o Pico das Torres.
O aumento de turistas tem levado a alguns constrangimentos nas estradas, porque é normal encontrar carros mal estacionados. Passou a haver autocarro por 3€, neste momento (agosto/2024) dois horários diários que pode ser insuficiente e parque de estacionamento. O mais próximo do Pico custa 4€/h e os mais afastados 2€/h.
Pico Ruivo: é o ponto mais alto da ilha com 1862m de altura. O seu miradouro é o terceiro ponto mais alto do nosso país. Se o céu estiver limpo, avista-se muita coisa, como o Curral das Freiras, as diversas achadas de Santana e o vale da Ribeira Grande e de São Jorge. A vereda do Pico Ruivo leva-nos desde a Achada do Teixeira até ao Pico (PR 1.2)
Cabo Girão: o cabo mais alto da Europa (580m) conquista pelo seu miradouro com plataforma em vidro. A vista é privilegiada para a fajã do Rancho e Cabo Girão, Funchal e Câmara de Lobos. Fica em Câmara de Lobos. A Condé Nast chama-lhe um dos penhascos com a melhor vista do mundo. Desde 2023 passou a ser cobrada a entrada a adultos (2€), crianças e residentes não pagam. Existe estacionamento, não conseguimos perceber se continua a ser gratuito. Há WC, lojas de souvenires e sítios onde comer. É possível apanhar o teleférico do Rancho para a Fajã do Cabo Girão. Custava 5€ descer e subir.
Fajã dos Padres: O teleférico (10€) veio substituir o velho elevador, mas também se pode chegar de barco. Tem restaurante e um turismo rural (80-110€) e dizem que um por-do-sol lindo. Não podemos confirmar porque funcionava das 10-18 e nós chegámos mais tarde. Pode ser feita visita guiada por 19,5€ (excepto terças e sábados).
Curral das Freiras: é da Eira do Serrado e do Paredão que se consegue ver o refúgio que as freiras encontraram no meio das montanhas em 1560, quando fugiam dos piratas franceses. Acontece aqui a Festa da Castanha em Novembro. Demorámos 3 dias a encontrar o céu limpo na Eira do Serrado para conseguir espreitar Curral das Freiras.
Piscinas naturais de Porto Moniz: a verdadeira imagem de marca da Madeira quando se fala de praia ou mar. No instagram encontram imensas fotografias tiradas ali. Se quiserem mergulhar num espaço menos concorrido há outras menos procuradas. Custam 3€ (grátis até aos 3 anos).
Casinhas de Santana: pensa-se que estas casinhas inicialmente de madeira, existiam por toda a ilha. O seu telhado de colmo muda a cada 3 anos. No andar de cima fica o sótão.
Percurso Pedestre: a Madeira é famosa pelas suas veredas ou levadas. Nós já fizemos (2015) a Levada do Caldeirão Verde– PR9, intensa (ida e volta 13km), mas com um fim absolutamente fantástico. Com a Maria queríamos fazer uma fácil como a Vereda dos Balcões- PR11, a Levada do Risco-PR6.1, a Vereda do Jardim do Mar- PR20, a Vereda do Chão dos Louros- PR22, mas tínhamos a ideia de fazer a Queimada um Caminho Para Todos, que tinha acesso condicionado. Também pensámos nas PR1 (A Vereda do Pico Branco e Terra Chã) e PR2 (A Vereda do Pico do Castelo), no Porto Santo. Todos estes são fáceis e implicam um percurso inferior a 4km ida e volta. Fizemos a dos balcões e parte da Vereda da Ponta de São Lourenço (PR8), agora em 2021.
Grutas e Centro do Vulcanismo de São Vicente: visitam-se em 30 minutos por 8€, com guia. Foram as primeiras grutas a abrir em Portugal. São oito tuneis vulcânicos com câmaras e lagos de água. Fomos em 2015 e gostámos.
Ponta de São Lourenço: a ponta mais oriental da ilha tem um percurso não muito difícil de fazer até à Casa do Sardinha. Vale a pena, mesmo que não consigam fazer o percurso (PR8- Vereda da Ponta de São Lourenço de 3km), tentem ir até aos miradouros. Há autocarros que vos levam até à rotunda de onde parte o trilho. Também passou a ser pago o acesso, 1€.
Farol da Ponta do Pargo: fica na ponta mais ocidental da ilha e foi criado em 1922. A torre mede 14 metros de altura e possui um museu no seu interior. É todo visitável, mas têm de subir os degraus.
