NOVO MUSEU DO TESOURO REAL (LISBOA)

Nasceu o novo museu que a Raquel ansiava conhecer. Pela primeira vez as peças da Coroa Portuguesa que hoje pertencem ao Estado Português têm uma casa onde ficarão expostas. Além disso o Palácio Nacional da Ajuda está finalmente terminado.

O culminar de 226 anos de espera para se concluir o Palácio Nacional da Ajuda chegou. Abriu o Museu do Tesouro Real. Uma obra que custou 31 milhões de euros provenientes de várias entidades que reuniram os fundos necessários, incluindo da taxa turística de Lisboa. Existe, por isso, também pelos turistas que pernoitam em Lisboa, já que a Associação de Turismo de Lisboa financiou a obra em 9 milhões de euros. Outra fonte foi a indeminização recebida pelas obras roubadas em Haia e nunca recuperadas, incluindo o maior diamante da coleção real, com 135 quilates. A museografia é do gabinete Providência Design, com anos de experiência noutros museus, como o do Dinheiro.

É uma obra polémica, já que muitos discordam da arquitetura contemporânea que se deu ao espaço que completa o Palácio Nacional da Ajuda, um edifício original de 1796. A contestação vem da finalização da ala poente do palácio numa linha que não imita a traça original. Mas fará sentido terminar um edifício que iria albergar um museu do mais moderno que há na mesma linha do século XVIII, mimetizando-a? Nós dizemos que não, para nós faz sentido que a arquitetura vá seguindo o seu tempo. Se formos puristas, nem a parte “antiga” que existe hoje segue o projeto original, uma palácio de madeira que ardeu em 1794, a Real Barraca.

Museu do Tesouro Real

O acesso é feito por uma porta automática rotativa, lendo o código QR do bilhete. É preciso manter o bilhete consigo toda a visita (voltam a ler o bilhete na saída). À primeira vista, é como passar as portas de embarque de um aeroporto. Há controlo por raio-x e detetor de metais. O museu começa no terceiro piso, onde dão de caras com uma caixa forte dourada no centro do espaço. Gostam de banda desenhada? É como entrar na caixa forte do tio Patinhas. Não há mergulho em piscina de moedas, mas há um mergulhar metafórico em cofres, pepitas, ordens e insígnias, moedas, prataria, joias, manto reais, sempre na mais alta segurança. Os vidros são à prova de bala, com controlo de temperatura e humidade.

Apreciem a porta blindada, são 5 toneladas. Caso se esqueçam, haverá outra igual no quinto piso, à saída. A caixa forte tem 40 metros de comprimento, 10 metros de largura e dez de altura. São 3 pisos com paredes de betão de 2 metros de espessura. Nota pessoal, é pena a caixa forte não ser visível do exterior em toda a sua altura, entre pisos, seria arrebatador.

A visita começa com uma linha cronológica que vos conta a história, tanto do palácio como de algumas peças e da monarquia. Há uma estreita ligação aos reis e rainhas, já que as peças foram compradas, mandadas fazer por eles, ou oferecidas à família. O tesouro real sofreu alterações que se percebem aqui. Houve peças que se desfizeram para dar lugar a outras, outras que serviram de “garantia bancária”, e até algumas que foram roubadas.

tesouro real, porta blindada

Ao centro estão as pepitas de ouro e percebemos que todo o museu funciona na penumbra. É como espiar as peças às escuras, de lanterna na mão. Apanhámos alguma azáfama com visitas de comunicação social e podemos dizer que não será agradável de visitar muito cheio (provavelmente o fluxo de entrada/saída será controlado).

São 11 coleções:

  • ouro e diamantes do Brasil: a grande peça é o torrão, uma pepita gigante de 20kg de Goiás. Os tempos da monarquia eram de tanta exuberância que D. Luis I exibiu a pepita em 1876 num baile no Palácio.
  • moedas e medalhas da coroa: as moedas são para os reis como as canetas e bandeiras são para as campanhas eleitorais. O que queremos dizer? Que as moedas serviam para mostrar o poder da casa real, representá-la, apresentar o rei ou a rainha, os seus símbolos e as suas conquistas.
  • ordens honorificas: de milícias sem terra e sem rei, que apoiaram alguns nas conquistas ou manutenção de território a prémio. Percam tempo a ler as legendas, faz sentido para perceber as peças. Talvez a peça mais interessante seja a insígnia da Ordem do Tosão de Ouro de D. João VI.
  • joias: há aqui peças emblemáticas, como o relógio de Fabergé, a tiara de D. Maria II, pela polémica; a Raquel ficou maravilhada com as joias fúnebres e com a armação de joias que foram descravadas das pedras. A laça de esmeraldas também se destaca, já que a coroa portuguesa não era muito forte nas esmeraldas. Estas vieram por ocasião do casamento de D. Fernando VI de Espanha com a filha de D. João V. Graças à Colômbia não faltavam esmeraldas aos nuestros hermanos.
  • insígnias régias: é uma coleção de objetos de poder dos reis, como mantos, coroas, ceptros, medalhas. Olhem para a coroa, os nossos reis tinham uma grande cabeça? Nem por isso, a coroa ficava exatamente como está exposta no museu, sobre uma almofada.
  • coleções particulares: D. Fernando e seu filho D. Luis I eram colecionistas. O seu espólio foi reduzido em partilhas.
  • prata de aparato da coroa: a prata das cerimónias solenes, o lava pés, os batismos, a aclamação e outros.
  • ofertas diplomáticas: ser rei é também receber presentes preciosos de papas, do povo, de outros reis. Destacamos as rosas em ouro, oferta do Papa Gregório a D. Maria II no Palácio das Necessidades.
  • capela real: do tesouro real fazem parte as peças que pertenciam às capelas reais e que presenciaram grandes ocasiões. Destacam-se a mitra e as coroas de imagens.
  • mesa real: a baixela germain está disposta como se o banquete estivesse servido, até é possível ver durante breves segundos actores à mesa.
  • viagens do tesouro: a mudança da família real para o Brasil implicou a mudança do tesouro. No regresso, em 1821, o tesouro regressou, mas não completo. Também, quando D. Pedro e D. Miguel iniciam a guerra civil, o primeiro envia o que tem para Inglaterra e o segundo envia o tesouro para Elvas. Algumas peças foram recuperadas, outras não.

