Vamos falar dos Açores? Nove ilhas deste arquipélago no Oceano Atlântico que ainda não tinham sido exploradas pela Raquel, e o Tiago só conhecia uma. Sabíamos que era lindo, verde e tranquilo, mas ainda não se tinha proporcionado a visita. Temos um amigo micaelense que nos dizia sempre que tínhamos de ir, pelo menos a São Miguel, para começar. Porquê agora, num ano tão preenchido? Milhas a expirar. TAP, se nos estás a ler, tens aqui umA fã, envia milhas! Não há muitos destinos TAP onde se encaixassem as milhas disponíveis e a Raquel descobriu Ponta Delgada como um destino. A Maria ainda não pagar bilhete punha-nos um prazo limite (fevereiro 2023) e querer ainda apanhar bom tempo resultou numa ida em outubro.
Ufa, agora que já explicámos, vamos falar desta viagem?
Os Açores foram colonizados por ideia do Infante Dom Henrique, que enviou primeiro animais (1431) e mais tarde população. Não vamos dizer que foram descobertos nesta altura mas Diogo Silves, em 1427, ou Gonçalo Velho Cabral, em 1431, terão sido dos primeiros a chegar aos Açores. São 9 ilhas, tendo sido Santa Maria a primeira a ser descoberta. São Miguel foi a segunda ilha que os navegadores portugueses tomaram. Porquê Açores? Rezam as lendas que os milhafres foram confundidos com uma ave de rapina maior, o açor.
Chegaram colonos da Estremadura, Alentejo, Algarve e norte do continente. Vila Franca do Campo torna-se a capital, mas um terramoto em 1522 devasta o local. Em 1546 eleva-se Ponta Delgada a cidade. Em 1586 chegam as tropas espanholas e desde aí diversos corsários. Os Açores podem estar fora do alcance visual do continente, mas a sua coragem e bravura deixou marcas na história do nosso país. Resistiram a erupções vulcânicas, tremores de terra, ataques piratas, peste, guerras políticas como a invasão espanhola e o apoio aos liberais. D. Pedro IV desembarcou na cidade de Ponta Delgada em 1832 e foi aqui que organizou a sua expedição militar. Os Açores são muito importantes para o liberalismo, tendo sido o ensaio da administração liberal que D. Pedro queria executar.
O ananás, o chá, a agropecuária (lacticínios) trazem prosperidade à ilha, mas nos últimos anos o turismo é a grande fonte de receita da ilha. São Miguel é sinónimo de lagoas, furnas, águas termais, pastos verdes, surf, etc., e usufruído como quiserem: viagens em família, escapadinha a dois, a solo, umas férias desportivas ou de natureza.
O turismo começou suave para amantes de natureza e dum turismo mais selvagem, inexplorado e desconhecido pelo resto do mundo. Nos últimos anos tem sido mais explorado por turistas de todo o mundo. Nós encontrámos asiáticos, americanos e europeus.
O que visitar
Podíamos ter feito a viagem dividindo a estadia em pelo menos duas ilhas, mas para nós não fazia sentido. Queríamos explorar São Miguel em modo slow travel.
Pastos verdejantes com vacas: Lembram-se do anúncio da Terra Nostra?
Uma vaca feliz
Terra Nostra
Outra vaca feliz
Uma ilha de vacas felizes
Andam sempre a passear
Tem vista para o mar
O pasto verdejante é o seu manjar
Será São Miguel a ilha de vacas felizes? Não sabemos, mas elas estão em todo o lado, tanto que a Maria aprendeu que as vacas fazem “mu”, tal era a repetição: Maria, olha uma vaca. Como faz a vaca? Vacas são sinónimo de leite, e leite de manteiga e queijo. E o queijo aqui é MUITO BOM, mas já lá vamos.
Assim que saem do aeroporto, seja para que lado for, vão ver um campo verdinho e vacas.
A nossa forma de visitar foi dividir a ilha em zonas. A ilha divide-se em 6 concelhos: Ponta Delgada, Ribeira Grande, Lagoa, Vila Franca do Campo, Nordeste e Povoação.
Dias 1 e 2: Ponta Delgada, sudoeste
Sete Cidades
Lagoa das Sete Cidades: é o maior reservatório de água doce da ilha e fica numa das maiores caldeiras de abatimento do mundo. Na verdade, a lagoa azul e lagoa verde são uma única lagoa dividida por um canal de pouca profundidade e uma ponte. A maior é a lagoa azul. E lendas? Querem uma lenda? Então, uma princesa de olhos azuis apaixonou-se por um pastor de olhos verdes. Estava prometida a um príncipe e o pai deu-lhe um último encontro para se despedir antes de a casar. Nesse encontro os dois apaixonados choraram muito na despedida e nasceram duas lagoas com as respetivas lágrimas. Fofo.
