Se tivesse que escolher uma cidade do Japão, das que conheci para viver, seria Hiroshima. Porquê? Não sei. A paz que a cidade transmite, o tom moderno com que foi reconstruída, o ter menos gente, menos turistas faz-me escolher Hiroshima.
Hiroshima tem uma história triste, desoladora, mas renasceu das cinzas, como uma fénix e hoje passa a mensagem de: não às bombas nucleares, acabem com os testes nucleares. O que é um tema muito atual.
A 6 de agosto de 1945 os Estados Unidos da América bombardearam a cidade, após 3 anos intensos de conflitos com o Japão. A bomba nuclear Little Boy arrasou a cidade matando milhares de pessoas que nem perceberam bem o que aconteceu. Qual é o problema maior deste tipo de ataques? A bomba matou muita gente no momento e destruiu toda a cidade, mas… matou muito mais gente depois, pelos efeitos da radiação. Os EUA são os autores dos ÚNICOS ataques com bombas nucleares do mundo. Às 8:15 destruíram Hiroshima, 3 dias depois acharam pouco e decidiram repetir. O alvo ideal teria sido Kokura, mas “contentaram-se” com Nagasaki. Às 11:02 do dia 9 de agosto a história repetiu-se em Nagasaki, com a bomba Fat Man. Uma explosão pior, mas “controlada” pelo terreno acidentado.
Para quem não sabe sou técnica de radiologia e se há coisas que os estudantes aprendem no curso é como as bombas nucleares serviram para se saber mais sobre os limiares de dose na radiação e os efeitos de excesso de radiação. Falamos de efeitos imediatos e efeitos a longo prazo.
Por causa deste conhecimento parte o coração ouvir e ler os testemunhos de pessoas que não tendo sido afetadas imediatamente no bombardeamento se deslocaram para o epicentro e receberam excesso de radiação sem saber o que estava a acontecer. Muitas foram com espírito de missão, querendo ajudar as vítimas, e não fazendo ideia que se estavam a juntar a elas. Senti-me várias vezes emocionada, de olhos marejados e tive vontade de gritar “não, não vás para lá” enquanto lia ou ouvia os testemunhos.
Tal como o holocausto, relembrar o bombardeamento serve acima de tudo de memória coletiva. O mundo não se pode esquecer, e estes locais exigem que se recorde, as vidas perdidas serão relembradas com um propósito. Espero eu que um dia o que aconteceu, por exemplo em Gaza, também seja um destes acontecimentos inarráveis, mas que têm que ficar marcados na história.
O que visitar
“Jovens de todo o mundo, venham a Hiroshima! Eu e os sobreviventes da bomba atómica lançada sobre Hiroshima e Nagasaki precisamos contar-vos o que vivemos há oitenta anos. A nossa experiência pode trazer uma mensagem de paz.”
Toshiyuki Mimaki, co-presidente da Nihon Hidankyo e Prémio Nobel da Paz em 2024
Parque Memorial da Paz: inclui o Monte do Memorial da Paz, a Cúpula da Bomba Atómica, o Museu do Memorial da Paz de Hiroshima, o Cenotáfio das Vítimas da Bomba Atómica e o Salão Memorial da Paz de Hiroshima para as Vítimas da Bomba Atómica. Antes do bombardeamento este era um bairro comercial. Morreram 70.000 pessoas no bombardeamento, o número duplicou até ao final do ano e ainda hoje há vítimas, de segunda ou terceira geração.
Todos os anos a 6 de agosto a população escreve mensagens de paz em lanternas de papel que depois são largadas no rio, denomina-se a Cerimónia Memorial da Paz. O memorial das crianças é particularmente duro.


A Chama da Paz foi acessa com a chama do Pavilhão Reikado da ilha Miyajima que dizem que está a arder há mais de 1200 anos.
Cúpula da Bomba Atómica: o antigo Promotion Hall, (Salão de Promoção Industrial da Província de Hiroshima) projetado pelo arquiteto checo Jan Retz e construído em 1915, ficava no epicentro do bombardeamento. Apenas a Cúpula permaneceu, e hoje é um dos maiores símbolos do que aconteceu.