Polémicas

A 12 de maio de 2021 decorreu o leilão da Christie’s Magnificent Jewels, que incluía a tiara de D. Maria II, de enorme importância para o museu. Como vai uma joia destas parar fora de Portugal? D. Maria II passou a tiara à filha D. Antónia de Bragança, infanta de Portugal e princesa de Hohenzollern-Sigmaringen. Pelo pai, Ferdinand von Sachsen-Coburg und Gotha, esta também detinha os títulos de princesa de Saxe-Coburgo-Gota e duquesa de Saxe. E assim, a tiara foi passando à sua descendência. D. Maria II aparece com a tiara num dos quadros que a representa, e é a tiara mais antiga ligada à coroa portuguesa. A DGPC, apesar de valorizar a peça para exposição no museu, não a conseguiu comprar, tendo sido arrematada por mais de 1 milhão de euros. Apesar disso, foi cedido por empréstimo, ficando pelo menos um ano.

Instagram @christiesjewels

Como já referimos, faltam várias peças que foram roubadas em Haia. Em 2002, o museu da ciência de Haia iria apresentar The Diamond – From Rough Stone to Gem, com empréstimos de várias nações, incluindo seis peças do tesouro real português (um diamante de 135 quilates, um catão de bengala em ouro, um anel com um diamante de 37 quilates, uma gargantilha em ouro e prata com brilhantes, e dois alfinetes em forma de trevo com diamantes e brilhantes). Num assalto digno de produção de Hollywood, em 40 minutos os vidros dos expositores da sala de tesouro foram partidos e as peças roubadas. Nunca foram recuperadas. Talvez por isso O Museu do Tesouro Real diga que está fora de questão acontecerem empréstimos das peças.

Outra polémica é a própria ampliação do palácio. Nas redes sociais a obra desagrada a muitos que esperavam a conclusão do palácio no seu traçado original, tendo sido apelidada de aberração, radiador e sobras da EDP (alusão ao edifício da 24 de julho). De qualquer forma, aquela ala inacabada e arruinada por um incêndio em 1974 não foi pensada pelo arquiteto para ser um “falso antigo”.

Opinião pessoal

A Raquel esperava mais. No final foi entrevistada e perguntaram-lhe se a visita é em busca de ser rainha ou princesa por um dia, como tantas meninas já sonharam. Não! Nem a disposição do museu levará (pelo menos a nós) a essa ilusão, nem nós fomos para alimentar esses sonhos. Fomos pelo património, pela história de Portugal que pode ser contada pelas mais de 1000 peças e mais de 18000 diamantes.

Aproveitem para conjugar a visita com o Palácio Nacional da Ajuda. As visitas completam-se, já que algumas daquelas 22000 pedras preciosas viveram ali.

Gostámos, mas a expectativa criada levou à ansiedade de imaginar que a ala seria mais do que uma caixa de três pisos dourada por fora e escura por dentro. Continua a ser impressionante, a caixa forte, as portas, as peças… Parece-nos é ser um museu difícil de visitar pela luminosidade, pelo seu circuito, pela curiosidade que se espera do visitante em ler a descrição das peças e perceber a sua história. Não nos interpretem mal, é um espólio impressionante, mas para um país com a nossa história de corte podíamos ter mais peças. E temos, mas também temos outros museus. E mesmo assim, como República é interessante que se tenha tido o cuidado de preservar o espólio da nossa monarquia. O estado novo chegou a comprar peças em leilão, o que ainda acontece, com o apoio de mecenas. Por exemplo, as jóias de D. Maria Pia foram usadas pelo Banco de Portugal para pagamento das suas dividas. E é assim que hoje temos algumas.

Não fiquem na cafetaria a pensar em lanchar. O café custa 2€.

Informações gerais

Preço

Adultos:10€

Até aos 6 anos: gratuito

Dos 7 aos 24 e a partir dos 65: 7€

Palácio+Museu: 13€

Horário

Das 10 às 19h.

Como chegar

Carris: Autocarros 729, 732 e 742, Elétrico 18

City Tours: Hop on Hop off, Cityrama e Carristur

Podem ir de carro até ao largo da Ajuda. Há estacionamento gratuito.

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