Há vários miradouros que permitem observar a lagoa, como o da Vista do Rei, o das Cumeeiras, o Cerrado das Freiras, o da Lagoa de Santiago e o da Boca do Inferno.
Complexo Ambiental da Lagoa das Sete Cidades: há vários espaços para desportos aquáticos, como SUP ou kayak. Têm de chegar antes das 16h porque os passeios são de uma hora e encerra às 17h. Ficámos aqui a ver borboletas, correr, desfrutar da vista. Permitir à Maria pular e correr.
Miradouro da Vista do Rei: assim batizado pois D. Carlos e D. Amélia visitaram esta localização em 1901. Fica aqui o mítico hotel abandonado.
Monte Palace Hotel: outra imagem de marca da ilha, da ostentação, da ambição pelo turismo desregulado e do turista que não reconhece a propriedade privada se o objetivo for a foto perfeita. Estávamos esperançosos que houvesse alguma concretização das obras para recuperar o hotel da parte dos novos proprietários (investidores chineses). Em vez disso vimos um edifício que “não é de ninguém” e onde todos entram como se fosse casa.
O hotel foi uma obra de luxo. Ganhou inclusive um prémio de melhor hotel. Na mesma semana, os funcionários ouviam que seria encerrado. O hotel é uma ideia de 1977 quando um consórcio açoriano, belga e francês quis criar dois grandes hotéis de luxo na ilha. O Arquitecto Olivier Clément Cacoub desenhou o Monte Palace e o Bahia Palace. Abriram a 15 de abril de 1989. O Bahia ainda existe, como 4 estrelas, mas o Monte Palace fechou em novembro de 1990. Durante 20 anos houve segurança a guardar o edifício, mas deixou de ter em 2011. Desde aí tudo foi saqueado, até elevadores.
Igreja de São Nicolau: é uma das fotos que caracteriza as Setes Cidades, tirada com vista para a alameda de criptomérias. A graça também está, para nós, nas hortênsias, numas imagens estão azuis e noutras rosas. Sabiam que é possível mudar a cor da flor apenas alterando o pH do solo onde estão plantadas? A igreja é neogótica e do século XIX. Era particular, mas o povo podia assistir à missa. Em 1969 os herdeiros doaram a igreja ao povo.
Lagoa do Canário: podem estacionar no parque, entrar no Parque Florestal da Mata do Canário. A caminhada é fácil. É um sítio idílico, silencioso, bom para ouvir a natureza.
Miradouro da Grota do Inferno: a subida é fácil, a Maria subiu a andar pela mão. A vista no final é estonteante. Vêem-se a lagoa de Santiago e as Lagoas Azul e Verde. Tem local para picnics.
Ginetes
Miradouro do Escalvado: fica na Ponta do Escalvado e foi um ponto importante para avistar baleias. Avista-se Mosteiros e Ferraria, mas também os ilhéus.
Farol da Ferraria: fica na ponta mais oeste da ilha. É de 1901. A torre tem 18 metros e está a 107 de altitude. Foi eletrificado em 1974.
Termas da Ferraria: “meu corpo é água, onda que vai e vem…”. São um caso único do mundo por serem águas salgadas termais com enxofre. Estão documentadas desde o século XVI, pelo padre Gaspar Frutuoso, em Saudades da Terra. Estão abertas das 11h às 19h. Os programas começam nos 35€ e existe a possibilidade de combinar reuniões de trabalho com lazer.
Piscina Natural da Ferraria: viemos duas vezes. A primeira não estávamos preparados para ir a banhos, então regressámos no dia seguinte, durante a maré vazia para encontrar a água quentinha. Levem sapatos de água para “desbravar” caminho entre as pedras. Tem vestiários e casas de banho.
Porque é que consideramos aqui 1-2 dias? Porque depende do vosso ritmo, no nosso caso voltámos à Ponta da Ferraria para mergulhar.
Dia 2: Ponta Delgada e Lagoa
Arrifes
Miradouro do Pico do Carvão: conseguem ver a zona norte da ilha, o maciço da serra, lagoas e o mar.
Feiteiras
Muro das Nove Janelas: este foi dos pontos descoberto no segundo dia que mais agradou à Raquel. São uma parte do Aqueduto do Carvão, essencial para transportar água da lagoa do Canário até à cidade de Ponta Delgada. Foi construído entre os séculos XVII e XVIII.
Lagoa
Lagoa do Fogo: a descida é íngreme, exige descer um escadote no final, por isso não recomendamos a famílias com crianças pequenas. Tem a vantagem de ser muito silencioso e pouco frequentado, mas não tem estrutura. Podem descer com picnic e almoçar lá em baixo, ou podem fazer como vimos outros fazerem, não desçam e façam o picnic a ver a lagoa de cima. Tem estacionamento. Reservem 2 horas aqui caso descam.
