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PALÁCIO BIESTER: SÍMBOLO INTEMPORAL (PORTUGAL)

O Chalet Biester surge após a Condessa d’Edla ter trazido a moda para Portugal. Em vez de palácios começam a surgir chalets em Sintra e no Estoril. Este tem uma história trágica.

A família Biester encomendou ao arquiteto José Luiz Monteiro, por volta de 1880, um chalet. O palácio abre agora ao público, renovado, como mais um exemplo da arquitetura romântica portuguesa do séc. XIX. Monteiro trabalhou com Luigi Manini (autor do palácio do Buçaco) e Leandro Braga neste projeto. O primeiro encarregou-se da pintura decorativa que poderão ver por toda a casa e o segundo dos trabalhados em madeira. A obra de Braga é magnífica, não que a de Manini não o seja, mas impressiona-nos o que se conseguia fazer com madeira numa casa particular. Além destes, ainda deixaram a sua marca Paul Baudry, nos frescos, e Raphael Bordallo Pinheiro, nos azulejos. Já o parque exterior exuberante é do paisagista francês François Nogré. Nele encontramos espécies de todo o mundo: as cameleiras da China e Japão, as faias verdes e vermelhas da europa central, os abetos da américa do norte, e os fetos da Austrália.

O “símbolo intemporal de Sintra” tem influência neogótica, inglesa e alpina. O estilo alpino foi o que mais se destacou quando subimos o parque e ficámos de frente para o palácio. No dia da abertura tinha dois músicos à entrada para receberem os visitantes. Um funcionário pedia para colocarmos protectores de sapatos, o que entendemos adequado nestes espaços. Só tínhamos visto fazer na Turquia e, para nós, faz todo o sentido pedir ao visitante que proteja os seus sapatos para garantir a limpeza do piso do interior da casa.

História

Este artigo não saiu logo no dia 30, dia da visita, porque foi muito difícil pesquisar a história do espaço. Chegámos a dois elementos da família Biester identificados como os donos do chalet por essa internet fora, Ernesto e Frederico Biester. Se, por um lado, a história de Frederico é trágica, com uma reviravolta positiva para o país, de Ernesto pouco se encontra para lhe atribuir a origem do chalet. Descobrimos que morreu antes da construção e que era dramaturgo no Teatro D. Maria II. Luigi Manini era cenógrafo no Teatro São Carlos e no D. Maria II, daí que haja quem extrapole que o palácio foi encomenda de Ernesto e que o trabalho teve Manini como colaborador por se conhecerem. Preferimos, por isso, a versão de Frederico, casado com Amélia Freitas Guimarães Chamiço, da família de Francisco de Oliveira Chamiço, fundador do Banco Ultramarino. Também porque nos parece ser a versão real. Apesar de a página oficial do palácio nunca dizer o nome de Frederico ou Amélia, fala no casal.
O casal vivia em sofrimento de não terem filhos, pois a sua única filha morreu jovem, de tuberculose óssea. O médico da filha e o casal decidem que têm de fazer algo para acabar com a epidemia que assolava o nosso país, provocando mortes em todas as famílias, das mais pobres às abastadas, e decidem construir um hospital. É assim que nasce a ideia de construir o Sanatório de Sant’Ana, na Parede, hoje Hospital Ortopédico de Sant’Ana da Santa Casa da Misericórdia, que o recebeu por doação. Morrem ambos antes de concretizar o projeto, mas a sua tia e herdeira Dona Claudina Ermelinda de Freitas Guimarães Chamiço, uma das viúvas mais ricas do reino, realiza o sonho da sobrinha Amélia e abre em 1904 o Sanatório. Coincidência, o casal morre também de tuberculose.

Curiosidades

O Chalet e o parque serviram de cenário ao filme A Nona Porta, de Roman Polanski, com Johnny Depp (1999). A equipa cinematográfica transformou uma das salas numa vasta biblioteca, aproveitando o trabalho de Leandro Braga.

