Estivemos a explorar a região transfronteiriça de Trás-os-Montes (Portugal) e de Toro (Espanha). Já falámos das pessoas que acrescentam valor às localidades e do que se pode fazer na região. Hoje queremos falar de Toro como uma região a explorar para os amantes de vinho e não só.
Toro fica na província de Zamora, dentro da comunidade autónoma de Castela e Leão. Principalmente Castela é um nome que os portugueses se lembram das aulas de história. Como bons vizinhos andámos sempre “às turras”. Aliás, Castela e Portugal foram seguindo o velho ditado de que de Espanha nem bom vento nem bom casamento. Os casamentos arranjados dentro da monarquia serviam para criar alianças estratégicas, excepto… quando tornavam o rei de um lado o herdeiro do reino do outro lado da fronteira. Um dos pontos marcantes da história ibérica aconteceu aqui. Portugal decide disputar o trono de Castela após a morte do rei Henrique IV, e não vos maçamos com isto, resumindo: no final perdemos.
Toro chegou a ser uma cidade importante do reino de Leão, graças ao seu vinho, famoso ainda hoje. Entrou em declínio, mas ainda mantém o seu charme. Mais do que só a cidade é uma região de vinhos de denominação de origem, desde 1980. Esta denominação de origem introduz regras rígidas, como os municípios onde pode ser produzido, em Zamora são: Argujillo, La Bóveda de Toro, Morales de Toro, El Pego, Peleagonzalo, El Piñero, San Miguel de la Ribera, Sanzoles, Toro, Valdefinjas, Venialbo e Villabuena del Puente e as quantidades de cada casta.
A primeira coisa que queremos dizer é que um dia não é o suficiente. Se quiserem ver a cidade de Toro cheia de vida guardem pelo menos um dos dias para o final da semana.
O que visitar
Real Alcázar: tem origem no século X, mas a sua construção é do século XV. Estava fechada, parece-nos que não recebe visitas, mas o miradouro nas traseiras do edifício tem uma vista muito bonita sobre o rio Douro. Aqui viveram os reis católicos, mais tarde foi um armazém de pólvora e hoje em dia alberga o posto de turismo e uma sala de exposições.
Toro de Piedra (Verraco): encontra-se em frente ao Alcazar. Normalmente eram em forma de porco, mas este é em forma de touro.
Mirador del Alcázar: daqui a vista é fenomenal para o rio Douro. O rio faz aqui uma curva e vê-se a Puente Mayor, de pedra. Existe um acesso junto aos Jardines de la Villa de Magallón e pode-se descer até à margem, o Passeio do Esporão (Paseo del Espolón).
La Colegiata de Santa Maria la Mayor: a sua construção é inspirada na catedral de Zamora, que se inspira na de Salamanca. Faz parte das “cúpulas do Douro”. Foi iniciada no século XII (período românico) e terminada no século seguinte. Nós fizemos visita guiada, o que nos permite compreender melhor o edifício e o seu contexto histórico. Tem quatro pontos altos para nós:
- o pórtico de entrada a norte (Portada Norte),
- o pórtico da Majestade, hoje interior, mas inicialmente uma outra entrada pelo exterior, que ainda tem cor,
- a rosácea que já tem uma forma mais elíptica que redonda e
- o quadro que se encontra na sacristia e que não vimos, por falta de tempo, a virgen de la mosca, um quadro da virgem com uma mosca pintada.
A Portada de la Majestade foi durante algum tempo a sua entrada principal, mas a construção dum retábulo fechou o acesso pelo exterior e protegeu o pórtico, daí manter a coloração.
A entrada custa 4€ e fecha às segundas-feiras. Vejam o horário na página oficial Toro Sacro, porque altera no verão e inverno. Achamos que vale a pena fazer visita guiada ou com audio-guia, porque falamos dum elemento gótico cheio de detalhes.
Há um bilhete combinado, o conjunto monumental. Visitam mais 4 espaços religiosos por 6€.
- Iglesia de San Salvador de Los Caballeros: tem um estilo mudejar e uma forma caricata. Começou por pertencer à Ordem dos Templários. Aqui fica o Museu de Escultura Medieval.
- Santo Sepulcro: é pouco vistoso por fora. O edifício é do século XV, mas várias desgraças deixaram-no despojado dos seus tesouros.
- Iglesia S. Lorenzo el Real: é das igrejas mais antigas da cidade, a mais antiga em tijolo. O retábulo, de Fernando Gallego, está incompleto. A tábua principal está no Museu do Prado em Madrid. Está aqui sepultado Don Pedro de Castilla, neto do rei homónimo.
- Iglesia S. Sebastian de Los Caballeros: existe como paróquia desde o século XII. Depois de estar ao abandono o estado recupera-a a igreja para albergar as pinturas do Mosteiro de Santa Clara e passa a denominar-se a igreja-museu.
Torre del Reloj ou Puerta del Mercado: sobre a porta que levava ao mercado fica a torre com o relógio de 1719. Adoramos um bom mito urbano e Toro não é exceção. Reza a lenda que na sua construção se usou vinho e não água para fazer o cimento. A cidade fica elevada e era mais barato utilizar vinho do que transportar água desde o rio Duero.
Palacio del Conde de Requena: o acesso é grátis porque ficam aqui vários serviços municipais e polícia. É um palácio do século XV construído numa mistura entre o gótico e o renascimento. Tem um pátio renascentista onde estão representados 16 brasões e insígnias. Mas é o patio del siete, mais escondido e menos frequentado que nos atrai. Tem a forma dum 7.
Monasterio Sancti Spiritus el Real: ainda funciona como convento, mas alberga duas portuguesas ilustres no seu interior. D. Beatriz e D. Teresa Gil (a fundadora).
