Estivemos a explorar a região transfronteiriça de Trás-os-Montes (Portugal) e de Toro (Castela e Leão- Espanha) e arredores. Já falámos das gentes, das pessoas que acrescentam valor às localidades, que criam negócios, que unem projectos, que nos deixam com vontade de regressar, mas agora queremos falar do que se pode fazer na região. Trás-os-Montes e Castela e Leão têm sofrido bastante com o abandono jovem em algumas localidades. Temos aldeias reduzidas a 50-100 habitantes, existindo várias com menos de 25, muitas vezes sem nenhuma criança. A maioria dos jovens parte em busca duma vida melhor numa cidade, abandonando a terra de seus pais. Grande parte das casas são segundas habitações, para onde regressam aos fins de semana ou nas férias de verão. Estas regiões ganham vida no verão, quando os seus emigrantes regressam para matar as saudades.
Sentimos muita empatia pela opção de lutar por uma vida melhor, até porque foi o que fizemos, mas tem todo o nosso respeito quem decide ficar. É por isso que o nosso primeiro texto sobre esta viagem foi nesse caminho, o das pessoas, as gentes da raia. No entanto, não queremos deixar de falar da riqueza natural, histórica e cultural da região.
Nestes 4 dias andámos a explorar várias zonas da região, como podem ver no mapa.
Castela e Leão
Vamos começar por Espanha, Zamora é uma das províncias de Castela e Leão, uma das regiões autónomas do país. A nossa porta de entrada foi a estação de comboio, a partir de Madrid, mas pouco conhecemos daí. Tivemos o prazer de chegar com a Rainha Emérita Sofia, e perceber que Portugal está a anos-luz da simplicidade com que outras figuras de estado viajam. Para quem vive no norte de Portugal é uma óptima opção para férias ou fim de semana, a fronteira é “já ali”.
Fomos logo para Toro. Toro é uma cidade de importância histórica, com várias atrações arquitectónicas e naturais e fica na bacia do Douro entre Zamora e Valladolid. Em Peleagonzalo (perto de Toro) aconteceu uma batalha entre Portugal e Castela após a morte de Henrique IV, a 1 de março em 1476. Daí existir na região alguma presença portuguesa, mas já lá iremos.
Sentimos que a cidade tinha uma vibe de cidade fantasma no dia em que a visitámos. Vimos vários estabelecimentos fechados que só abrem ao fim de semana, quando Toro ganha vida.
É região de vinhos de denominação protegida com regras restritivas, como não poderem ser regadas. São baixas, tinham sido podadas, e quase não tinham folhas. Os campos estavam amarelos graças ao florescer das couves-nabiças, salpicados a vermelho das papoilas e a roxo da alfazema. De Toro ficam-nos os seus edifícios de pedra, o Douro visto do miradouro do Alcazar, as cores dos campos, o vinho provado com queijo, enchidos e compotas.
Devem visitar La Colegiata, ver o Touro de Pedra, o Alcazar e a Torre do Relógio, entrar na Plaza Mayor enquanto vêem o edifício do Ayuntamiento, entrar no Palácio dos Condes de Requena e numa Bodega histórica. Podem ainda procurar o Mosteiro Santo Espírito e a Praça de Touros. Se gostam, devem fazer o Roteiro de Arte Urbana. No Mosteiro Santi Spiritus el Real encontra-se o sepulcro de Dona Beatriz de Portugal, que se casou com D. João I de Castela e por isso nunca chegou a ser rainha nas terras lusitanas. O mosteiro dominicano ainda hoje existe em funcionamento e Beatriz não é a única portuguesa lá sepultada, encontra-se também Dona Teresa Gil, a fundadora.
Visitem o Museu do Vinho Pagos del Rey e o Museu dos Queijos Chillón. No Museu do Vinho conseguem ver que as vinhas Toro são diferentes das que estamos habituados a ver na região do Douro.
Em Sanzoles del Vino conhecemos a cultura popular do Zangarrón. Fez-nos lembrar o entrudo chocalheiro de Podence, aldeia histórica a que voltámos nesta viagem. Mais uma vez percebemos que Trás-os-Montes e Castela e Leão estão separados por uma fronteira, mas culturalmente são próximas.
Devem visitar o Museu do Zangarrón para perceberem de que trata. A festa acontece muito centrada nos rapazes de 18 anos e começa a 25 de dezembro. Reza a lenda que durante a peste a população insatisfeita com santo Estevão que não ouvia as súplicas decide tirar a imagem da procissão e apedrejá-lo. Um devoto vestiu-se com mantos, peles e chocalhos e foi assustar a população. Os vizinhos assustados fugiram e a peste terminou. A festa tem alguma complexidade para vos tentarmos explicar.
Aqui vale também a pena ver a igreja feita com pedra da mesma pedreira da catedral de Salamanca e as adegas subterrâneas, como a de Maria, Finca Volvoreta.
