A VIAGEM DO ELEFANTE BY PRIO (PORTUGAL)

A partir do momento em que o Sri Lanka ficou na lista dos próximos destinos a Raquel lembrou-se de ter lido um livro de Saramago. A Viagem do Elefante é um romance do nosso prémio nobel da literatura baseado em acontecimentos históricos, como a efetiva viagem de um elefante desde Lisboa até Viena. Seria Salomão um elefante indiano ou cingalês? Que percurso teria feito? Essas questões fizeram-nos pesquisar e decidimos replicar parte do roteiro idealizado por Saramago.

Um elefante em Lisboa

Era comum a oferenda de elefantes e outros animais exóticos por parte dos reinos onde eram endémicos. Estão a ver as trocas de Galhardetes quando há visitas oficiais a algum local? Era um pouco como isso, uma forma de ofertar algo que só nós temos e que até é exótico para quem recebe. Quando Portugal “toma posse” do Sri Lanka, antigo Ceilão, começa a retirar canela, pedras preciosas e elefantes do reino de Kotte, mas por pouco tempo. Como já falámos nos nossos artigos, Portugal nunca chegou a concretizar o desejo de comandar toda a ilha, tendo tido uma forte oposição por parte do rei de Kandy, mais tarde com apoio da Real Companhia Holandesa.

Vindo de Kotte (Sri Lanka) em 1542, por mar, Salomão saiu de Lisboa rumo a Castela, em alguma altura de 1549, para ser oferecido a D. Carlos ou ao arquiduque Maximiliano e à infanta Maria de Espanha como prenda de casamento. O infante D. Carlos era neto dos reis portugueses (D. João III e D. Catarina de Áustria) e Maria era sobrinha de Catarina.
Há várias versões da história, Saramago assume que os reis portugueses decidem oferecer Salomão a Maximiliano, arquiduque da Áustria, mas que o entregam em Valladolid, porque não só fica mais perto como é onde o arquiduque está hospedado. Oficialmente não se sabe por onde vai, mas sabe-se que chega a Valladolid em novembro.
O roteiro do elefante do romance A Viagem do Elefante em Portugal é pura especulação, porque por incrível que pareça não há grandes registos do paquiderme do nosso lado da fronteira. É incrível imaginar que sendo impossível passar despercebido não houve um escritor ou pintor que eternizasse a viagem real de Salomão. A partir da chegada a Espanha e até Viena o roteiro já é conhecido, e já foi ou pintado ou descrito por artistas.

Saramago, conhece a história de Salomão em Salzburg, num restaurante e fica fascinado. Se ninguém escreveu sobre isso, escreverá ele e assim o livro A Viagem do Elefante é publicado em 2008. O roteiro de Saramago parte de Lisboa (Belém) até Figueira de Castelo Rodrigo, passando por Fundão, Belmonte, Sabugal, Guarda, Mêda, Pinhel e Almeida. O escritor percorreu o seu roteiro em 2009 com o intuito de criar uma rota turística literária que atraísse visitantes ao interior. Nós pegámos nas nossas crias e desafiámos a Inês (Sempre Entre Viagens) a juntar-se a nós, e assim nasce um roteiro em duas partes.

A Rota da Viagem do Elefante

Em Lisboa, Salomão parte de um cercado construído em Belém e que acolhe o elefante desde a sua chegada. Vamos assumir que fica junto do Mosteiro dos Jerónimos. Imaginaríamos um evento com grande pompa, ou não fossem as famílias reais capazes de transformar pequenos eventos familiares em grandes festas que atraíam o povo. Saramago, por contrário, imagina Salomão a sair numa comitiva pequena, quase às escondidas.
Como já dissemos reinam D. João III e D. Catarina Habsburg que têm um imenso território para controlar, são um casal sofrido, com quase todos os filhos falecidos e têm uma adoração pelo neto Carlos, órfão de mãe. Lemos que o infante recebeu vários animais exóticos dos avós.
D. Catarina é descrita por investigadores como uma grande colecionadora e umas das fontes de animais exóticos na Europa. Sendo Habsburg tem família nas mais variadas casas reais europeias, como Áustria, Espanha, Alemanha e por isso as suas ofertas levam à criação de zoológicos em vários palácios. Sobrinhos, noras e genros, netos, irmãos, amigos, todos poderiam vir a receber um elefante, um papagaio, um gato selvagem da parte da rainha de Portugal.