A caminho da lagoa vão-se cruzar com dois miradouros. O Miradouro da Barrosa, que permite chegar até ao Pico da Barrosa. Verão o ilhéu de Vila Franca do Campo, a lagoa do Fogo e a cidade. Também se cruzam com o Miradouro da Bela Vista. São miradouros com parque de estacionamento.
Ermida de Nossa Senhora do Monte: fica na Água de Pau. Maria Joana ia ao pico com as amigas fazer orações e um dia avistou a figura de Maria que lhe disse que voltaria. A 5 de julho de 1918 uma multidão, juntamente com a pequena Joana, avistaram Maria e os anjos. A criança adoeceu e previu a sua morte e os pais decidiram erigir uma ermida no local. Tem um formato hexagonal e ficou terminada em 1931. Acabámos por não subir porque coincidiu com a sesta da Maria.
Dia 3: Ribeira Grande e Nordeste
Ribeira Grande
Salto do Cabrito: uma cascata escondida na Ribeira Grande. Chega-se a pé ou de carro, de carro há um estacionamento amplo a 50 metros da cascata. A pé podem fazer o trilho a partir de Caldeiras, passando na Fajã do Redondo, são 3 horas de caminhada. Há quem vá a banhos, mas é água fria.
Monumento Natural e Centro de Interpretação Ambiental da Caldeira Velha: é um espaço com várias lagoas termais. Só podem ficar uma hora e meia dentro das poças termais (desde as 9h até às 18h ou 19:30h, em época alta). Visitar só o espaço custa 3€, entrar nas poças 10€, alugar um cacifo custa 2€. Não ficámos impressionados. Explicamos, a Maria não adora água muito quente, estava cheio de turistas e pareceu-nos um spot demasiado concorrido no verão.
Ribeira Grande: falamos do ponto de surf da ilha. Ribeira Grande é a capital do surf e havia uma competição quando lá fomos. A praia é a de Santa Bárbara e o bar de praia, famoso, o Tuká Tulá.
Miradouro da Vigia das Baleias: em tempos que a caça às baleias foi um dos fortes económicos da ilha, havia a necessidade de ter postos de vigia. Hoje resta a vista e um parque de picnic. Há vários miradouros com este nome e o mesmo propósito.
Licores da Mulher de Capote: a Fábrica de Licores Eduardo Ferreira & Filhos Lda. faz licores desde 1936, mas foi fundada em 1993. Os seus licores são comercializados em três continentes. Os principais são o Licor de Maracujá Ezequiel, o Licor de Natas Queen of the Island e o Licor de Anis. Pode-se visitar, conhecer o processo de produção, fazer degustação e comprar os produtos. Não fomos porque achámos um desperdício para a Raquel que amamenta.
A caminho das plantações de chá temos o miradouro de Santa Iria, a 190 metros de altitude. Pode ver-se Porto Formoso e as plantações de chá. A batalha da Ladeira Velha em que D. Pedro IV venceu D. Miguel travou-se aqui, em 1831. Aqui perto existem outros miradouros (Miradouro da Coroa da Mata, o Miradouro do Cintrão e o Miradouro do Frade) e as ruínas das termas da ladeira da velha.
Plantações de chá: o chá chegou aos Açores no século XIX para substituir a laranja. Apesar de terem existido várias plantações na ilha, hoje só temos duas plantações, a conhecida Gorreana e a familiar Porto Formoso. A primeira é muito grande, mas ambas permitem conhecer a produção e a plantação de chá. As duas usam aqueles slogans de “única”, não vos sabemos dizer se faz sentido, sabemos sim que há uma plantação de chá no norte de Portugal, sonho de Dirk Niepoort e Nina Gruntkowski. As folhas são de Camellia sinensis e têm de ser colhidas e colocadas a secar. Há três tipos de chá preto: Orange Pekoe, Pekoe e Broken Leaf. (Nota: fomos investigar e há cerca de 70 plantações de chá na Europa)
- Chá Gorreana, existe desde 1883. “a mais antiga, e atualmente única, plantação de chá da Europa.” É a mais turística, recebendo autocarros de visitantes. Foi a única a conseguir manter-se em funcionamento, sem interrupções, desde 1883, ano em que produziu o seu primeiro quilo de chá.
- Chá Porto Formoso. “O único chá biológico da Europa”. Só visitámos esta. Vimos um vídeo, ouvimos uma explicação sobre a plantação, colheita e preparação do chá. Achámos muita graça a um evento único que acontece na altura da colheita. A Fábrica de Chá Porto Formoso organiza, desde 2001, nas suas plantações, o “Início de Colheita”. No primeiro sábado do mês de maio, acontece a primeira apanha da folha do chá, e organizam um evento de animação turística e cultural, onde recriam a colheita manual do chá.
