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VIZELA: AQUI COME-SE BEM (PORTUGAL)

"Aqui come-se bem" e "segredos de um vale" são os slogans da cidade. E completam-se o segredo de Vizela é que podem usufruir de bem estar físico e mental nas termas e completam-no com a gastronomia da região.

A gastronomia trouxe-nos a Vizela. De 10 a 12 de junho foi o fim de semana gastronómico, que nos levou a comer bacalhau à Zé do Pipo e bolinhol, “regados” com vinho verde da região.

O nosso fim de semana começou com a conferência “Vizela à mesa”. Estiveram presentes para explicar o conceito dos fins de semana gastronómicos a Câmara Municipal de Vizela (Dr. Jorge Coelho), a CIM do Ave (Dr.ª Marta Coutada) e o Turismo do Porto e Norte (Dr. Marco Sousa). Originalmente estes eventos eram os domingos gastronómicos do Minho, do Dr. Francisco Sampaio. Acrescentou-se o sábado e assim nasceram os fins de semana. Já vai na sua 13ª edição, com a participação de 77 municípios, 900 restaurantes e 500 alojamentos aderentes. A segunda parte da conferência foi com a historiadora Dr.ª Anabela Ramos, o chef Álvaro Dinis e Francisco Gil, gastrónomo espanhol. É engraçado perceber como se chega à conclusão de qual o prato que melhor representa o nosso município, como a história nos conta a sua chegada à região e como a gastronomia e a enologia caminham de mão dada com o turismo.

Gastronomia

Vamos começar com a gastronomia e os vinhos, já que foi para isso que fomos a Vizela, deixando a história e as atrações para segundo plano. Como aprendemos na conferência, às vezes é um prato específico que nos leva a conhecer uma localidade, e não os seus monumentos ou a sua história. Isso acontece com o leitão da Mealhada, as bifanas de Vendas Novas, ou o choco frito de Setúbal, isto para citar exemplos nacionais.
Zé do Pipo, ou José Valentim, criou o prato de bacalhau nos anos 40 para o restaurante de comida tradicional que tinha no Porto. Chegou a ganhar um prémio num concurso na categoria “a melhor refeição ao melhor preço”, organizado pelo SNI (Secretaria Nacional de Informação, Turismo e Cultura Popular), do Estado Novo. O prato chega a Vizela pelas mãos de Carlos Alberto Cabral (2º Conde de Vizela) e Delfim Ferreira (Conde de Riba D’Ave), ambos ligados a Serralves, trazendo para a cidade termal um cozinheiro que sabia fazer o bacalhau à Zé do Pipo.

A Raquel não gosta de bacalhau, exceto com natas, à Zé do Pipo ou fresco, ou se for muito bem confecionado, por isso adorou. Vocês confiem em nós, é muito bom! No vídeo que vimos na conferência a Chef Carla do Hotel Termas de Vizela explicou sucintamente a receita e nós partilharemos convosco (partilhámos o video no nosso Facebook). No fundo, é um bacalhau que vai a fritar e depois vai ao forno com cebolada, maionese e puré de batata.

Já o bolinhol é um pão de ló, um bolo fino, de jornada, feito para durar. Muito provavelmente é de 1880, porque em Guimarães já foi apresentado na Exposição Industrial de 1884. Joaquina Pedrosa da Silva criou um pão de ló coberto que deu nome à casa. Surge assim a designação popular de bolinhol (explicam-nos que o aumentativo, a terminação “ol”, aqui serve para demonstrar que era grande e muito bom). A expressão dos clientes “Que delícia” dá nome então à Casa do Pão de Ló Delícia.

A 17 de março de 1920 fez-se o pedido do título de registo de marca, concluído em dezembro de 1921. Conseguiu também registar o modelo do pão de ló, sendo a única casa a poder fazê-lo em formato rectangular. O bolinhol tem vários trofeus, mas o que mais se destaca é a 7ª maravilha doce de Portugal (2019). A diferença deste pão de ló é a cobertura de açúcar, a forma rectangular e ser envolvido em papel vegetal.

