Na era das redes sociais Formentera é vendido como o paraíso. Linguisticamente acessível, basta o portunhol que quase todo Portugal “domina”, o mar é azul, as praias fenomenais, e existe aquela ideia de não ter turismo de massas por ser uma ilha, mas… é caro, caro e caro. Mesmo assim, é mais barato e mais próximo que outras ilhas “paradisíacas”, como Maldivas, Zanzibar, etc., por isso pode ser uma boa opção para muitos portugueses. Estivemos menos de 12 horas na ilha e podemos dizer que é apelativa, com um charme que contrasta com a badalada Ibiza.
Comecemos pelo princípio, nem sempre foi uma ilha espanhola. Esteve sob o domínio muçulmano e mais tarde pertenceu ao reino de Aragão. Os piratas gostavam de fazer ataques e foi necessário construir torres de vigia. A maioria dos residentes tem origem nas regiões de Andaluzia, Catalunha e Ibiza. A língua em Ibiza e Formentera é o catalão.
Hoje é uma ilha turística, atrativa para pessoas de vários países europeus que aqui têm residência de verão ou mesmo para todo o ano.
A nossa experiência soube-nos pouco. Quando reservámos os voos de Valência para Ibiza pensámos em ficar alojados em Formentera, mas os alojamentos eram bastante mais caros. Na nossa inocência achámos que bastaria ir de barco passar o dia, nem que fossemos mais que um dia. Acabámos por sentir que para explorar Ibiza como merece ficou Formentera a perder. Ambas possuem praias de sonho, graças à planta aquática posidonia oceânica. Existem prados desta planta na região aquática que as separa e é esta pradaria que sustenta a vida marinha da ilha de Formentera.
Fomos mal aconselhados por amigos e familiares que tinham visitado a ilha. Tinham ido menos de 24 horas e achado suficiente. Discordamos! Como tínhamos medo que fosse muito ventosa acabámos por ir só no dia de aniversário da Raquel passar o dia. Mesmo indo num barco cedo, se não alugarem carro ou mota perde-se muito tempo nos transportes públicos. Acaba por ser um passeio de um dia só para fazer praia. Também por uma questão de sustentabilidade, é mais favorável para os destinos as estadias mais longas, já que se acaba por consumir mais nos negócios locais.
O que visitar
Es Trucadors
A península fica dentro Parque Natural Ses Salines de Eivissa e Formentera. É a zona de praia mais próxima do porto e muitos visitantes de um dia optam por só chegar até aqui. Como é a reserva natural das salinas não há construções, apenas alguns bares de praia. O acesso é feito de carro, autocarro (L7 ou L3), bicicleta, scooter ou a pé. Motas e carros pagam taxa de entrada, 2€ para os primeiros e 4€ para automóveis. Os autocarros L3 e L7 vão até à paragem e existe um parque de estacionamento. A pé, de bicicleta ou de veículo elétrico não pagam. O autocarro L7 não funciona todo o ano e o L3 custa 8€, ida e volta. Convém chegar cedo se pretendem ir de carro, porque há limite de veículos permitidos diariamente.
Salinas: são património da humanidade UNESCO desde 1999. Ficam dentro do Parque Natural que abrange não só o norte de Formentera como o sul de Ibiza e toda a área marítima e ilhéus entras as duas ilhas. O sal é natural, sem químicos. É um espaço bastante bonito porque se formam pequenas lagoas rosadas.
Ses Illetes: é considerada uma das praias mais bonitas do mundo. É uma praia com espreguiçadeiras, sítios onde comer e que permite desportos aquáticos. Precisam de entrar dentro do Parque Natural.
Levante/Llevant: fica do lado este. É uma praia comprida, com espreguiçadeiras e sítios onde comer, e desportos aquáticos. Precisam de entrar dentro do Parque Natural.
A escolha entre Ses Illetes e Llevant deve ter em conta o vento (este – Illetes, oeste – Llevant). Nós não fomos porque não tínhamos guarda-sol e achámos que seria demasiada exposição solar para uma criança.
Es Caval d’en Borrás (o cavalo de Borrás): também fica dentro do Parque Natural, mas mais perto do porto. É possível chegar a pé ou de carro. De carro terão que pagar a taxa. Lemos que é uma das melhores praias da ilha e não querendo fazer a caminhada até as praias acima, esta é mais próxima do estacionamento.
Resto da Ilha
Ses Canyes: fica entre Sa Roquetta e Es Pujols. A praia não é grande e tem algumas rochas. Atrás tem algumas vivendas e uma mata.
Es Pujols: é a cidade com praia mais próxima. A praia de Es Pujols, apesar de urbana, continua a ser uma praia muito bonita e permite nadar até à ilhota de Es Fonoll Marí.
Ses Platgetes: “as pequenas praias” (tradução) são três baías de areia e rochas perto de Es Caló de Sant Agustí. O acesso é feito por passadiços para não se danificarem as dunas. Fizemos praia aqui e foi bastante agradável.
Es Caló de Sant Agustí: a vila piscatória tem um ar menos turístico que Es Pujols, apesar de muitos restaurantes serem aqui. Almoçámos em Es Caló.
