O Vimioso, em plena terra fria transmontana, é rico em tradições e história e por isso merece um bom roteiro. Está à porta de Espanha, Mogadouro, Miranda do Douro, Macedo de Cavaleiros e Bragança e pode ser visitado em várias temáticas. Isso permite criar diversos roteiros, como relembrar os tempos de contrabando, conhecer o castelo de Algoso, estudar a flora local, fazer o percurso dos 9 passos, visitar a arquitetura religiosa, descansar num turismo rural de uma das aldeias do concelho, conhecer a gastronomia local ou ir às termas. Noutro artigo já falámos das 5 coisas que se destacam no Vimioso.
O concelho fica no vale de três rios: Sabor, Maçã e Angueira – e pertence à Rota do Azeite e à Rota da Terra Fria. A Terra Fria é composta por Vinhais, Bragança, Vimioso, Mogadouro e Miranda do Douro. Só boa vizinhança.
Como chegar
Chegar a Vimioso a partir de Lisboa é uma viagem intensa, daí termos decidido sair cedo de casa. Às 9h já estávamos a carregar o carro. Para quem cumpre as regras de trânsito e não pára como nós, por causa do tempo de permanência no ovo, consegue chegar ao Vimioso em 4h30m. Nós optámos por parar na Guarda para um almoço com vista para a Sé.
Do Porto a viagem é mais rápida, demorando cerca de 2h30m.
Onde ficar
Nós ficámos no Curral da Avó e só podemos dizer maravilhas do atendimento e cuidado da Maria João. O alojamento fica em Caçarelhos, uma das aldeias de Vimioso. Um local pacato, com piscina, que oferece 4 quartos. Podem reservar todo o espaço ou apenas quartos e, a pedido, podem ser servidos jantares. Se querem um tratamento cuidado ao detalhe é aqui.
O que comer
O fumeiro é rei, bem como as postas de vitela mirandesa. A carne é certificada e vem do mesmo local, Cooperativa Agro-Pecuária Mirandesa, CRL. À mesa raramente faltam os queijos e presunto e come-se muita alheira, o “chouriço dos judeus”, mas também não faltam morcelas, botelos e salpicões.
Não é só carne que se come, há também tradição de cozinhar bacalhau e peixinhos do rio.
Nos doces há a bola doce, mas fomos conquistados pelos pastéis de amêndoa. O queijo com marmelada e outros doces foram também servidos como sobremesa, combinação de que somos fãs.
E onde se podem comer estas iguarias? Nós experimentámos o restaurante A Vileira e o Hotel Rural Senhora de Pereiras, dois restaurantes que também oferecem alojamento.
O que visitar
Um roteiro pelo Vimioso não tem que enganar, comida não pode faltar, falamos portanto de gastronomia. No entanto as termas e o PINTA também são imperdíveis.
Este concelho tem várias freguesias com importância individual, algumas são importantes pelo papel que já tiveram ou que ainda têm. Por exemplo, Algoso foi sede de concelho. O nosso roteiro em Vimioso, passou várias freguesias do concelho.
Termas de Terronha: não são das maiores termas do país, mas vale a pena a visita, realçando-se o atendimento cuidado. As águas de Terronha ficam no vale do rio Angueira e têm vários efeitos terapêuticos, sendo as termas vocacionadas para o sistema músculo-esquelético, reumatismo e vias respiratórias. Usámos a piscina e fizemos Duche Massagem Vichy e Hidromassagem.
Igreja Matriz do Algoso: foi das poucas igrejas que apanhámos abertas para visitar, tendo sido até convidados a ficar sozinhos, desde que fechássemos a porta quando saíssemos. Foi aqui que demos conta da proximidade a Espanha e a dificuldade que alguns idosos já têm em falar só português. O percurso 9 passos começa aqui.
Castelo do Algoso: podem visitar a aldeia com as suas igrejas e depois subirem até ao castelo ou fazer o percurso dos 9 passos. Gostámos da lenda do castelo: dizem que um agricultor foi lavrar as terras do patrão e levou o filho. Na fraga onde tinha deixado a criança não a encontrou e no seu lugar estava um crocodilo. O pai matou o crocodilo e tirou de dentro a criança ainda viva, fazendo uma capela de homenagem no local. Dentro encontra-se a pele de crocodilo, nós não a vimos porque a capela estava fechada, mas já nos disseram que está ao lado do altar e que dá para espreitar de fora.
Pelourinho do Algoso: Foi vila e sede de concelho até 1855, quando foi integrada no concelho de Vimioso. O pelourinho pensa-se que tem origem no foral manuelino de 1510. No entanto, Algoso é referenciado em 1230 numa concordata assinada pela Ordem de Malta e Templários. Fascinante, não?
se o vosso roteiro incluir o percurso do Castelo de Algoso passam por aqui.
Cabanal de Caçarelhos: não chegámos a fotografar. É um edifício do século XIX com 13 pilares. Fora realiza-se a feira de Caçarelhos todos os meses, sendo também ponto de encontro das gentes da terra. Os padeiros, doceiros, os fabricantes de fumeiro podiam aqui expor e vender os seus produtos.