Museu Tabaco da Maia: Manuel Bento Sousa fundou a fábrica e esta funcionou de 1871 a 1988. Aqui conta-se como funcionava a industria do tabaco. Aparentemente está fechada.
Nordeste
Salto da Farinha: fica no meio do trilho Padrão das Alminhas, esta imponente cascata de 40 metros. O seu caudal é maior no inverno. O nome vem da moagem de cereais que acontecia perto.
Farol da Ponta do Arnel: é provavelmente o primeiro farol do arquipélago e funciona desde 1876. Não descemos porque não tem estacionamento e o caminho tem 35% de inclinação. São 500 metros da estrada até ao farol.
Parque Natural da Ribeira dos Caldeirões: é uma zona protegida que merece a visita. O parque tem cinco moinhos de água, que foram essenciais para dar sustento às famílias da região. Um dos moinhos ainda funciona, com moleiro diariamente, e outro dos moinhos é um museu etnográfico. O ponto mais conhecido do parque é a cascata.
E mais dois miradouros, o Despe-te que Suas e o Boca da Ribeira. Na verdade há muitos mais, mas falamos dos mais famosos. O Miradouro da Boca da Ribeira tem vista para a foz da ribeira do Guilherme, dentro do Jardim Botânico da Ribeira do Guilherme. Neste jardim existe um trilho pedestre, o Trilho da Lomba da Fazenda (PRC31SMI).
Dia 4: Povoação
E temos mais dois miradouros, o da Ponta do Sossego e o da Ponta da Madrugada. Mas há mais: conhecem a expressão do Cu de Judas? Lá longe, aí é o cu de judas, mas o sítio existe e fica em Água Retorta, Açores. Com uma petição conseguiram código postal e agora na estrada tem placas a indicar. Vale pela graça de tirar uma foto com a placa.
Furnas
Dia de explorar as Furnas, aqui encontram as piscinas termais mais famosas, mas já lá vamos. As Furnas são uma povoação pequena, famosa pelas suas iguarias cozinhadas de forma peculiar. Utilizando a temperatura da terra (energia geotérmica) fazem-se uns orifícios no solo junto às fumarolas, coloca-se a panela dentro do buraco, vedada, e tapa-se. O interior (cozido, feijoada, ou outro prato) vai cozinhando lentamente.
Poça Dona Beija: são provavelmente às aguas termais mais conhecidas da ilha. São várias poças (serena, mística, meditação, convívio termal e a ribeira) com temperaturas dos 28º aos 39º. Diz quem sabe que devem ser visitadas também à noite. Abre todos os dias das 8:30h às 23h. Custa 8€ para adultos e 6€ para crianças até aos 6 anos (aparentemente todas as crianças pagam, não encontrámos informações que referissem outro preço ou até gratuitidade para bebés). Decidimos não ir.
Parque Terra Nostra: no Vale das Furnas, que não é mais do que uma cratera de um vulcão existe, um jardim com mais de 200 anos. O cônsul honorário dos Estados Unidos em São Miguel mandou construir uma casa de madeira (Yankee Hall) e um tanque grande com uma ilha no meio. Trocou de proprietários em 1848, passando a pertencer ao Visconde da Praia. Em 1901, o rei D. Carlos I visitou a propriedade e dormiu na casa do parque. A Sociedade Terra Nostra, anos mais tarde, comprou a propriedade já abandonada. Aumentou o parque, transformou o tanque central em tanque termal, enriqueceu o jardim com várias espécies, tornando-o único no nosso país.
Custa 10€ para adultos e 5€ dos 3 aos 12 anos. Abre das 10:30h às 16:30h. O Hotel junto ao parque (Terra Nostra Garden Hotel) existe desde os anos 30 e mantém a traça Art Deco da época. Os quartos custam entre 150-350€.
Entre o Terra Nostra e a Poça Dona Beija decidimos ir só ao primeiro. O Parque Terra Nostra era grátis para a Maria e como tem vários hectares de botânica permitia-nos passear com ela à hora da sesta. Passeámos sempre à sombra, e quando acordou fomos todos a banhos termais. Se não tiverem bebés convosco recomendamos que visitem todas.
Lagoa das Furnas: na margem sul da lagoa existem 56 buracos para confecção dos pratos típicos como cozido, feijoada, bacalhoada ou arroz doce. O custo é de 3€ para não residentes.