Em Villarin de Campos podem ir atrás do Cristo que na véspera de ser enterrado (a imagem estava muito estragada) se transformou numa imagem nova, bonita e cabeluda. Na igreja podem ver o retábulo de 12 tábuas sobre a vida de Maria e Jesus. É, tal como Sanzoles, uma localidade pacata. (nota: as fotos do interior não são nossas)
Em Granja de Mureruela temos o Mosteiro Cisterciense, hoje em ruínas, mas a ser alvo de algumas obras. Pareceu-nos um edifício pouco procurado, por isso perfeito para quem gosta de espaços quase abandonados onde seja fácil circular e explorar.
Os amantes de aves e os pais com crianças devem visitar as lagoas de Villafáfila. São vários hectares escolhidos por aves para fazerem as rotas migratórias. Existem trilhos para fazer em volta das lagoas e é o local ideal para observar as abetardas, uma ave migratória. Em Portugal, por exemplo, está em vias de extinção. As abetardas só se observam nesta região espanhola, na Sibéria, Roménia e Hungria. Nós conseguimos ver várias através dum telescópio terrestre do guia.
Não visitámos, mas sabemos que em Sanabria encontram o Centro do Lobo Ibérico.
A nossa estadia do lado espanhol terminou em Alcañices, já bem próximo da fronteira. Falamos muito nas aulas de história do Tratado de Tordesilhas, mas em Alcañices foi assinado também um tratado histórico entre D. Fernando IV (Castela) e D. Dinis (Portugal), em 1297, para delimitar a fronteira. Apesar desta proximidade a Portugal, da sua importância histórica e de ter atrações nunca foi uma cidade fortemente turística. Aqui podem ver a Torre do Relógio, o Convento franciscano, o Palácio dos Marqueses de Alcañices, a Igreja nossa senhora de Assunção, que faz parte do caminho de Santiago, existe um Museu da Nancy (boneca da nossa infância). Não visitámos porque viemos para participar no Fórum Territórios com Futuro, onde a Raquel partilhou a sua experiência na região.
Trás-os-Montes
Entrámos em Portugal pelo Vimioso, se não sabem, nós dizemos, somos muito felizes por aqui. Há termas, o PINTA onde não só lançamos a manta e comemos iguarias locais e caseiras sentados no chão no lameiro como penteamos e passeamos os burros de Miranda. Voltámos aos pombais em forma de ferradura de Uva, ao castelo do Algoso e desta vez subimos ao topo da torre e vimos a vista. Mogadouro está ao fundo. Vamos ter que voltar porque ainda não visitámos o Museu Etnográfico de Algoso. A sua localização estratégica à fronteira espanhola dá-lhe um passado contrabandista, e quem não gosta de encontrar alguém que nos conta como se faziam trocas comerciais pela calada da noite? Podem ir então ao Memorial da Mobilidade Transfronteiriça, Contrabando e Fiscalização.
Do Vimioso entramos no Parque Natural do Montesinho, com sorte podem ver lobos ou veados. Bragança recebe-nos bem, com a sua cidadela e o castelo, hoje Museu Militar, mas também tem o seu pelourinho, a Sé, o Domus Municipalis, o Museu Ibérico da Máscara e do Traje, a Igreja de São João Baptista, a Igreja de Santa Maria. Sobre este museu, aqui estão representados não só os Caretos do carnaval, como os de Lazarim ou de Podence, mas também o Zangarrón. Não fomos a Gimonde com tempo, mas não perdemos a oportunidade de ir à aldeia que se divide em dois países, Rio de Onor, ou Rihonor de Castilla. Numa próxima visita Gimonde, não nos escapas!!! Talvez quando decidirmos fazer o Caminho de Santiago (variante do caminho português do interior).
Vamos a Macedo de Cavaleiros e aqui há um sem fim de actividades, navegar na Albufeira, ir à praia do Azibo, voar de avioneta, pescar, fazer pão ou queijo, visitar Podence, a Casa do Careto, a Arte Urbana da aldeia e pintar a nossa máscara de Careto. Podem-se apanhar cogumelos (passeios micológicos), mas há mais, o Museu de Arte Sacra, a aldeia de Chacim, o Museu do Mel e Apicultura, o Museu Municipal de Arqueologia e o Museu Rural de Salselas.
Queremos falar duma experiência única para nós, a prova sensorial de azeite que fizemos no Nucleo Museológico do Azeite “Solar dos Cortiços”. Geralmente o azeite é nos dado a provar, já servido numa taça, para molharmos pão e comermos assim. Pois desta vez foi tudo diferente. Recebemos um copo baixo, pequeno e opaco da cor azul. Aquecemos o copo, já com o azeite, com as mãos, tapámos com um vidro e fomos rodando o copo, parecido com o que se faz com o vinho. Isto tudo guiado por uma especialista em azeite. A própria prova foi feita de forma muito especifica para conseguirmos sentir todo o paladar do azeite. Podemos dizer que nunca tínhamos degustado azeite assim e descobrem-se sabores desconhecidos.
