A importância de um passaporte forte

Às vezes vende-se a ideia embelezada das viagens, pegar em meia dúzia de peças (não interessa bem o quê), uma mochila (quanto mais pequena melhor), no passaporte e partir, mas na prática todos sabemos que não é assim. E já foi muito pior. Perguntem aos vossos familiares emigrantes ou que gostam de viajar como faziam.

Viajar pode parecer simples:

  • escolher o destino,
  • marcar o voo e
  • fazer a mala.

MAS, pode ser complexo:

  • ter passaporte ou CC em dia,
  • ter visto ou autorização de viagem (carta de chamada, ou convite, cartão de crédito com plafond autorizado, voo de regresso, ter onde ficar),
  • tratar do voo (ida e regresso para muitos destinos, decidir acrescentar ou não bagagem),
  • fazer a mala,
  • ter dias disponíveis para viajar,
  • partir (filas nos aeroportos, atrasos, perda ou danos na bagagem).

Mas, para muitos viajantes, o maior desafio começa bem antes: como entrar no país de destino. É aqui que o passaporte faz toda a diferença: não são todos iguais. Quando falamos de mobilidade internacional, uns abrem portas enquanto outros ligam complicómetros.

Como alguém com dupla nacionalidade sinto isso na pele. Com o passaporte português, posso viajar para quase todo o mundo com muito menos burocracia. Já com o passaporte angolano, teria de lidar com processos burocráticos, como pedidos de visto, taxas consulares, em alguns casos marcação de entrevistas e documentos extra.

Neste artigo, vou falar sobre a importância de um passaporte forte, explicar porque isento de visto não significa zero burocracia, mostrar exemplos práticos e explorar as vantagens de ter dupla nacionalidade.

O que significa ter um passaporte “forte”?

Todos os anos, o Henley Passport Index e outros rankings classificam os passaportes de acordo com o número de países que permitem visitar sem necessidade de visto.

Em 2025, por exemplo:

  • Portugal está no top 10 (6º lugar), permitindo viajar para 186 destinos sem visto ou com visto à chegada.
  • Angola permite apenas 46 destinos sem visto.
  • No outro extremo, países como Afeganistão (106º) e Síria (105º) têm passaportes que abrem portas para menos de 30 países.

Mas atenção, viajar sem visto não significa portas escancaradas e nada de burocracia. Alguns países, como os Estados Unidos, Austrália e Reino Unido, mesmo oferecendo isenção de visto para determinados passaportes, exigem autorização eletrónica de entrada. Por exemplo:

  • Para os EUA, é preciso preencher o ESTA, pagar uma taxa e aguardar aprovação.
  • Para a Austrália, a entrada exige um eVisitor ou um ETA.
  • Para o Reino Unido, desde 2025, os portugueses passam a precisar de ETA (Electronic Travel Authorization).
  • A UE também introduziu um sistema de controle que só entra em vigor em 2026, o ETIAS, tendo desde 12 de outubro o sistema EES, que tem criado o caos nos aeroportos.

Se o pedido for recusado, a isenção deixa de valer e será necessário um visto formal. Por exemplo, se quiséssemos voltar aos EUA, teríamos que marcar entrevista com meses de antecedência e tratar de bastante papelada porque a nossa ida a Cuba retira-nos o direito ao ESTA.

Sem visto… mas só para turismo

Outro ponto que muitos viajantes desprezam é que quando dizemos que “não é necessário visto”, normalmente estamos a falar apenas para turismo ou estadias curtas.

Se o objetivo for trabalhar, estudar, residir ou permanecer no país por períodos mais longos, as regras mudam completamente. Mesmo com um passaporte forte, pode ser necessário pedir o visto ou autorização de residência correspondente.

Por exemplo:

  • Um português pode entrar nos EUA sem visto para férias até 90 dias, mas não pode trabalhar.
  • Para viver ou trabalhar no Reino Unido após o Brexit, é preciso pedir um visto de trabalho.
  • Na Austrália, mesmo com isenção de visto para turismo, há regras rigorosas para quem pretende estudar ou trabalhar.

Ter um passaporte forte facilita, mas não garante direitos adicionais.

Espaço Schengen

Ter um passaporte português abre portas para muitos mais destinos e, em muitos casos, com processos mais simples. O espaço Schengen a que Portugal pertence facilita a deslocação dentro da UE duma forma inacreditável, se compararmos com épocas em que não havia livre circulação. Uma pessoa pode conhecer vários países sem sequer ter de tratar dum passaporte.