Fumarolas: na lagoa das Furnas ficam as fumarolas, rapidamente reconhecidas porque as caldeiras deitam fumo. No campo das fumarolas é onde se fazem os cozidos. A maior parte delas é utilizada pela restauração local, mas podem ser utilizados por particulares, a 3€ a partir das 6h da manhã. O tempo de cozedura leva de 4 a 6 horas e cozinha entre 64 e 96º. Os restaurantes utilizam os buracos entre as 11h e as 13h e é neste intervalo que devem ficar aqui para ver retirar ou colocar as panelas.
Os cozidos, ou as feijoadas, são colocados em buracos criados para o efeito, cimentados e com tampa. Também é possível encomendar em alguns restaurantes versões vegan destes pratos típicos (atenção que ganham um sabor forte a enxofre.)
Miradouro do Pico do Ferro: fica a 567 metros de altitude. Vê-se a lagoa das Furnas e a povoação. Aqui vimos uma coisa, no mínimo, inusitada. Uma americana deixou cair o telemóvel com que queria tirar uma selfie. Apesar de ter sido junto à barreira, ficou preso próximo do muro e o guia saltou para fora das barreiras de proteção para apanhar o iPhone. Tudo isto enquanto elas gritavam “Oh My God!!! Oh my god!!!, I can’t watch this”.
Capela Nossa Senhora das Vitórias: a capela neo-gótica foi erigida a título particular. Jose do Canto decidiu construir a capela após a doença de sua esposa. Foi inaugurada a 15 de agosto de 1886 e é um dos templos mais impressionante da ilha. Fizemos batota e enviámos o drone em vez de lá ir.
Praia da Ribeira Quente (Praia do Fogo): é uma praia entre escarpas. É convidativa porque existem fontes de águas termais submarinas que aquecem o mar.
Dia 5: Vila Franca do Campo
Lagoa do Congro: todas as lagoas merecem a visita, mas a seguir à do Fogo esta é a mais selvagem das que explorámos. A caminhada não é longa, mas é a descer (e a subir no regresso), tendo muita vegetação no percurso. A caminhada pode levar-vos para a Lagoa dos Nenúfares, mais inacessível. Como é envolvida por árvores não a visitem ao final do dia, vai ter pouca luminosidade.
Ilhéu de Vila Franca do Campo: fica a 1km da costa e pode ser visitado. No centro da cratera deste vulcão submerso existe uma piscina natural. De junho a setembro existe um barco regular a partir do cais de Tagarete. Como fomos em outubro não visitámos.
Praia da Vinha da Areia: fica junto ao porto de Tagarete de onde se parte para o ilhéu de Vila Franca do Campo.
Caloura: em 1630, quando o vulcão das Furnas entra em erupção, os frades fogem e ficam num pequeno convento em Vale de Cabaços. Como eram chamados de calouros a região passou a ser conhecida como Caloura.
Baixa d’Areia: é uma praia de areal próxima da Caloura.
Capela Mortuária Luz Eterna: esta obra de Bernardo Rodrigues é uma pirâmide invertida de mármore verde. O Tiago descobriu a capela numa fotografia e tivemos que desviar o caminho para ver esta obra de 2018.
Dias 6 e 7: Ponta Delgada, cidade
Estamos em Ponta Delgada, a maior cidade da ilha e porta de entrada. Sugerimos aqui uma estadia de dois dias e uma noite, para andarem ao vosso ritmo.
Campo de São Francisco: o nome desta grande praça deve-se ao Convento franciscano do século XVI. Em volta temos a Igreja de São José e o Santuário Senhor Santo Cristo dos Milagres e no centro o coreto. As festas do Cristo dos Milagres são aqui. Aqui suicidou-se Antero de Quental, com dois tiros, num banco de jardim junto à parede que tem escrito esperança (11 de setembro de 1891).
Igreja de São José: é do século XVIII e foi construída no lugar da Ermida de Nossa Senhora da Conceição.
Forte de São Brás e Museu Militar: aqui podem encontrar alguns artefactos militares da região, como veículos, armas, fardas, canhões, etc. O museu também pretende levar à reflexão sobre a I Guerra Mundial, a Guerra do Ultramar e o nosso envolvimento, geral e dos açorianos. O forte de São Brás é um monumento de interesse público de arquitectura militar renascentista, sendo o primeiro exemplo do abaluartado em 360 graus. Abre de segunda a domingo das 10h às 18h e fecha aos feriados. Custa 3€ para adultos e 1€ para crianças e idosos.
Portas da Cidade: são três arcos com o símbolo da cidade ao centro. No século XVIII (1783) estavam no cais. Quando se procedeu à reabilitação da Avenida Marginal, ou Avenida Infante Dom Henrique, foram transferidas (na verdade, demolidas e reconstruídas) para a Praça Gonçalo Velho Cabral. É o cenário de vários eventos, como a apresentação do Azores Airlines Rally, as Festas do Divino Espírito Santo e as celebrações do Natal e Passagem de Ano. Sabiam que a cidade ofereceu, em 2006, uma réplica à cidade americana Fall River? É uma cidade considerada irmã, porque se tornou casa de vários açorianos emigrados.