Capela Santo Cristo Caçarelhos: reparámos logo nela, já que era muito perto do curral da Avó.
Casa Planalto Mirandês: no primeiro dia quisemos dar um passeio por Caçarelhos a pé, acabámos por não ir longe, parámos aqui no museu, que estava fechado, porque o piso não era adequado a carrinhos.
Fonte da Andoia: é uma fonte de mergulho. Sabem o que isso quer dizer? Para encher a bilha, cantil ou o que quiserem tem de ser mergulhada no tanque rectangular.
P.I.N.T.A.: o Parque Ibérico Natureza e Aventura foi onde aprendemos mais sobre a região. Os hábitos, a cultura, as ferramentas dos trabalhos agrícolas, a fauna e flora foram-nos apresentados aqui. A exposição permanente divide-se em “As fragas”, “As encostas do rio Sabor”, “Os lameiros”, “O bosque”, “Os rios”, “Os cultivos” e “As aldeias e as suas gentes”. Dentro do edifício há uma zona de observação de aves. Não caçámos nós as borboletas com redes, mas vimos as suas asas ao microscópio. O Tiago mostrou ser perito em identificar a espécie das borboletas. Também aprendemos com o Sr. Aníbal e a Dona Rosa a arte, quase abandonada, dos escrinhos, cestos típicos feitos com silvas e centeio. O Sr. Aníbal diz-nos que gostava que houvesse alguém a quem ensinar, mas como a preparação do material dá muito trabalho (apanham-se as silvas e o centeio e depois têm que ser arranjados para confecionar os cestos, e mesmo nesta fase é necessária força para que fique bem apertado) não há interesse. O espaço tem um grande quintal, onde fizemos um piquenique.
CALP: junto ao PINTA encontra-se o centro de atividades lúdico-pedagógicas do burro de Miranda. Aqui ensinaram-nos a pentear, colocar a albarda e a passear o burro. Contaram-nos alguns factos sobre as raças e características de cada um deles e foi-nos explicada a importância que têm em terapias com crianças. O espaço é promovido pela AEPGA – Associação para Estudo e Protecção do Gado Asinino, que permite apadrinhar um burro a partir de 30€/ano.
Pontes: não faltam pontes em Vimioso, mas a única que atravessámos foi a ponte do Algoso, que ainda se acede a partir de uma calçada medieval. Não faz diretamente parte do percurso dos 9 passos, mas não resistimos a fazer o pequeno desvio. As pontes são romanas ou românicas. Não deve faltar no vosso roteiro em Vimioso.
ASAE, Núcleo Museológico: o museu nasceu quando a ASAE festejou os seus 12 anos. Aprende-se muito sobre o contrabando na região raiana, mas também sobre fiscalização e contrafação. O contrabando coexistiu dos dois lados da fronteira. Gostamos muito desta parte da história portuguesa, da necessidade que as famílias tiveram em encontrar outras formas de sustento, de venderem o que produziam e de comprarem o que não tinham deste lado da fronteira, mas que se encontrava tão perto, a uma caminhada a pé, feita na calada da noite.
Igreja Matriz de Vimioso: a Igreja é um ponto de interesse também pela proximidade aos pastéis de amêndoa da Pizzaria Pires… Mais a sério, em frente à igreja existia uma fonte, conseguem ver em fotografias, essa fonte foi mudada para uma zona lateral no século passado. Esta igreja tem uma característica engraçada, o piso é inclinado.
Pelourinho de Vimioso: fica perto da Casa da Cultura, onde carimbámos o passaporte. O foral manuelino é de 1516, mas tal como Algoso, já tinha sido referenciado muito antes (1258). Não é um pelourinho muito trabalhado e o brasão talvez seja dos Condes do Vimioso.
Atalaia de Vimioso: permite uma vista 360° sobre a região, que tivemos o prazer de perceber de noite, enquanto víamos o céu estrelado e a lua gigante. Juntamente com o castelo de Vimioso (já desaparecido) fazia a proteção da região. Consegue-se ver a fronteira, daí o ponto estratégico.
Casa da Cultura de Vimioso: neste edifício de dois pisos encontrámos uma exposição temporária sobre a máscara e o museu etnográfico que, juntamente com o PINTA, nos ensina muito sobre a região, tradições, formas de trabalhar e de viver. A exposição que vimos é de Balbina Mendes e intitula-se “o rosto, a máscara intemporal”.
Pombais de Uva: nesta aldeia encontram a maior concentração de pombais tradicionais. Não conhecíamos este feitio em ferradura. Para preservar estes pombais foi criada a associação Palombar (pombal em Mirandês), um trabalho que antigamente era feito pelos agricultores. Comiam os borrachos (pombos) e usavam o pombinho (estrume) como fertilizante.
365 DIAS NO MUNDO foram ao Vimioso de 25 a 27 de junho de 2021 a convite das Terras de Trás os Montes
Este artigo pode conter links afiliados