Para quem viaja com frequência, há menos stress e muito menos dinheiro gasto.

As vantagens da dupla nacionalidade

Para quem tem dupla nacionalidade, as vantagens são claras:

  • Mais liberdade de escolha: posso optar pelo passaporte que oferece mais vantagens para o destino.
  • Mais oportunidades profissionais: com o passaporte português, posso viver, estudar ou trabalhar em qualquer país da União Europeia.
  • Viagens mais simples e económicas: menos taxas, menos pedidos de visto e mais flexibilidade para decidir à última hora.

Um segundo passaporte pode representar menos burocracia, menos custos e mais liberdade. A vantagem é ainda maior se as nacionalidades se complementarem.

Como obter uma segunda nacionalidade

Depende. Tudo é definido pelos respetivos países.

Nascer
Geralmente nascer num país dá nacionalidade, mas nem sempre. Alguns países não permitem que crianças nascidas no seu território, mas filhos de estrangeiros sejam nacionais (por exemplo: Angola, Suíça, Portugal), excepto cumprindo alguns requisitos.

Viver e trabalhar
Viver no país alguns anos, trabalhar, contribuir também pode dar nacionalidade. A Inglaterra por exemplo, exige um teste de conhecimento aos estrangeiros residentes para lhes dar a nacionalidade.

Casar
Casar, com um nacional pode dar nacionalidade, às vezes há algumas condições, como anos mínimos de casamento, ligação ao país, falar a língua.

História da família
Antepassados (geralmente só até avós) podem permitir obter nacionalidade. Tem sido polémica a mudança que a Itália quer fazer para limitar o pedido de nacionalidade.

Reparação histórica
Ser judeu sefardita. Neste momento, pelo que sabemos, foram revistas, mas Portugal e Espanha tinham leis muito especificas para compensar a perseguição aos judeus que aconteceu séculos atrás. Em Portugal foi um processo envolvido em polémica e sabe-se que a maioria dos processos de nacionalidade pendentes são de judeus. Talvez se tenha percebido mais sobre isso quando a 7 de outubro se deu o ataque do Hamas e Portugal recebeu pedidos de luso-israelitas para evacuação e mediação no processo de libertação de reféns.

Há países que não aceitam dupla-nacionalidade, exigindo uma escolha. Uma nova nacionalidade pode implicar abdicar da anterior.

Conclusão

Ter um passaporte forte é muito mais do que um detalhe burocrático — é um convite para descobrir o mundo com menos barreiras. No entanto, é importante perceber que isenção de visto não é sinónimo de entrada garantida: existem autorizações, restrições e, em muitos casos, regras diferentes para quem pretende trabalhar, estudar ou viver no país.

Se tens possibilidade de obter uma, vale a pena considerar, principalmente se essa nacionalidade conta a história da tua família. Por exemplo, no meu caso o meu passaporte angolano representa a família da minha avó paterna, conta a sua história, do meu avô que a conheceu em Benguela e com ela teve 4 filhos. Também conta a chegada a Portugal após o 25 de abril sem nada, da dificuldade de integração na cultura portuguesa e trouxe-me novas possibilidades.

A dupla nacionalidade dá uma vantagem competitiva a qualquer viajante, permitindo usar o melhor de cada passaporte.
No fim, isso significa menos tempo a tratar de papeladas e mais tempo a viver experiências. Calma, não é só coisas boas, há pelo menos um senão. Hoje em dia fala-se em tributações por nacionalidade, ou seja, mesmo não residindo nesse país podem ser obrigados a pagar impostos por terem nacionalidade. Isto existe porque há vistos especiais que permitiam imigrar e pagar menos impostos noutro país e logicamente para muita gente fazia sentido aproveitar. Há países que acham que esses seus cidadãos se estão a aproveitar destes regimes para pagar menos impostos deixando de pagar impostos no seu país de origem.

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4 Responses

  1. Mesmo não abrindo todas as portas, um passaporte forte facilita muito a vida do viajante. Por isso tanta gente vai atrás de uma dupla nacionalidade, tenho muitos amigos e conhecidos que conseguiram. Já a minha descendência é de longe e não há a possibilidade de tentar, infelizmente.

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