Igreja Matriz de São Sebastião: era D. João III rei e a peste tomou de assalto a cidade. Sendo Sebastião o santo contra a peste, a população votou para erguer uma igreja. A fachada principal é de estilo gótico e manuelino (foi alterada no século XVIII). Tem no interior um museu de arte sacra.
Torre Sineira: são 106 degraus e quase 30 metros de altura, tendo sido construída em 1724, visitável desde 2013. Faz parte do edifício da Câmara Municipal e permite ter uma vista 360 graus sobre a cidade.
Mercado da Graça: até ao século XIX o mercado acontecia junto ao pelourinho (Mercado do Pelourinho). O Mercado da Graça é de 1848, construído na cerca do Convento da Graça. Com muita pena apanhámos o mercado em obras, estando as bancadas de vendedores no piso de garagem. O mercado fica escuro e escondido. No entanto, podem comprar frutas e legumes, principalmente o ananás dos Açores, por isso serve o propósito. Os mercados locais são sempre bons para perceber a essência da população. Dá para perceber o que compra quem é da terra, os produtos locais, e conversar com os vendedores.
Avenida Infante Dom Henrique: uma grande alameda que acompanha a orla marítima, construída entre 1948 e 1952.
Portas do Mar e marina: em 2008 trouxe-se uma nova vida ao cais da cidade. Há restaurantes, espaços comerciais e turísticos.
Onde ficar
Aqui não faltam opções, mas nós optámos por conhecer três locais. Podíamos ter escolhido um único local a meio da ilha, ou um sistema tipo AL que teria ficado muito mais barato. Nós queríamos espaços que tivessem piscina interior, porque a Maria gosta muito de água e porque sabíamos que não íamos conseguir ir às piscinas termais todas ou conseguir desfrutar bem.
Ponta Delgada
Escolhemos um local perto de Ponta Delgada com estufas de ananases e jacuzzi na estufa. Havia duas opções, uma mais cara, que acabámos por desmarcar por desencontro na forma de reservar. Acabámos por concretizar a reserva na Herdade do Ananás e recomendamos. É uma antiga casa particular com poucos quartos. Jantámos lá duas vezes por conforto nosso e para cumprir os horários da Maria. A nossa reserva incluía prova de licores e uma visita guiada às estufas. À noite é muito agradável estar em volta da firepit a beber o licor enquanto se conversa sobre o que se conheceu durante o dia. Há bicicletas para uso dos hóspedes.
Decidimos também ficar no centro de Ponta Delgada num palacete. A Casa das Palmeiras – Charming House é um espaço agradável e uma boa escolha para quem viaja com pouca bagagem. Para nós tornou-se difícil subir os lanços de escadas com as malas e a Maria, mas nada que não se resolva. São dez quartos com casa de banho privativa. O estacionamento dentro de muros é pago, o que achamos sempre desnecessário. O edifício é de 1901 e foi edificado para a Condessa de Cuba. O pequeno-almoço é saboroso.
Furnas
Decidimos ficar também no Octant Furnas e foi uma escolha muito acertada. Dos três foi o mais caro, mas valeu a pena. Tivemos direito a amenities, não só para nós, mas também para a Maria. Abriam a cama todas as noites e deixavam uma curiosidade para nós e uma história para a Maria. As piscinas interior e exterior são termais e aquecidas. O staff do SPA traz água aromatizada para beber na piscina. Há atividades gratuitas. Podem reservar cestas de picnic e ainda há uns quartos com plunge pool privadas. Falamos da nossa experiência no Octant Furnas noutro artigo.
Onde comer
Eu, Raquel, confesso que achei as refeições caras. São doses grandes, sempre acima dos 15 euros, salvo raras exceções. É obvio que se pode escolher fast food ou opções de tapas ou petiscos, mas com a Maria, para termos sopa e prato, o leque de opções fica reduzido.
Sudoeste e Ribeira Grande
O Américo, em Mosteiros. Comemos polvo, claro, um hambúrguer de peixe, e a Maria comeu sopa de legumes. Tem uma esplanada nas traseiras, é um restaurante focado no atendimento a quem é da terra, não se focando nos turistas. Também se recomendam as lapas e os mexilhões.
A Rulote A BarracAbana. Tivemos pena de não termos refeição para a Maria, porque teria sido o local ideal para almoçar após os banhos de água quente na Ferraria.