Na cave existe uma câmara iniciática de estilo dos primeiros santuários de Jerusalém, que contrasta com a opulência da casa. Ainda tentámos explorar, mas se o Tiago não o conseguia fazer com a Maria no marsúpio, a Raquel desistiu com receio de encontrar morcegos. Diz que tem uma saída que dá até a um ponto no jardim.

Visita

A entrada é feita pela Avenida Almeida Garret, 1A, junto à Cascata dos Plátanos. Sugerimos usarem o mapa que vos dão na bilheteira para seguirem para a Gruta da Pena e o Tanque dos Plátanos. Pelo caminho passa-se por uma casinha de madeira com a sua horta, habitada. Apesar de no mapa tudo parecer grande, a caminhada faz-se bem. O parque das merendas, junto do Tanque dos Plátanos, não tem sombra. Aproveitem o relvado para deixar as crianças correrem. Há um miradouro, o Miradouro do Castelo, que permite ver o Castelo dos Mouros e uma vista abrangente para o centro histórico de Sintra. Daqui também se vê o Palácio, com uma estrutura redonda e os seus vitrais. É a capela.

Subam agora até à entrada do Palácio e vejam a entrada pela Estrada da Pena, a que Depp utiliza no filme. O Chalet é ainda mais bonito visto de perto. Parem em frente e observem. Não vos faz lembrar uma casa de montanha? A nós fez.

Palácio

A casa tem quatro pisos, sendo visitáveis principalmente o rés do chão e o primeiro piso. Vêem-se as escadas para um segundo piso, fechado ao público, e consegue-se descer ao piso subterrâneo (-1), onde só a câmara iniciática é visitável e onde fica a saída.

A visita começa no rés do chão, com um cronograma sobre a vida do arquiteto José Luiz Monteiro. À direita fica a biblioteca e a sala de leitura do casal, e de seguida a sala da música ligada à sala de estar, que por sua vez está ligada ao salão de festas. É nestas duas últimas salas que estão as lareiras decoradas de Raphael Bordallo Pinheiro e as portadas de acesso ao terraço. O salão de festas tem uns elementos em madeira que nos deslumbraram, mais ainda por este piso estar quase desprovido de móveis. A subida para o piso superior é feita pela escadaria principal em madeira, obra de Leandro Souza Braga. No átrio vê-se um elevador, fechadas as portas assemelha-se a qualquer uma das outras portadas das janelas. Obra do engenheiro do elevador de Santa Justa, Raúl Mesnier de Ponsard.

No primeiro piso fica a capela Templária Neolítica. Os frescos da nave são de Baudry e o acesso pode ser feito pela varanda ou pelo interior do andar.

O quarto principal com closet e casa de banho privativa é a única zona aberta além da capela. Da janela vê-se o mar e a vila de Sintra. As pinturas são obra de Baudry e Manini. Encontrámos uma planta antiga que nos diz que serão seis as divisões fechadas.

A descida começa a ser feita por uma segunda escadaria em pedra que vai até ao piso subterrâneo. A escadaria ainda sobe mais um piso, fechado ao público. Vêem-se salas fechadas onde devem ficar a cozinha e arrumos. E fica a saída e a câmara iniciática.

Parque

O parque de seis hectares tem diversos patamares e vários caminhos que nos levam até ao palácio. Destaca-se a Gruta da Pena, uma formação natural com uns bancos feitos por mãos humanas, e o tanque dos Plátanos, de que já falámos, com o seu miradouro e parque de merendas. Ficam também aqui as casas de banho. Temos outro miradouro, o Miradouro das Descobertas, circular, que nos dá uma vista panorâmica de um dos pontos mais altos da propriedade. Junto ao palácio temos o Lago dos Fetos Australianos e o Tanque das Faias. As estufas ficam junto à Casa de Chá, onde parece que virá a existir um café, mas que neste momento só alberga máquinas de venda automática. Temos pena que estes espaços não valorizem a necessidade de caixotes de reciclagem, principalmente quando o lixo será maioritariamente constituído por embalagens e copos de papel (fica a dica). Encontram também mos jardins outra obra de Bordallo Pinheiro e algumas pontes de madeira. O muro divide Biester da Regaleira e ao descerem para a saída começam a ver os visitantes desta última. De referir ainda a Mãe d’Água, a Ponte dos Fetos Australianos, a Cascata das Camélias e a Cascata dos Pisões, já do lado exterior da propriedade. A saída é feita novamente pelos portões junto à fonte dos Pisões.

