É assim tão fácil viajar com bebés como as redes sociais fazem crer? Sim e não. Confusos? Nós explicamos. Depende do bebé e da família. Se falamos de famílias ou casais habituados a viajar, é muito provável existir uma dinâmica que tornará tudo mais fácil. Se falamos de uma família ou um casal habituado a sair do lar só duas semanas nas férias grandes, provavelmente é mais difícil. Se falamos de um bebé que fica muito incomodado nas mudanças de ambiente, não interessa o tipo de família, ele vai ficar alterado e a precisar de mais mimo e colo. Por isso, viajar com um bebé é mais fácil se vocês o tornarem simples e prático.
O que queremos dizer com isto? Não pensem que os pais que viajam com bebés pequenos são heróis, simplesmente não contam os momentos maus. É tudo uma questão de expectativa. Se falamos de um bebé que já chora muito em casa e quase não dorme de noite, então com pais aventureiros tanto faz estar em casa como fora, porque nada se altera. Se falamos de um bebé que fica diferente (para pior) em alterações da rotina, com pais aventureiros, pode valer a pena arriscar dois ou três dias fora. Se falamos de um bebé calmo, mas que acorda de noite duas a três vezes (perfeitamente normal), com pais que gostam de sair de casa com controlo total da situação, podemos estar a falar de uma família que acha que não há condições para escapadinhas ou viagens com um bebé pequeno. Isto são três hipotéticos exemplos que não pretendem representar toda a gente.
Os bebés têm necessidades, como os adultos, mas ao contrário destes, só têm uma forma de as expressar, chorando. Chorar serve para pedir comida, fralda limpa, colo, aconchego, para indicar medo, sede, cólicas, sono, excesso de estímulos. Isto quer dizer que há bebés que vão chorar mais que outros, dependendo do que sentem e como se sentem. Viajar com bebés será facilitado se vocês conhecerem o vosso bebé e souberem como fazer para o manter feliz, mesmo em situações desafiantes. Isto pode querer dizer que a tarde programada para estar num museu se transforma numa tarde no hotel a deixar o bebé dormir no escuro e em silêncio. E está tudo bem.
A nossa experiência começou logo que a Maria nasceu, com sair de casa cedo, para rodar o bairro, ou seja o banho de sol (não literal) e consultas. Após as vacinas, decidimos que existiam condições para levar a Maria a passear. Foi a Aveiro, Fafe e Serra da Estrela. Decidimos gerir as distâncias com flexibilidade e mantendo pelo menos duas noites em cada local, não esticando os percursos de carro além das duas horas de viagem sem parar. Ninguém contactou com ela sem máscara ou lavar as mãos. Nesta primeira viagem levámos roupa a mais e fraldas controladas, a acabarem mesmo no regresso a Lisboa. A Maria comportou-se como normalmente, o que no nosso caso quer dizer bastante calma durante o dia e a acordar várias vezes de noite. Olhando para trás, talvez esta tenha sido das alturas mais fáceis para viajar com uma bebé tão pequena.
Aos 5 meses fomos à Madeira. Foi a primeira vez que lidámos com o problema: chegámos ao sítio X que queríamos mesmo ver, mas ela acabou de adormecer. Vale a pena correr o risco de tirar o ovo ou de a tirar só a ela e ela acordar? A nossa resposta foi: Não vale a pena. Houve sítios que fomos visitar à vez, outros onde só o Tiago foi. Foi igual em Maiorca, com a agravante de ser um destino de praia, e por isso termos ainda mais cuidado por causa do sol. Nunca esteve fora da sombra, muitas vezes dupla sombra, usou fato com filtro UV e protector solar. Íamos à piscina só ao final do dia com fato UV. Até aqui viajámos em amamentação exclusiva e dizemos que é bastante facilitador. Desde que a mãe esteja perto, o alimento está sempre assegurado.
Aos 7 meses voltámos à Madeira, já com a dinâmica de introdução alimentar. Como até aos 12 meses o leite continua a ser o alimento principal, havia alguma preocupação de horários, mas bastava andar com fruta e sopa atrás. Percebemos com o tempo que a Maria não adora sopa, por isso come muito mais se lhe dermos pratos compostos, e isso obrigou a maior planeamento das refeições. Vamos lá pôr os pratos na mesa: é fácil cozer legumes e uma proteína e moer tudo na varinha mágica, já pensar em almoço e jantar com proteína, acompanhamento rico em hidratos de carbono, fonte de ferro e vitamina C, já é mais complexo. Com uma cozinha equipada, mercados ou supermercados perto, tudo se resolve.
Não voltámos a andar de avião, mas fizemos mais algumas escapadinha: Vila Praia de Âncora, Caldas da Rainha, Elvas, Fátima, Salvaterra de Magos, Salvaterra do Extremo e Porto. As duas últimas (Elvas e Porto) já foram com outra consciencialização. Tínhamos que manter horários, ou pelo menos tentar manter a rotina de casa. Se em Elvas até nem correu mal, no Porto foi o caos. Foram duas semanas fora de casa, sempre a chegar a casas cheias e ela teve alguma dificuldade em se adaptar. Hoje já saímos de casa com lanches e pratos principais para a Maria ter sempre o que comer, mas como continua a mamar sabemos que há sempre esse aconchego.