Quantos aos vinhos verdes, destacam-se aqui três produtores. A Cinco Quintas (2010) serve o Avicella – fresco, leve e vivo – nascido no monte de São Bento. Avicella significa avezinha. As Caves Casalinho, a mais antiga da região (1940) produzem Três Marias, Casalinho, Casalinho (Rosé). Já a Manuel Costa e Filhos existe desde 1989. O Melodia é produzido com vinhas dos concelhos de Resende, Cinfães, Amarante, Penafiel, Baião, Marco de Canavezes, Felgueiras, Vizela e Arcos de Valdevez.

História

Mas qual é a história de Vizela? Os romanos chegaram à Península Ibérica e descobriram na região águas termais e curativas. Isso deu relevo às Caldas de Vizela (aquas caldas + avicella) no império romano. Deixaram os banhos, mas também uma ponte onde ainda hoje circulam veículos ligeiros (ponte velha). Há vestígios de uma via romana que unia Guimarães a Amarante.

Durante a nossa monarquia há alguns factos históricos que remetem para a região, como a entrega de terrenos a fidalgos e referências religiosas.

Em 1361 Vizela torna-se concelho, no ano anterior a Portugal e Inglaterra assinarem em Tagilde um Tratado com o mesmo nome. As termas renascem em 1785 com a construção de um barracão. Em 1870 cria-se a Companhia dos Banhos de Vizela. Passa a vila em 1923, mas Vizela quer mais. Na luta pela concelhia ocorre uma batalha campal (1982) com confrontos com a GNR. Foi um ano intenso nesta luta, com o boicote às eleições do mesmo ano, já que muitos políticos prometeram a elevação a cidade, mas não cumpriram. Apenas se consegue ser cidade em 1998, conquista muito celebrada pelos Vizelenses.

A cidade tem o rio homónimo a separar algumas freguesias. O rio Vizela nasce em Gontim (Fafe), banha Fafe, Guimarães, Vizela, Santo Tirso e Felgueiras, e depois desagua no Ave. As termas ficam junto ao rio.

O que visitar

Santuário de são Bento das Peras: a 11 de julho acontece a peregrinação, levando muitos a assistir à missa campal. O espaço é regularmente escolhido por noivos, e nós percebemos porquê. Está a 410 metros de altitude, tem uma vista fantástica para os concelhos vizinhos e fica no monte com o mesmo nome, o que lhe dá um certo isolamento, ideal para quem queira reflectir, descansar ou cultuar. Mas nem só de silêncio se faz o santuário. Há ruídos de famílias que se reúnem para almoçar e conviver. Também há musica religiosa que se ouve nas colunas por todo o espaço.

A confraria tem o espaço muito bem conservado. Nós gostámos de conhecer. Vale a pena também pelos dois miradouros. Se quiserem conhecer o espaço a fundo levem um cesto de piquenique, uma toalha e vontade de explorar o monte e o santuário.

Termas de Vizela: foram os romanos que descobriram o efeito terapêutico das águas. As instalações existem desde 1785. Foram entretanto aumentadas e continuam em remodelação para serem a referência no norte. Não são das instalações mais impressionantes, mas será que isso interessa quando se fala de curar maleitas? Tratam doenças reumáticas, respiratórias, dermatológicas, e podem ser utilizadas na ótica do bem-estar (stress e ansiedade). Camilo Castelo Branco foi um grande utilizador e passou temporadas nas Caldas de Vizela. Isso é claro na sua escrita. Já agora, existe uma estátua sua no Jardim Manuel Faria.

São 33 fontes termais que vão até aos 63º. Achámos piada às lamas medicinais, nunca tínhamos ouvido falar. As lamas são utilizadas principalmente nas extremidades.