Em Ginetes almoçámos nos III Arcos. É um restaurante local, o bife estava mais passado do que queríamos, mas a comida era boa. Se lerem as críticas no google o forte é o peixe.
O Restaurante Associação Agricola de São Miguel. Aqui o Bife Regional é rei. Há várias opções: À Associação, À Chefe Manuel, com molho de maracujá, com molho de queijo da ilha (escolhemos este), com molho de mostarda, com molho 3 pimentas, na caçarola. Ainda pedimos um prato infantil para a Maria e morcela com ananás de entrada. O espaço está sempre cheio, os bifes não são baratos, mas são de qualidade. Sabem receber crianças, deram um caderno de atividades e lápis de cor à Maria.
Furnas
Queijaria Furnense. O forte aqui é o queijo e produtos feitos com este ingrediente. Serve refeições ligeiras, como hambúrgueres, pregos e tábuas de queijo. Começaram a produzir queijo para utilizar o excedente de leite. Caso não saibam, os agricultores têm de cumprir quotas e se produzirem mais, por exemplo, leite, serão penalizados. Vendem seis variedades: o queijo amanteigado de pasta mole, de meia cura, de orégãos, o queijo de alho, tomilho e limão e o queijo curado. Também vendem bombons de queijo feitos com chocolate branco. São oito variedades de bombons: queijo, queijo e pimenta, queijo e figo, queijo e maracujá, queijo pimenta-da-terra e queijo e nutella.
À Terra. Nas Furnas, dentro do Hotel Octant. Não fomos, porque achámos mais caro do que queríamos gastar. Podem reservar aqui o cozido das furnas e irem vocês colocar e retirar a panela no local.
Caldeiras & Vulcões. É um dos restaurantes a experimentar nas Furnas. Tem uma ementa vasta com foco nos produtos das furnas, como cozido, feijoada ou o novilho, preparados nas caldeiras. Nas sobremesas é marca registada a queijada de inhame das furnas.
Já se Sabe. Comemos aqui uma feijoada feita nas caldeiras porque a Raquel não gosta de cozido e o Tiago tinha a lembrança de não ter gostado do sabor. Não comam os produtos “típicos” só porque sim. Ou seja, se não gostam de cozido ou se não gostam do sabor dos legumes (ganham um sabor especial por serem cozidos nas caldeiras) não gastem €€€ só porque sim. A feijoada era saborosa.
Espinha.Come. Nas Furnas decidimos parar aqui. Comemos hambúrgueres e eram saborosos.
Este da Ilha
Bar Caloura. É um espaço junto ao Porto da Caloura onde se come um peixe fresco maravilhoso. Vale a pena. Devem ver a lista de peixe à entrada e escrever o vosso nome na lista de espera. Foi aqui que ouvimos duas açorianas dizerem ao funcionário do restaurante que saltavam a sobremesa para irem às queijadas, e nós fizemos o mesmo.
Queijadas do Morgado. Fica em Vila Franca do Campo e merecem a visita. Basta irem depois de almoço comer uma queijada e beber café. Cada queijada custa 1,40€.
Ponta Delgada
Em Ponta Delgada ainda pensámos ir ao A Tasca ou ao Louvre Michaelense. Acabámos por ir ao Anfiteatro Lounge e foi uma boa refeição.
Restaurante da Herdade do Ananás. Não sabemos se servem refeições só a hospedes, mas é de aproveitar se ficarem lá hospedados. Comemos o carpaccio de ananás, o lombo de atum dos Açores braseado, o hambúrguer e o esparguete à bolonhesa. O Tiago bebeu as cervejas artesanais.
Magma Restaurante. Pertence ao Senhora da Rosa Tradition & Nature Hotel, têm um menu de almoço mais barato e que se torna em conta. Telefonem antes, ao reservar perguntem se o menu está ativo. Tivemos um contratempo, que se resolveu, mas era evitável.
Taberna na Boavista. Fica em Ponta Delgada, no hostel Out of the Blue, partilhando com este o jardim. É um espaço de tapas. À segunda-feira a taberna transforma-se num espaço de street food e há falafel e pão pita feitos de raiz e servidos por Shy Solomon, um israelita que vive em São Miguel. Fica mais afastado do centro mas reconhecem logo pela sua entrada incomum. A carta é reduzida, não recomendado a famílias com crianças muito pequenas.
Como chegar a São Miguel
Têm de chegar de avião ou de barco, não há outra solução.
Devem entender que o arquipélago tem 9 ilhas e que estas se dividem em grupos: Oriental (São Miguel e Santa Maria), Grupo Central (Terceira, Graciosa, São Jorge, Faial e Pico) e Grupo Ocidental (Flores e Corvo). As visitas aos Açores costumam ser organizadas de forma a visitar todo um grupo, por conforto de transporte. Nós optámos por ficar só em São Miguel, porque é a maior ilha do arquipélago e achámos que merecia o maior tempo disponível.