Em termos de saúde já não saímos do país sem seguro, principalmente por causa da pandemia, e das surpresas de última hora que acontecem, como exigências de teste, mas principalmente da possibilidade de vir a testar positivo aquando do regresso. A Maria tem alergias, por isso viajamos com a sua medicação habitual, termómetro, cremes e tesoura. Tínhamos uma viagem intercontinental marcada, entretanto adiada, e já tínhamos falado com a médica de família e a pediatra. Para nós, é essencial a pediatra e a médica de família saberem o nosso destino pretendido e podermos contactar em caso de necessidade. Temos os três cartão europeu de doença e tentamos perceber como é o sistema de saúde do destino (distância, qualidade, etc.). De resto, acidentes acontecem e os seguros ajudam a lidar melhor com isso.
Se forem de avião e no destino for necessário alugar carro, não se esqueçam da cadeira auto. Ou levam de forma gratuita no voo (porão) ou alugam na rent a car. Nos aviões não esquecer que na aterragem e na descolagem o bebé pode sofrer com as alterações de pressão. Isso minimiza-se com a sucção (chupeta, biberão ou mamando). Damos algumas dicas sobre como viajar de avião com bebés noutro artigo. Não se esqueçam que dependendo do tamanho do bebé e se não tiverem cadeira auto podem ficar limitados no uso de serviços como uber, já que usam cadeiras auto para crianças maiores. Em road trips ganham espaço para levar tudo o que quiserem, mas também ganham a limitação do tempo máximo que o bebé deve viajar na cadeira auto. De transportes públicos é preciso pensar na questão de como viaja o bebé. Se vai ao colo, onde vai o carrinho/cadeira auto? Se quiserem pousar a cadeira auto têm que pagar o lugar. Nos autocarros do Funchal o nosso Donna, que já é um carrinho bastante pequeno, não passava no corredor e isso obrigou-nos a entrar pela porta das traseiras. É preciso também saber como é o destino para perceber se faz sentido levar carrinho ou se um marsúpio chega. Um carrinho dá muito jeito, mas se falamos de estradas acidentadas ou escadarias dificulta mais do que facilita. Um marsúpio é dos nossos artigos essenciais. Ajuda imenso a suportar o peso do bebé, sem dores nas costas, deixa-nos com as mãos livres e o bebé confortável para mamar ou dormir. Recomendamos uma consulta de baby wearing porque anda aí muito produto mau no mercado.
Quanto ao bebé e ao sítio onde vai dormir. Nós raramente levamos berço de viagem. Escolhemos hotéis que tenham o berço de forma gratuita. Quando são muito pequeninos podem dormir numa alcofa ou num ninho. A Maria prefere dormir em bedsharing connosco. Se é o modo mais confortável para todos? Não, mas é o que faz sentido e o que nos permite dormir mais, porque ela tem menos despertares.
Durante o dia há bebés que dormem bem as sestas no carro, marsúpio ou no carrinho, com esses poderão aproveitar todo o dia. Com bebés que precisam de silêncio e escuridão aproveitem a sesta para ler, ver séries ou mesmo dormir também.
Queremos partilhar um pequeno truque, no Booking.com simulem a reserva com bebé e sem bebé, e vejam sempre se o bebé é grátis ou se cobram os berços. Alguns alojamentos dizem explicitamente que o bebé é grátis, mas quando simulam dão-vos um quarto triplo. Nesse caso, sugerimos que contactem o alojamento e expliquem que simularam das duas maneiras. Notem que alguns hotéis cobram pela criança porque têm um amenity kit personalizado, como nos aconteceu no Salvaterra Country House.
Voltando à alimentação, até aos 12 meses, ter uma cozinha pode facilitar. Bebés que comam bem sopa, tenham em atenção à existência de varinha mágica ou robô de cozinha. Já há varinhas mágicas sem fios, por isso também podem levar. Bebés que façam BLW ou algo do género, podem sempre cozer os legumes da forma tradicional. Se têm medo que não haja alimentação igual à habitual no vosso destino, podem sempre levar uns boiões e purés em saquetas ou uns snacks para refeições de emergência. Grelhados, geralmente é fácil pedir para não porem sal. E lembrem-se, quase toda a gente adora bebés, com simpatia e educação geralmente consegue-se quase tudo. Nós seguimos páginas de Instagram com receitas para conseguir dar uma alimentação à Maria nutritiva e variada que se faz perfeitamente fora de casa. Recomendamos também levar uns kit de ervas aromáticas se for esperado cozinharem. Sabem aquelas caixinhas de comprimidos? Podem ser ótimas para guardar várias especiarias em quantidade pequena, ideal para viagem. Porque comida de bebé não é igual a comida sem sabor. A partir de um ano já não se restringe totalmente o sal e ficam menos limitados quanto às refeições, aí os resorts com meia pensão ou tudo incluido podem ser uma solução. Há sempre comida que agrada facilmente a crianças.
Resumo:
Viajar com bebés é fácil? A facilidade de viajar com bebés vai depender dos pais e do bebé. Há sempre solução. Não querem arriscar grandes distâncias? Temos as nossas ilhas, cidades europeias, resorts em zonas de praias.
Os bebés são felizes junto dos seus, descontraiam e sejam felizes com eles. A viagem poderá passar a ser mais lenta e existir alguma frustração por não conseguirem fazer tudo o que pensaram fazer, mas lembrem-se, estão a criar laços e construir memórias felizes com os vossos filhos.
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