Existe um circuito de águas. O duche Vichy custa 15€ e o circuito custa o mesmo. Parece-nos uma boa solução para quem queira relaxar depois de uma semana stressante, sem necessidade de consulta médica. Para o tratamento terapêutico devem pedir ao vosso médico de família uma prescrição indicada para a vossa doença (P1). Os tratamentos termais geralmente exigem um período mínimo de 12 dias, o que faz com que sejam dispendiosos, mesmo com a credencial do SNS.

Igreja são João das Caldas: trata-se de uma imponente igreja neogótica em granito, construída entre 1904 e 1909. Há outras na cidade, como a de São Miguel e a Matriz. Esta fica em frente às termas.

Praça da República: aqui encontram a estátua de Vizela Romana e a Bica Quente, um monumento aos vestígios dos banhos romanos. Também fica aqui uma estátua de homenagem ao Dr. Abílio Torres, hidrologista importante para a cidade termal. Na nossa visita estava a decorrer a feira Vizela Romana, por isso estava “ocupada” com barraquinhas e muita animação.

Jardim Público Manuel Faria: fica junto à Praça da República, entre a loja do Pão de Ló Delícia e a loja interativa do turismo. Tem um coreto e a estátua de Camilo Castelo Branco. Ideal para se fotografarem junto a ele. Também a encontramos “ocupada” pelos romanos.

Outros espaços importantes: Biblioteca Municipal, Núcleo de Vizela Museu do Combatente, Museu dos Bombeiros Voluntários de Vizela, Museu da Igreja Matriz de S. Miguel e Museu da Associação Família Peixoto. Não se esqueçam da Loja do Turismo, onde podem ir encontrar informações sobre a cidade. A nível de natureza existe o Parque das Termas com um campo municipal de minigolfe. Na outra margem encontram a marginal ribeirinha. Também podem visitar as quedas de água de Requeixos.
Os amantes de caminhada podem estar descansados, existem percursos pedestres. O PR1 Trilho Margens do rio Vizela de 4km e o PR2 Trilho de São Bento de Peras, percurso circular de 12,5 km.

Onde dormir

Há algumas hipóteses. Dentro da cidade, junto às termas, encontram o Hotel Bienestar e Hotel Termas de Vizela. Parecem-nos hotéis simples, mas centrais, para quem privilegia usufruir das termas e andar a pé.

Nós ficámos na Casa das Carpas, ligeiramente fora da cidade, mas ainda muito próximo de Vizela, a solução ideal para quem tem carro. Pequeno-almoço saboroso, quarto confortável com varanda, serviço atencioso, espaço novo e muito engraçado. Tem uma piscina exterior aquecida que fica no centro do edifício. O seu jardim, onde fazem a criação de carpas, é de estilo asiático. A Maria, que anda fascinada com pedras, adorou.

Onde comer

As hipóteses são muito variadas. O flyer que ilustrava os fins de semana gastronómicos tinha 22 restaurantes aderentes. A página do turismo de Vizela ainda tem mais sugestões.

Nós fomos ao restaurante Hotel das Termas de Vizela e ao Pena de Galo. Foi um fim de semana de peixe para nós, mas muito bom peixe. Comemos no Pena de Galo um rodovalho e estava excelente. São casas familiares, de gente simpática, e com um serviço eficaz.

Quando visitar

Podem visitar sempre. E devem! Mas há algumas épocas que se destacam, como o fim de semana gastronómico ou a Vizela Romana, que nós encontrámos de mãos dadas no mesmo fim de semana.

Vizela Romana já vai na sua XI edição e leva-nos a Oculis Calidarum, as caldas de Vizela. Os banhos romanos, em honra do deus Bormanicus, foram construídos a pedido do imperador César Domiciano Augustus. Os seus poderes curativos eram muito apreciados. Replica-se nesta feira a movimentação da cidade na altura, com grupos de atores a simular as lutas, os mercados de época (na Praça da República e jardim Manuel Faria), malabarismos e figuras da época, como o escravo, o pedinte e o escriba.

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365 dias no mundo estiveram em Vizela a convite do município de 10 a 11 de junho de 2022

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