Es Pou des Verro: é uma zona não de areal, mas de rochas e rampas de acesso aos barcos. Podem mergulhar aqui com cuidado e fazer snorkel.
Farol de La Mola: o farol é 1861. A sua construção foi um evento, porque nunca nada daquela envergadura tinha sido construído antes. Existe um memorial a Julio Verne, que nunca esteve na ilha, mas escreveu inspirado na obra de dois astrónomos franceses que tinham uma torre em La Mola. O farol é totalmente automatizado desde 2002, mas quando era manual abrigava três famílias de faroleiros. Desde julho de 2019 o farol é também um museu. Chegámos lá de autocarro, mas chovia. Voltámos para trás sem fotografar.
Playa Migjorn: abrange quase toda a extensão de areal entre os dois faróis. No fundo são 8 praias seguidas, todas com hotéis ou alojamentos.
Farol Es Cap Barbaría: é um farol de 1971. Durante o verão o último quilómetro de estrada só é acessível a pé ou de bicicleta. Sempre foi automatizado. Dizem que é um ótimo local para apreciar o por-do-sol. Existe uma gruta próxima. Bob Dylan viveu aqui para compor.
Cala Saona: é boa para quem gosta de piscinas, já que a água fica pelo joelho durante vários metros. Desce-se por passadiços. A toda a volta existem barracas de pescadores. É das praias preferidas de muitos turistas.
Mercadillo de La Mola: acontece quartas-feiras à tarde e ao domingo. O mercado começou em 1984, com o movimento hippie, e espontaneamente manteve-se até aos dias de hoje. É uma ótima razão para visitar El Pinar de la Mola.
Torres de Punta Prima, de la Gavina e des Pi des Català: as três torres, construídas no século XVIII, protegeram a ilha de ataques piratas. Des Pi das Català foi renovada em 2016 por um arquiteto local e pode ser visitada. Lemos que Punta Prima é perfeita para ver o sol e a lua nascerem. Juntamente com a torre de Sa Guardiola de S’Espalmador formam as quatro torres construídas para proteção.
S’Espalmador
Na ponta de Ses Illetes encontra-se o ilhéu de S’Espalmador e outros dois mais pequenos. S’Espalmador tem uma capela (Capela de São Bernardo), a casa do governador e uma torre. O ilhéu des Porcs tem o Farol de Pou. É acessível em tour ou barco privado e visível na viagem Ibiza-Formentera.
Há quem diga que fica aqui a melhor praia de Formentera e lemos que pode ser possível atravessar até Espalmador na maré baixa, mas que não se recomenda.
Como chegar
Formentera não quer aeroporto nem asfalto por toda a ilha. Portanto só há uma forma de chegar: BARCO. A maneira mais fácil é de ferry a partir de Ibiza. Numa era em que a sustentabilidade é a palavra do dia, a ilha mais pequena das Baleares rejeita o turismo de massas e low-cost. Desejar/rejeitar não é sinónimo de sucesso e a ilha consegue fugir às pernoitas dos turistas com menor poder de compra, mas não consegue fugir aos passeios de um dia a partir de Ibiza, e por aí toda a gente consegue entrar, porque Ibiza é perfeito para o turista de massas. Os carros no verão não são bem-vindos e é preciso reservar com antecedência o lugar no ferry. Carros de rent-a-car não podem entrar, mas lemos que há quem contorne a proibição com sucesso (não recomendamos este tipo de comportamento).
Também se pode entrar em Formentera a partir de Barcelona ou Alicante (Denia).
Podem reservar o ferry pela Trasmapi – ida e volta dois adultos e um bebé (até 3 anos) custaria 84€ (ida e volta, por exemplo de 28 de outubro a 4 de novembro, a partir de Ibiza). Se a viagem for direta a Formentera, o autocarro do aeroporto de Ibiza até ao porto é gratuito (linha 10) e pode ser reservado junto. Seriam 30/35 minutos de autocarro até ao porto e depois 30 minutos de ferry até Formentera.
Como se deslocar na ilha
Podem utilizar apenas os transportes públicos que são gratuitos, mas que não incluem Illetes. Ou podem alugar scooter (decisão acertada), carro ou bicicleta eléctrica.
Autocarro
Os autocarros públicos gratuitos circulam por toda a ilha desde o Port La Savina, passando por Cala Saona (L5), Platja Migjorn (L1 e L2) e Far de la Mola (L2). A L7 (a partir de outubro), incluída nos transportes regulares, também vai para o parque natural, mas a sua frequência é reduzida, perfeita para meio dia ou dia inteiro no parque.
Depois existe o autocarro circular L3 que passa no porto e no Parque Natural Illetes que é preciso pagar (8€ ida e volta).
Não adorámos o serviço de autocarros e os residentes não sabem dar informações nas paragens porque todos utilizam carro. Os motoristas não são muito claros nas informações.
Mota/scooter
A scooter dá a independência suficiente para o pretendido numa visita de um dia. Porquê a scooter? Custa o mesmo que alugar uma bicicleta eléctrica. Não era uma solução para nós.