Plaza de Toro: é uma das praças de touros mais antigas de Espanha (1828). Esteve ao abandono uns anos, mas foi recuperada. Não visitámos.
Museo del Vino Pagos del Rey: foi o nosso ponto de entrada em Toro. O museu é bastante organizado e arquitectonicamente interessante. O ponto preferido da Raquel é o miradouro, uma varanda que fica no andar de cima e vos dá a vista abaixo. Há um pequeno terreno fora onde podem ver as variedades de uva, Tempranillo (tinta de Toro), Garnacha Tinta, Verdejo e Malvasia Castellana. Conseguem aí ver videos da festa da vindima que se celebra a meados de Outubro. A Festa da Vindima foi declarada em 2003 festa de interesse regional, pela Junta de Castela e Leão.
Museo del Queso Chillón: Gustavo recebe-nos para nos contar a história da família que começa em 1890, com o bisavó. À porta ainda se encontra o carro de 1968 do avô, e que ele utiliza para voltas pequenas pelo “pueblo”. O museu mantém viva a história da família e da fábrica, percebemos a importância da matriarca, a avó, que falece cedo e como o espírito empreendedor faz o negócio andar para a frente. O museu faz provas acompanhadas de vinho.
Bodega Historica: há várias adegas na cidade que abrem a visitas para mostrar o que fazem. É entrarem na que vos agradar mais.
O que fazer
Toro Arte Urbano: na cidade cruzámo-nos com algumas obras de arte urbana. O TAU iniciou em 2016, e nesse ano todos os artistas incorporam uma mosca em homenagem ao quadro A Virgem e a Mosca, que esta na Colegiada.
Ruta del Vino de Toro: “Toro es sinónimo de monumentos, tapas y vino”, lê-se na página. A Finca Volvoreta, Pagos del Rey (o museu) e o Monte La Reina fazem parte da rota. Esta rota engloba as adegas, os monumentos, tanto religiosos como históricos e lúdicos e a gastronomia. Os estabelecimentos aderentes têm um selo à porta.
Fiesta da Vendimia: em outubro acontece a festa da vindima. Os carros tradicionais saem às ruas com os cestos cheios de uvas.
Visitar vinhas: visitámos as vinhas de Maria Alonso, da Finca Volvoreta, fora de Toro. O dia estava a meio, o sol queimava, mas as vinhas criavam um cenário digno de fotos. Maria serviu-nos os seus vinhos com enchidos, compotas, pão, tostas e queijos. Em Toro ficam as vinhas Bigardo. Uma empresa de vinhos de dois irmãos que também recebe visitas e faz provas. Podem reservar uma visita às adegas Bigardo pela Civitatis.
Calle Salsipuedas: por pura galhofa podem vir tirar uma foto aqui. Como se percebe a rua chama-se Sai se puderes. Fica a seguir ao palácio do Conde de Requena e em frente à Praça São Francisco.
Onde ficar
Castillo Monte la Reina: é um espaço polivalente, uma quinta de vinhos com provas, tem um restaurante onde se fazem eventos como casamentos e um alojamento exclusivo. Trata-se da recuperação dum castelo neo-gótico. Os quartos são espaçosos, um com jacuzzi, existe uma vasta biblioteca e um grande rooftop. O pequeno-almoço é caseiro e bem servido.
Parece-nos perfeito para grupos de amigos ou famílias que gostam de viajar em conjunto e alugar todo o espaço.
A vista é vasta, tanto para o Douro como as vinhas, se madrugarem podem ter a sorte de se cruzarem com os coelhos. Tem carregador de carros eléctricos.
Onde comer
Restaurante La Colegiata: fica na praça onde fica a Colegiata Santa Maria Maior. A sua culinária é tradicional. Tem duas salas.
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365 dias no mundo estiveram em Toro de 18 a 19 de abril de 2023 a convite da AEICE (acção no âmbito do Projeto DURADOURO, co-financiado pelo FEDER).
12 Responses
Sensacional essa viagem para Toro na Espanha! Tenho muita vontade de conhecer 🙂 Obrigada por compartilhar
Também ficámos com vontade de voltar para conhecer mais. De ver o quadro da virgem e da mosca, sentar ao final da tarde numa esplanada a beber um copo de vinho Toro enquanto nos servem umas tapas.
Que maravilha que é Toro, estivemos em Zamora e adoramos. Aqui tomamos um vinho espanhol chamado Toro Loco, será que é produzido na região? Mais uma cidade que entrou para minha lista para conhecer pelo interior da Espanha. Essa lista não para de crescer!
Tivemos que ir pesquisar, Toro Loco também é denominação de origem mas é da casta Bobal e da região de valência. O nome é Toro Loco porque o cacho lembra a cabeça dum touro. Exportam para o Brasil.
Nós ficámos com vontade de ir a Zamora e Valladolid.
Encantada com Toro,um lugar que ainda não tinha ouvido falar, com certeza estará na minha lista de desejos, principalmente essa Rota do vinho . Falou em vinhos estou dentro rrss
A Ruta do Vino é bastante completa e nos leva a muitos lugares. Eu iria visitar na época da festa das vindimas.
Sem dúvida um lugar a revisitar!
Sim Tiago. A regressar.
A região de Toro parece ser linda, não conhecia. Mas agora vai entrar na minha lista de lugares para visitar.
Voce vai adorar. É um local interessante.
Estou planejando uma road trip pela Espanha e inclui Toro no meu roteiro. Suas dicas me ajudaram muito, valeu!
Que bom, voce vai gostar. Não é uma região dd turismo de massas, o que lhe dá charme.