Como chegar

O palácio tem então duas entradas, pela Estrada da Pena e pela Avenida Almeida Garrett. A entrada para visitantes é pela Avenida Almeida Garrett, 1A. Recomendamos que cheguem a pé, tuktuk, táxi, boleia ou autocarro. Porquê? Se não encontrarem um lugar de estacionamento antes, se passarem Biester, a Regaleira e o Tivoli, terão que dar toda a volta para regressar a um sítio mais perto, trajeto que demora mais de 20 minutos. Recomendamos também estacionar na Volta do Duche, se chegarem cedo há sempre lugares (parquímetro pago todos os dias das 8 às 20h). Também há um parque maior exterior junto ao Museu Anjos Teixeira, a chatice é que fica lá em baixo e depois é preciso subir a escadaria.

Para quem vai de Lisboa considerem ir de comboio. Há pacotes que incluem entrada nos palácios (achamos que o Biester não está incluido), ou combinados com autocarro da scotturb.

Outra solução é estacionar nos parques de estacionamento gratuitos fora da cidade. Os parques de estacionamento da Portela de Sintra e da Cavaleira têm transfer gratuito até à estação das 9 às 20h. Depois da estação já encontram os autocarros da scotturb. O melhor é o 435 (Villa Express 4 palácios), já que pára na Quinta da Regaleira, que é o palácio que fica coladinho ao Biester. O bilhete ida e volta custa 5€.

Como visitar

Nós comprámos os bilhetes antes, pela ticketline, mas podem comprar à entrada ou no próprio site do Palácio Biester. O bilhete custa 11€ por adulto. Crianças até aos 5 anos e idosos maiores de 80 não pagam. Jovens (6 aos 11 anos) e seniores (66 aos 79 anos) pagam 6€. Munícipes pagam 5,5€ e uma família de 4 pessoas (2 adultos e 2 jovens) paga 28€. Estes preços entraram em vigor dia 11 de março de 2023. Abre às 10h e fecha às 20h (abril a outubro) e às 18h30 de novembro a março. Podem fazer uma visita guiada de 90 minutos por 18€ (reservas por email: reservations@biester.pt).

Sugerimos ir durante a manhã. Podem levar merenda e almoçar na Casa de Chá (com sombra e máquinas de venda automática) ou no parque das merendas (não tem sombra) e seguirem para a Quinta da Regaleira à tarde. Ou então almoçar na Regaleira, que tem restaurante.

Se quiserem um dia especial (e aproveitar o estacionamento) podem juntar a visita aos palácios a um chá das cinco, o Chá das Rainhas, no Palácio de Seteais (Hotel Tivoli). O menu foi criado pela chef Cíntia Koerper, sim, provavelmente já ouviram o sobrenome (Joachim Koerper é o chef do estrelado Eleven e marido de Cíntia). Existem 3 menús: o Rainha Dona Maria I de Portugal (18€), o Rainha Dona Catarina de Bragança (22€) e o Rainha Dona Carlota Joaquina de Bourbon (34€). Crianças até aos 12 anos pagam metade, o último menu carece de reserva um dia antes e o Chá das Rainhas está disponível todos os dias a partir das 17h. Reservas diretamente com o hotel (219 233 200).

Onde ficar

Bem, Sintra tem muitas ofertas. Não vos vamos recomendar o Palácio de Seteais porque …€€€€€… vocês entendem! Mas a Raquel acha que caso possam ou encontrem uma promoção boa devem experimentar. Ir a Sintra e ficar hospedado num palácio é de sonho.

Depende também de como quiserem fazer a visita. Se vão de longe e de carro sugerimos procurarem no booking e não se esquecerem do filtro do estacionamento gratuito. Se pretendem conhecer tudo a pé, escolham um alojamento no centro histórico. Há imensa oferta de qualidade e para todos os bolsos.

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365 dias no mundo estiveram no Palácio Biester a 30 de abril de 2022

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