Salão Memorial da Paz de Hiroshima para as Vítimas da Bomba Atómica: é um espaço que dá voz às vítimas e sobreviventes. As famílias contam as histórias e identificam as vítimas, ou então há relatos reais, lidos ou até falados dos sobreviventes. Há um relato particularmente duro dum sobrevivente. É feito com detalhes, em como viu as pessoas feridas, desesperadas de dor e como teve que escolher ficar com um amigo ou fugir para se salvar, enquanto os seus gritos em agonia ecoavam no ar. Hibakusha é um termo utilizado para descrever um sobrevivente e pela primeira vez (dados de julho/2025) há menos de 100.000. São pessoas que sofreram toda a vida a partir daquela manhã, a guerra, a bomba, as consequências.
Na cave é possível ver Hiroshima, após o bombardeamento.

Museu do Memorial da Paz: fica bastante lotado, porque faz parte das excursões a Hiroshima. Ao mesmo tempo também é um espaço muito pesado que merecia algum silêncio e lentidão no percurso para absorver a imensidão da informação que nos dá. Pode ser demasiado para pessoas impressionáveis. Nós levámos as miúdas e eu filtrei bastante o que transmitia à Maria. Locais que deixariam claro que as vítimas sofreram MUITO não foram vistos por ela. No entanto ela percebeu que envolvia morte e destruição porque é impossível essa mensagem não passar. Há vestígios como roupas, objetos, há fotografias. Há os orizuris feitos por Sadako Sasaki, uma sobrevivente, que mais tarde teve leucemia. Na sua luta pela sobrevivência Sadako tentou dobrar 1000 quadrados de papel para poder desejar a sua cura. Morreu antes, mas os familiares e amigos cumpriram a sua tarefa e ergueram um memorial em seu nome.
Abre das 7:30 às 19h. A entrada custa ¥200.



Hiroshima Atomic Bomb Hypocenter Monument: tem uma placa discreta, porque é mais um local simbólico. É o local na cidade onde a bomba explodiu 600 metros acima. Era uma clínica.
Torre Orizuru: foi construída em 2016. Tem um piso panorâmico (Hiroshima Hills) com vista para o memorial da paz e para a ilha de Miyajima. Nós comprámos os bilhetes na Get Your Guide e passámos ali um bom bocado. Tem um café.
No centro a torre tem uma sala com uma zona interativa e funcionários para vos ensinarem a dobrarem papel (a arte do origami) em forma de tsuru (o origami em forma de pássaro) e depois quem não tem vertigens deposita o seu origami na parede de vidro (Orizuru Wall). Orizuru e tsuru são termos equivalentes.
A zona de escadas e rampa tem uma parede de arte “2045 NINE HOPES”, onde artistas ligados a Hiroshima pintaram as paredes da descida. No centro das escadas tem um escorrega (é preciso por capacete) para adultos onde podem descer os 70 metros.
Na fotografia de baixo temos a torre no canto superior direito.
Custa 2200 JPY, até aos 6 anos é grátis.


Castelo de Hiroshima: o que existe hoje é uma réplica de 1958, mas o original era de 1500. É um castelo raro porque costumam ser construídos num local alto e este está ao nível do resto da cidade. A réplica foi construída porque o original foi destruído pela bomba. No entanto três árvores sobreviveram. Dentro dos muros do castelo encontram-se um azevinho, um eucalipto e um salgueiro, que estavam entre 740 e 910 metros do centro da explosão. É impressionante!!! Antes do castelo existe uma placa que indica onde estão as ruínas do castelo original.
Nós não fomos, porque estivemos pouco tempo na cidade.

Jardim Shukkeien: fica perto do castelo e foi criado depois deste ter sido concluído em 1620. O jardim tem um percurso que contorna a lagoa. Foi oferecido à cidade em 1940, serviu para receber os feridos após a bomba. Foi renovado e reaberto em 1951. Custa 260 ienes.
Aqua Alive Museum: o aquário de Hiroshima, pelo pouco que conseguimos perceber, é uma mistura de aquário e cenários iluminados. Custa 2000 JPY, por adulto. Dos 3 aos 6 anos entra uma criança grátis por adulto. Até aos 3 anos é grátis. Abre das 10 às 19h.
Museu de Arte de Hiroshima: abriu em 1978 com um propósito de amor e paz, pensado durante 10 anos. O Banco de Hiroshima comemorou o seu centésimo aniversário com a abertura do museu, respondendo ao pedido da população que procurava um sítio com arte. Abre das 9 às 17h, excepto segundas-feiras. Custa 1500 JPY, grátis para crianças.
Museu da Ciência Infantil de Hiroshima: aberto desde 1 de maio de 1980. Aqui crianças e adultos podem fazer experiências e ver as estrelas do céu da cidade. Abre das 9 às 17h, fecha às segundas-feiras. É gratuito, excepto o planetário. Custa 510 JPY, adultos.
Mercado: acabámos por vir para aqui em busca de sapatos para a Maria. Tem muita coisa desde restaurantes, lojas e espaços de Gachapon (máquinas de brinquedos em cápsulas de plástico).
Museu da Mazda: a marca automóvel foi criada em Hiroshima a 1920. Podem percorrer a história da marca e os seus modelos. As visitas têm de ser marcadas.
Ilha de Miyajima: é o postal da região. O seu torii gigante que emerge das águas é a imagem de marca, MAS a imagem perfeita pode ser difícil de conseguir. O torii pode ficar menos fotogénico sob a maré baixa. Na ilha fica o santuário Itsukushima-jinja. Também há cervos como em Nara. Faz-se bem como um “bate e volta”, apesar de ser possível dormir lá.


