SALVATERRA DE MAGOS: O DESCANSO EXÓTICO DE LUXO

A visita até Salvaterra de Magos foi puramente decidida com base no hotel. Não acontece com frequência, mas a chegada dum bebé muda muita coisa. Queríamos descansar sabendo que continuávamos perto de Lisboa.

Desde que a Maria nasceu que precisamos duns momentos para sair da rotina, momentos diferentes dos nossos habituais fins de semana fora antes dela nascer. Ela vai sempre connosco, afinal ainda é mãe-dependente, mas só passar a ter refeições feitas e poder ficar sem fazer nada já ajuda a manter a calma no meio do caos. Nem sempre nos apetece viajar para muito longe por 2 dias e desta vez escolhemos Salvaterra de Magos. E porquê? Porque ali fica o melhor alojamento que conhecemos em Portugal, neste momento.

Salvaterra de Magos fica a meio caminho de Santarém a Lisboa, em pleno ribatejo. O Foral é dado por D. Dinis em 1295, mas a importância da região é mais antiga podendo-se falar de Porto de Sabugueiro (Muge) como uma importante “estação arqueológica”.
Em 1383 ocorre o tratado de Salvaterra de Magos, acordando o casamento de Dona Beatriz com D. João I de Castela, que aproveita a morte do sogro para tentar ocupar Portugal. Se se lembram das aulas de história tudo se resolve com a Batalha de Aljubarrota. Com a construção dum paço real torna-se zona de caçadas, sendo o auge de frequência da corte após a construção de um novo Paço Real a mando de D. Luis (filho de D. Manuel I), em 1547. A vinda de tantos nobres para a região “obriga” a construir um teatro onde se ouviram grandes óperas e a praça de touros.
Conta-se a história do Marquês de Marialva ter vingado a morte do filho em arena matando o touro, sob o olhar de D. José I que proibiu as touradas. Fica já aqui o spoiler que é mentira, o conde dos Arcos morreu na região, mas não sob o olhar de D. José I já falecido à época. Houve realmente uma proibição de tourear, mas foi por decreto de D. Maria II e só durou 9 meses.
O terramoto de 1755 deixa o Paço em mau estado e Ludovice (Basílica de Mafra) participa no restauro. A decadência começa com as invasões francesas e um incêndio em 1817 destrói o Paço Real, os jardins, a arena de touros e o teatro. Sobraram a Falcoaria e a Capela Reais. Em 1824 o Marquês de Loulé é assassinado em Salvaterra de Magos, estragando os festejos de carnaval.

Onde ficar:

Não é costume começarmos por aqui… mas desta vez a parte que nos fez escolher o pouso foi mesmo o hotel.

Salvaterra Country House

O Salvaterra Country House é passar um portal, como fez Alice. Imaginem-se a atravessar o espelho quando passam os portões de aço corten. Vemos logo o imenso jardim com as suas canas de bambu e o lago com os peixes (carpas koi). Vamos até ao quarto e ficamos maravilhados. Geralmente o Tiago acha sempre caros os alojamentos para o que oferecem. Aqui, diz ele, não ter nada a apontar. Uma casa normal, de 4 quartos, todos com kitchenette, lareira, banheira e pátio privado. Dizíamos normal? Pois, era uma casa normal, mas foi transformada num espaço cheio de requinte e detalhes. A pegada ecológica é uma preocupação. Os sacos de lixo, os kit de amenities (Miraki), os chinelos, os dispensadores de gel duche, champô e álcool gel são personalizados, em vidro e de refill. Para a Maria temos muito mais que o habitual. Um berço de madeira, um aquecedor de biberões, uma toalha, um babete, um peluche, uma banheira e produtos de higiene orgânicos. O bar segue o conceito de honesty bar e nas televisões há netflix. Nada fica ao acaso.
A piscina não leva químicos e está sempre uma boia em forma de estrela do mar a convidar a banhos. Da piscina vêem a sauna e o banho turco em frente. Numa espécie de jardim labiríntico cruzam-se com o dutch shower a lenha, um espaço de convívio com sofás e fogueira e a cozinha comum. O pequeno-almoço chega num cesto de manhã à hora combinada. Traz fruta fresca, sumos, pão e croissants, doces, queijo, fiambre e manteiga. Vem também iogurte e granola. O café, chá, cappuccinos podem fazer no quarto com a sofisticada máquina de café. A loiça é costa nova, um dos serviços que tem apaixonado a Raquel.
Duas noites é o mínimo recomendado, mas se querem mesmo aproveitar o espaço e conhecer os arredores pensem num pouco mais. Para as restantes refeições: o Ribatejo é zona de boa gastronomia, restaurantes em Salvaterra ou Benavente não faltam. O próprio alojamento envia uma lista de sugestões por e-mail já informando horários, se têm take away ou se fazem entregas. Também existe uma cozinha comum que os hóspedes podem utilizar.