Onde dormir
Vamos dar algumas sugestões, umas em Trás-os-Montes e outras em Castela e Leão, região de Zamora.
Castillo Monte La Reina: é um castelo neogótico do século XIX. A quinta é grande sendo perfeito para casamentos e outros eventos (tem um restaurante), é pet friendly e tem oito quartos (um com hidromassagem). Fazem provas de vinhos por 8€ aos hóspedes, e têm uma variedade para crianças, sem álcool. Os preços começam nos 90€/noite. Gostámos muito, nas torres ficam as casas de banho, que são gigantes. De manhã a Raquel acordou cedo e foi dar uma volta pelos jardins e vinhas. Dizem-nos que é possível ver coelhos de manhã. Existe uma carregador de carro eléctrico. A sua biblioteca é vasta, tem uma coleção de Saramago, que é “nosso”, mas também um bocadinho de Espanha e tem uma vista 360º na cobertura. Tem vista para o rio Duero, ou Douro.
Dondé Victor Luna: falámos do Victor no artigo das gentes da raia. Abriu um espaço pensado para que os seus hóspedes se sintam na casa dum amigo. O espaço fica em Granja de Moreruela, perto do mosteiro em ruínas. Tem piscina, zona de grelhados, snooker e um quarto adaptado a mobilidade reduzida. Recebe peregrinos.
Hotel Alendouro: fica em Macedo de Cavaleiros. O espaço é cuidado e para nós o seu forte é o restaurante. Todos os quartos têm WC privativo e fica a 15 minutos da albufeira do Azibo. Trabalham com a Sun Azibo Cruzeiros, sendo o alojamento dos seus pacotes.
Eco-resort Montesinho: fica a 5km do castelo de Bragança. Ficámos numa das casas, revestidas a cortiça, com cozinha. Cada casa tem a capacidade para 8 hóspedes, tendo cada quarto cama de casal e na sala um sofá cama. As casas têm um pequeno terraço bom para banhos de sol e vista para a piscina exterior, são pet friendly. O espaço que pertence ao A. Montesinho tem outras opções de alojamento, como quartos em pequenas casas ou apartamentos completos.
Onde comer
O Abel: em Gimonde, dentro do Parque Natural do Montesinho. Assim que chegámos à porta e vimos a quantidade de carros percebemos que só podia ser bom. O Abel é a casa para comer as carnes transmontanas na brasa. O restaurante está sempre cheio.
Restaurante Alendouro: fica dentro hotel. A comida da Marisa não engana, dá primazia aos produtos locais mas também a uma apresentação cuidada.
Taberna do Javali: com vista para a Domus Municipalis fica a cozinha do Chef Flávio. Comemos a francesinha de javali, mas o hambúrguer também é bom. É um bom local para vegetarianos, já quem várias opções.
La Colegiata: fica em frente à Colegiata, em Toro. Aqui come-se comida tradicional, secretos, solomillo, rabo de boi.
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365 dias no mundo estiveram na Raia de Trás-os-Montes e Castela e Leão de 18 a 22 de abril de 2023 a convite da AEICE (acção no âmbito do Projeto DURADOURO, co-financiado pelo FEDER).
14 Responses
É um bom destino para férias de verão, não é? E com tantas opções pet friendly é uma solução para quem tem patudos.
No pico do verão deve ser muito quente, mas sim, é uma ótima solução para levar o ginguba.
Que linda a região!!! Não sabia que tinha tanta história e atrativos naturais. Sonho muito em visitar Portugal e não apenas as cidades mais famosas 🙂
As cidades grandes são bonitas, mas são estas pérolas escondidas que nos deixam as memórias mais especiais.
Olha que interessante, não sabia dessa fronteira de Castela e Leão e Trás os Montes! Adorei conhecer pelo seu artigo. Obrigada por compartilhar
É uma boa fronteira, gostamos muito da região do parque montesinho e agora ficámos apaixonados por toro
Ainda não conheço Portugal, vendo seu post não paro de me encantar pela região. Não conhecia Trás-os-Montes e nem Toro, passeio muito legal de fazer.
Tem de vir conhecer. E é uma região muito hospitaleira.
Parece ser uma região muito legal e como é pouco visitada ainda pelos brasileiros, acho uma ótima opção para conhecer mais da Espanha e Portugal além dos destinos turísticos mais conhecidos! Já me interessei para colocar Trás-os-montes e a região de Toro e Zamora em Castela e Leão na minha próxima viagem!
Que bom Fernanda. Você vai gostar muito.
Amei suas dicas, quero fazer uma road trip por Portugal e Espanha em breve e vou incluir a região de Castela e Leão, valeu!
Boa Carol. Você vai adorar.
Se pudesses escolher apenas um restaurante imperdível da região, qual seria?
Indecisão entre o Restaurante Alendouro e a Taberna do Javali.