Posto Florestal do Fanal: na nossa opinião não há sítio tão “místico” na ilha como este. Devem passar aqui algum tempo, porque apanhar o céu limpo não é sinal de que a névoa não venha aí. O trilho PR13 (Vereda do Fanal) inicia em Assobiadores (Paul da Serra) e tem 10,8km
Floresta Laurissilva: este tipo de floresta húmida típica da ilha ocupa 20% do seu território. Caracteriza-se pelas suas arvores e arbustos e pela intensa cor de verde que verão ao percorrer veredas ou levadas. É património mundial natural UNESCO e faz parte do Parque Natural da Madeira.
Conhecer as desertas de barco: há várias empresas que fazem o passeio mas todas cobram 80€ por um passeio de 8h com almoço.
Rota dos cetáceos: quem quer ver golfinhos ou baleias? Quase todos, pensamos nós. A Madeira é um bom destino para partir em busca de cetáceos. Há várias empresas, informem-se e procurem as que sejam eticamente responsáveis. A Raquel viu dois golfinhos durante a viagem até ao Porto Santo.
Há muita coisa que ver fora desta lista.
Onde comer
As vides: Espetada em pau de louro.
O Lagar: aqui comemos espetada e o picadinho de vitela.
Casa de Pasto Justiniano: viemos em 2015, comer espetada, claro.
O Vermelhinho: neste quiosque comemos o prego em bolo do caco. (nota: a localização do google não estava certa)
Armazém do Sal: já é um restaurante diferente dos típicos, tal como eles se descrevem reina o requinte e a sofisticação no espaço e nos pratos. Gostámos bastante, não é barato, mas usámos os 30% de desconto do The Fork.
Quinta do Furão: viemos em família e gostámos muito. Tem uma bela esplanada. Faz parte do Hotel com o mesmo nome.
Design Center Nini Andrade Silva: o restaurante é panorâmico e foi-nos recomendado como um dos melhores do Funchal e com a melhor vista. Acabámos por não experimentar e é um restaurante caro.
Maktub: vale a pena vir aqui ver o por do sol, e só mais tarde descobrimos que também vale pela lagosta. É preciso reservar para jantar.
Como se deslocar
Há uns anos não poríamos a hipótese de circular de transportes porque nos parece pouco prático para quem quer mesmo conhecer o arquipélago. Portanto a solução seria alugar um carro. A Hertz forneceu-nos um jipe e só podemos dizer que alugar um 4×4 faz toda a diferença. Podem reservar um carro na Hertz através da internet. Recolher o carro e entregar o carro no aeroporto é fácil. O balcão de qualquer rent a car fica após a recolha das malas. O carro fica no parque no piso -4. Está tudo sinalizado. Nos últimos anos as coisas mudaram, os estacionamentos estão caóticos e caros, e muita coisa passou a ser paga. Pode ser vantajoso escolher circular de autocarros em alguns percursos mais concorridos pelos turistas.
Do Funchal ao Porto Santo podem ir de ferry ou de avião. Falaremos nisso mais à frente.
No Porto Santo é mais fácil circular de transportes e também falaremos nisso quando falarmos da nossa estadia na ilha dourada. Já agora acrescentamos que é possível andar de táxi, autocarro, alugar carro, moto 4.
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365 dias no mundo estiveram na Madeira de 30 de maio a 8 de junho de 2021
6 Responses
A Ilha da Madeira parece um destino maravilhoso! Uma ótima combinação de atrações históricas e natureza, amei as paisagens.
Sim, é um destino adorável.
Lugar lindo, pelas suas fotos da pra ver que o lugar é maravilhoso.
A Madeira é linda
Que interessante seu artigo sobre a Madeira, em Portugal. Além do vinho (que temos que experimentar, claro), achei muito diversificada as opções de passeio. Fiquei encantada com as portas pintadas em Funchal.
Só um detalhe que me pareceu bem curioso. Você disse que os portugueses não valorizam tanto a região por conta da distância de 1h30 de voo, por exemplo. Aqui no Brasil temos distâncias tão continentais que esse tempo de voo é o que levamos do Rio para Brasília, a capital federal. Assim, achamos pouco tempo esse tipo de distância. Como as perspectivas podem ser diferentes, não é?
Verdade, temos essa experiência com Angola em que a noção local de perto ou longe é muito diferente de Portugal.