Podem ler o nosso artigo sobre Miyajima.
O que fazer
Torre Orizuru – atividades: incluído no bilhete da Torre está a Praça Orizuru e o Escorrega Cool-cool-cool. A Praça Orizuru é onde vos ensinam a fazer os tsurus que depois podem lançar (ou não) na parede orizuru. Custa 100 JPY lançar o vosso tsuru. Também existe um ecrãs digitais com jogos.
O escorrega cool-cool-cool tem 70 metros e desce os 9 andares, mas é possível sair em cada um. é necessário utilizar capacete, crianças com menos de 6 anos não podem descer.
Também podem ir ao café Akushu Cafe (1º piso ou rooftop).
O bilhete para a torre custa 2200 JPY, grátis até aos 6 anos.
Passeios de barco: nós fizemos o Motoyasu River – Honkawa River sightseeing 25-minute course por 1500 JPY. Elas não pagaram, é só a partir dos 5 anos. Há mais duas rotas, a B e a C.
Jogo de basebol no Mazda Stadium: assistir a um jogo do Hiroshima Toyo Carp, três vezes campeões do Japão.
Kyudo (Tiro com arco): esta arte japonesa pode ser aprendida num workshop de 45 minutos, mais 15 minutos para trocarem de roupa para os trajes tradicionais. Diferente do tiro ao arco ocidental esta arte marcial envolve corpo e mente concentrados. É promovido pela loja HIROSHIMA CASTLE SHARAKU e custa 36€ pela GYG.
Aula de culinária de Okonomiyaki: após o encontro junto à cúpula segue-se até um restaurante local, onde um Chef ensina a fazer a famosa panqueca de Hiroshima, onde os ingredientes são colocados em camadas. Os participantes são convidados a participar ativamente e têm direito a uma bebida enquanto comem. Custa 49€ pela GYG.
O que comer
Hiroshima é bastante rico em gastronomia. Aqui são famosas as ostras, a Tempura Horumon (porco), a Okonomiyaki (panqueca de legumes), Anago (enguia) e Tsukemen (a massa é servida separada do molho).
Os pequenos almoços foram na rua em locais como Doutor.
Por curiosidade: a cadeia chama-se Doutor porque o fundador emigrou para o Brasil.
Almoçámos num espaço pequenino e muito bom. Têm poucos pratos, mas vale a pena visitar. Chama-se Number 3.
Como chegar
Nós fomos de Shinkansen, no comboio da Hello Kitty pensando na Maria. Fizemos aqui uma coisa, decidimos não reservar lugar, e o Tiago ficou na fila para sermos os primeiros a entrar na carruagens de lugares livres durante 30 minutos. A viagem demora 90 minutos, 4 horas se forem direto de Tóquio. Comprámos bento boxs para fazer como os japoneses se comer na viagem.
Também podem chegar de avião. Nós, por exemplo, aproveitámos para sair de avião e seguir para Okinawa.
Onde se alojar
Nós ficámos no Hotel Vista Hiroshima, um primeiro hotel nesta viagem. Fica bem localizado e é dos que oferecem variados amenities, como de higiene pessoal e pijama para utilizarem.
Dicas
Durante a nossa viagem utilizamos um eSIM da Holafly. Tem dados moveis ilimitados e permite um hotspot de 500 Mb. Com o nosso código 365DIASNOMUNDO têm 5% de desconto.
Fizemos seguro com a Heymondo, porque permite cancelar por qualquer doença de menores de 4 anos.
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365 dias no mundo estiveram no Japão de 18 de agosto a 5 de setembro