Bicicleta
A vantagem da bicicleta é que vai mais longe em Illetes, enquanto que o carro tem que ser estacionado no parque.
Carro
Para nós o carro teria sido o ideal, por causa da Maria, ou então duas bicicletas, uma com cadeira de bebé, mas duas bicicletas custam o mesmo que um carro.
Preço
Preço/dia para outubro de 2023: bicicleta eléctrica 25€, scooter 30€, carro 50€. Em julho os preços eram ligeiramente mais caros. O carro para as mesmas datas da simulação de ferry (28 de outubro a 4 de novembro) custaria 224€.
Onde ficar
Só há duas cadeias 5 estrelas, a Riu e a 5 Flowers. O governo quer que as estadias (20.000 camas) sejam principalmente em pequenos hotéis ou alojamentos de férias.
Para quem gosta do tudo incluído, mas sem entregar um rim, tem o Insotel Club Maryland, mas muita gente diz que os quartos são de baixa qualidade, sem AC. Não escolham um alojamento sem ar condicionado no verão em nenhuma das ilhas se não tiverem alta tolerância ao calor.
Há bastantes alojamentos adults only e apartamentos com cozinha. Se forem no pico de verão não achamos necessários alojamentos com piscina.
Onde comer
Can Pascual: como a Raquel fazia anos almoçámos aqui. As outras opções estavam com uma fila de espera superior a uma hora e aqui não havia espera, o local era bastante simpático, acolhedor, calmo, mas acima da média nos preços. Comemos uma fideuá, semelhante à paelha, mas de massa. Muito boa!
Es Moli de Sal: também não é um restaurante barato (é bastante caro), mas tem vista para o mar, o que Can Pascual não tem. Fica à entrada de Ses Illetes. Tem uma posição elevada privilegiada e foi um antigo lagar de sal.
A Mi Manera: restaurante para quem gosta do instagramável.
Casa Carmen: está em destaque no Tripadvisor e nós confiamos na plataforma.
Restaurante Pelayo: também tem um bom lugar no Tripadvisor, com a vantagem de se verem os preços, ter vista mar e servir marisco.
Há fast food (pizzas e hamburgers), mas estamos em terra de marisco.
Dicas
Formentera é um destino caro, e não é difícil perceber porquê. Sem aviões os mantimentos só podem chegar por mar. Percebemos a vontade de ir até à ilha, nem que seja umas horas como nós fizemos, mas achamos que se desfruta mais de Formentera numa estadia mais longa. O por-do-sol é lindo e merece ser visto.
Se não se importarem de cozinhar podem alugar uma vivenda maior e dividir despesas com amigos ou família. Até podem entrar na ilha já com algumas compras feitas anteriormente.
Este artigo pode conter links afiliados. Algumas fotos são de um banco de imagens gratuito.
365 dias no mundo estiveram em Formentera a 20 de julho de 2023
12 Responses
Formentera: o paraíso disputado! ????️???? Turismo de massas? Nem pensar! Mas o bolso sente. Ainda assim, a vibe única e o contraste com Ibiza valem a pena.
Não falamos de Formentera ser turismo de massas, comparamos sim, com a vizinha Ibiza.
Fiquei com vontade de conhecer Formentera lendo seu post. Dos lugares que citou, fiquei bastante curiosa sobre o ilhéu de S’Espalmador. Parece ser um lugar bem bonito!
Também ficámos com vontade de lá ir, mas numa visita de poucas horas não dava para tentar ir.
Quando vc disse que a ilha de Formentera é cara para os portugueses, fiquei só fazendo contas e imaginando quanto sairia para nós, brasileiros… mas quem disse que o paraíso é barato, não é mesmo? hahaha
É daquelas ilhas que quer ser cara para reduzir os visitantes indesejados.
Que fotos lindas! Fui até olhar no mapa pra ter certeza onde fica Formentera, que até ler este post, não estava no meu radar de viagem! Conheço bastante da parte continental da Espanha, mas nada das ilhas…
Durante algum tempo também não esteve no nosso. Sabíamos que era muito bonito, mas achávamos que provavelmente era tão caro que nem valia a pena tentar visitar. As ilhas baleares e as canárias valem muito a pena.
Nós falhamos miseravelmente de não ter visitado Formentera enquanto vivíamos em Barcelona. Fomos só para Mallorca, que gostamos muito. Imagino que Formentera seja ainda mais bonita.
Todos nós tomamos dessas más decisões de adiar ou abdicar de visitar um local que na altura fica perto. Só quando olhamos para trás percebemos a falha grave que foi. Nós gostamos muito das Baleares, só nos falta conhecer Menorca.
Que lugar lindo, não conhecia Formentera até ler esse artigo. Acho que só por ser uma ilha já justifica os preços mais elevados, e podemos economizar em outras coisas né.
Formentera é lindo. Sim os preços são sem dúvida por ser uma ilha, por não quererem ter um aeroporto e pelo tipo de turismo que querem ter. Mas vale a pena.