Via aérea
Nós fomos via TAP, mas podem ir noutras companhias, como a Ryanair ou a SATA. Podem chegar aos Açores via Europa (Portugal ou Inglaterra), via América (Boston ou Toronto) e via Cabo Verde (Praia). Li (Raquel) o ano passado sobre uma possibilidade de passar a existir um voo SATA Lisboa-Ponta Delgada-São Luís do Maranhão e está entusiasmada.
Podem sempre chegar de outra ilha. De São Miguel há voos diretos para Santa Maria, Terceira, Pico, Faial, São Jorge e Flores.
Via marítima
De barco podem chegar de ferry a partir de outra ilha ou a partir de cruzeiro. Os barcos inter-ilhas operam em várias linhas: A (azul: Faial e Pico), B (verde: Faial-Pico-São Jorge), C (rosa: Flores e Corvo) e D (amarela: todas as ilhas exceto Corvo). Portanto aqui interessa a linha amarela. Atenção que a linha D (amarela) é sazonal, só opera de Maio a Setembro.
Os cruzeiros podem ser variados, de Lisboa ou Roma a Miami, de Lisboa ou de Barcelona a Nova Iorque, de Lisboa ou Roma às Bermudas, de Lisboa às Ilhas Canárias e Marrocos, de Miami a Londres. E provavelmente encontram mais rotas. Os cruzeiros rondam sempre os 900-2000€ e são rotas de 7-16 dias. Provavelmente não serão a forma ideal de conhecer a ilha.
Como circular na ilha
A ilha deve ser explorada de carro. Há autocarros, mas isso vai limitar muito a circulação e gestão dos horários. Vale a pena alugar carro.
Autocarros
Autoviação Micaelense parte de Ponta Delgada para Sete Cidades, Relva, Mosteiros, Fenais da Luz, Capelas, Santo António e João Bom. Conseguem fazer a zona oeste da ilha de segunda a domingo.
Caetano, Raposo e Pereiras parte de Ponta Delgada para Ribeira Grande, Maia, Furnas, Nordeste, Fenais da Ajuda e Rabo de Peixe. Conseguem fazer principalmente a zona norte e nordeste da ilha.
Varela e Cª Lda parte de Ponta Delgada para Lagoa, Remédios, Vila Franca do Campo, Ribeira Chã, Fajã de Baixo, Fajã de Cima, Povoação, Água Retorta e Ribeira Quente. Aqui visitam o resto da ilha, a zona sul.
Carro
A maior parte dos carros que verão são Micauto, contudo podem utilizar os canais normais para reserva. Nós reservámos com cadeira-auto e não adorámos. A cadeira era velha, desconfortável, só tinham um modelo para viajar contra a marcha e a Maria queixou-se em todas as curvas que caía.
São Miguel é uma ilha apetecível, simpática, uma porta para conhecer nos Açores. Recomendamos no mínimo 5 dias de estadia e carro alugado, mas é legitimo ir menos tempo.
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365 dias no mundo estiveram em São Miguel de 12 a 18 de outubro de 2022
12 respostas
Excelente trabalho de informação.
Obrigada Luís.
Que maravilha esse roteiro para conhecer São Miguel! Ainda não conheço quase nada dos Açores e quero muito ir. Obrigada pelas dicas
Tem que ir Marcella. Nós também ficamos cheios de vontade ir às outras ilhas.
Que lindo roteiro de o que fazer em São Miguel nos Açores!!! Adorei conhecer pelo seu olhar. A paisagem natural é linda, mas confesso que a parte da comida foi o que mais me agradou no seu post rsrs Vontade de provar o queijo!
Obrigada Lulu. Os Açores são muito especiais pela sua natureza, mas como dizes a comida é um ponto forte. O queijo dos Açores é muito bom, é o que comemos em casa.
Não conhecia São Miguel, achava até que era no Brasil hahhaha seu texto está muito completo e rico de informação. Fiquei encantada
Uma coisa que acho incrível entre Portugal e Brasil é existirem tantos sítios com o mesmo nome. 🙂 obrigada.
Que delícia de lugar é esta ilha em Açores! Além de me atrair por ser um destino de natureza, gostei por ter poucos turistas – ou vocês sabem escolher bons ângulos para fotos ehehe
O sítio onde encontrámos mais turistas foi nas piscinas termais, mas fomos em época baixa.
Já anotei todas as suas dicas! Amei seu guia sobre São Miguel. A Lagoa do Congro é linda hein? Deve ter sido uma experiência e tanto conhecê-la…
Obrigada. A lagoa é muito especial, mas são tantas lagoas interessantes.