Preço:

  • 238€/2 noites durante a semana (época baixa)
  • 280€/2 noites durante a semana (época normal)
  • 140€/noite, em promoção 119€

Os preços são apenas exemplos consultados no site de reservas em outubro/21. (nota: as fotos são retiradas da página do hotel)

O que fazer:

Falcoaria: a única falcoaria real que resta. Vem duma época em que era uma arte muito apreciada pela nobreza portuguesa, tendo tido o seu forte em 1752, quando chegaram falcoeiros da Holanda. Degradou-se com a partida da família real para o Brasil. É vendido em hasta pública, mas a Câmara recupera-o anos mais tarde devido à importância histórica. São vários edifícios em torno dum pátio, mas destaca-se um circular, o pombal.
A arte começou quando se percebeu que se tinha mais a ganhar ensinando os falcões a devolver as presas ao treinador do que ao roubar-lhe a presa. Gostámos especialmente de perceber como os espaços se conjugam quando são contemporâneos. A família real vinha até Salvaterra de barco, esse barco está exposto no Museu da Marinha em Lisboa. A visita é guiada, visualiza-se um vídeo e há um falcoeiro, nosso caso uma falcoeira, a apresentar todas as aves e fazer o voo, que não se faz em dias de muito calor. A referir que é património cultural imaterial da humanidade pela Unesco. As visitas são de hora a hora e é grátis.

Passeios a cavalo: podem passear já que estamos em zona de lezírias. Aliás, falando em equinos, de barco no Tejo podem ver a ilha dos cavalos, e com muita muita sorte poderão assistir ao momento em que os cavalos atravessam o rio para chegarem e partirem da ilha.

Visitar Escaroupim: bastante fotogénica esta aldeia de pescadores atrai pelas pequenas cabanas de madeira coloridas. Os pescadores da região da Praia da Vieira não tinham o que fazer no inverno. Mudaram-se para as margens do Tejo e viviam nos barcos. Eram chamados os Avieiros. Mais tarde passaram a construir aldeias, com casas sobre estacas e telhados de palha. De aldeia pouco sobra, mas a fileira das casinhas às cores começa a ser comum nos feeds das redes sociais. Há o Núcleo Museológico da Casa Avieira e o Museu “Escaroupim e o Rio” e um restaurante panorâmico.


Andar de barco no Tejo: a região ribatejana tem das zonas mais bonitas do Tejo. Há uma riqueza nas margens, das aldeias pequenas de pescadores, aves, os cavalos que atravessam o rio em busca da ilha onde os vemos. Há uma paz neste passeio, que recomendamos ao final do dia. Podem fazer o passeio com a Rio a Dentro ou com a Cruzeiros no Tejo (Promartur). Marcámos através do hotel e custou 25€ por pessoa com Rio a Dentro.

Finalmente, queremos falar na aldeia avieira da Palhota. Pertence ao Cartaxo. Ao contrário de Escaroupim não há museus porque é um museu a céu aberto, ainda há quem viva nas antigas casinhas, pois toda a vida lá viveu. Gostámos de chegar aqui de barco e ver as casinhas e aquele ar de tempo parado. Dias, talvez semanas, depois da nossa visita vimos uma reportagem sobre a palhota e confirmámos a impressão que tivemos desde o rio. É um sítio de gentes simples, que mantêm vincada a sua cultura.

Capela do Antigo Paço Real: foi mandada construir pelo Infante D. Luis, quando mandou edificar o Paço Real. É um templo renascentista que foi alterado por D. Pedro II para uma linha barroca (altar em talha dourada, frescos no tecto).

Igreja de São Paulo: de 1296, fica na principal praça de Salvaterra. Foi muito danificada durante os terramotos, primeiro o de 1755 e mais tarde o de 1909. Lemos até que num desses terramotos a torre sineira ficou destruída e o sino era tocado por um soldado na câmara municipal.

Igreja da Misericórdia: é já de outra época, sendo de estilo maneirista e rococó. Conhecida como Capela da Vala. Era adjacente ao hospital da misericórdia.

Fonte do Arneiro: é de 1711 e tem duas bicas.

Ponte Ferroviária Rainha Dona Amélia: a ponte foi projectada por Gustave Eiffel em 1903. Tem 840 metros de extensão e liga Salvaterra de Magos ao Cartaxo. É inaugurada em janeiro de 1904 para a linha de Vendas Novas. Durante muito tempo foi a única passagem ferroviária sobre o Tejo. É convertida para o trânsito automóvel e pedonal em 2001.

Como podem ver pouco saímos do hotel, só para passear no Tejo e ir a Falcoaria, daí as poucas fotos do resto.

Onde comer:

Tira Picos: a 3 minutos a pé do hotel. É um restaurante que durante a semana serve principalmente almoços, tendo prato do dia. O serviço não é muito polido, mas é eficaz.

Sushi Al’Kawa: mandámos vir. Não conhecemos o espaço físico, mas pela entrega vale a pena. O menu estava na pagina de facebook.

A Tasca: uma casa de petiscos no largo dos Combatentes em Salvaterra de Magos. Comemos moelas, batatas bravas, os cogumelos (recomendamos!).

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365 dias no mundo estiveram em Salvaterra de Magos de 12 a 14 de julho de 2021

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