Parte 1

Lisboa

No Mosteiro dos Jerónimos e redondezas temos o Museu de Arqueologia, Museu da Marinha e o Planetário. O Real Mosteiro de Santa Maria de Belém foi inaugurado a 1601, e é ideia de D. Manuel I. É fácil perceber que à data de partida de Salomão não estava como hoje o conhecemos. Tem honras de panteão e estão aqui sepultados Luis Vaz de Camões, Vasco da Gama, Alexandre Herculano e Fernando Pessoa. Perto ficam o CCB/Museu de Arte Contemporânea, o Padrão dos Descobrimentos, o Museu dos Coches, o MAAT e Central de Eletricidade e o Museu de Arte Popular. Mais longe ficam a Torre de Belém, o Museu do Tesouro, Palácio Nacional da Ajuda, o Monumento aos Combatentes do Ultramar e Museu Nacional de Etnologia.

Salomão segue viagem pelo Centro de Portugal com o cornaca e uma comitiva. Saramago não faz uma descrição detalhada do local, mas a viagem começa junto ao Tejo onde descreve os banhos de rio do paquiderme.

Fundão

Saramago levou o elefante pelas ruas de Castelo Novo e Alpedrinha até ao Fundão. Sigam por Alcongosta. Imperdíveis são o Palácio do Picadeiro, Museu Arqueológico Municipal José Monteiro, Casa da Cereja e a Casa do Guarda. No Fundão existem duas igrejas (Igreja Matriz do Fundão, Igreja Paroquial), em Alpedrinha a Capela do Leão, o Chafariz de D. João V e a Casa do Cardeal. Em Castelo Novo temos a Igreja Matriz, o Pelourinho, o Castelo, os Paços do Concelho, o Chafariz de D. João V (Fonte da Vila) e o Chafariz Fundeiro. Castelo Novo tem também uma praia fluvial e um miradouro (Miradouro das Alminhas).

Belmonte

Em Belmonte nasceu Pedro Álvares Cabral e temos o Castelo Medieval e o Museu dos Descobrimentos de Belmonte. Saramago não deixou claro se o seu Salomão passaria por Belmonte, mas veio à Igreja de São Tiago ver a Pietá. Visitem a Villa Romana da Quinta da Fórnea, as Casas da Torre e da Roda e a Torre de Centum Cellas.

Sabugal

No Sabugal continuamos a pisar as pegadas imaginadas do elefante Salomão e chegamos até Sortelha. Visitem o Castelo das Cinco Quinas e Museu Municipal de Sabugal, mas também a escultura do elefante em granito da autoria do escultor João Reis (Sortelha). Aqui temos Parque Termal do Cró, onde Salomão se poderia ter deliciado com as águas termais.

No nosso fim de semana escolhido choveu parte do primeiro dia. Visitámos toda esta parte do roteiro à chuva. Acabámos porque não visitar muita coisa, mas passeámos pelas ruas com o nosso Salomão que nos foi oferecido pelo Turismo do Sri Lanka e fingimos com a Maria ser Saramago e decidir o que incluir no seu roteiro. Parte desta região faz parte da Rota das Judiarias (Belmonte) e muitas são Aldeias Históricas (Castelo Novo, Sortelha e Belmonte). Fundão, Castelo Novo, Alcongosta e Belmonte fazem parte do Caminho Português de Santiago (Nascente).

Parte 2

Podem ler o artigo da Inês do Sempre entre Viagens e que complementa este roteiro.
Nesta segunda parte também fazem parte do Caminho Português de Santiago, a Guarda (Nascente), Pinhel e Almeida (Caminho do interior). Na Rota das Judiarias temos Guarda, Pinhel, Almeida e Castelo Rodrigo e nas Aldeias Históricas temos Almeida e Castelo Rodrigo.

Onde se alojar

inBulla Country & Wellness, em Seixo do Côa, uma antiga casa de família convertida cum pequeno alojamento pareceu-nos a melhor opção para o final de semana. Os detalhes na decoração com o conforto da lã da região, o pequeno-almoço entregue numa pequena cesta pela manhã, o SPA bem equipado com um simpático jacuzzi e piscina com vistas para o vale do Rio Côa conquistaram-nos. A Raquel já tinha visto flyers do espaço em Lisboa e já tinha ficado tentada.

No verão de 2023 ficámos no Cró Hotel Rural, em Rapoula do Côa. Tem piscina interior, os quartos são bem equipados, com banheira e o pequeno-almoço era bom. Há bicicletas para utilizar. O edifício atraiu-nos pela sua arquitetura (Pedro Santos).

Nesse verão de 2023 também ficámos no Longroiva Hotel Rural (Mêda), do mesmo grupo do Cró. Tínhamos interesse em vir aqui também pela sua arquitetura (renovação de 2016 pelas mãos do arquiteto Luis Rebelo de Andrade). O edifício existente neoclássico foi renovado e acrescentaram 5 módulos novos unidos por um corredor. A zona nova possui 10 bungalows com quarto e kitchnette e 20 quartos duplos. Tinha a vantagem de ter jogos que se podiam utilizar e a Maria adorou. A piscina aquecida foi um must do do local.

Onde comer

O Lagarto (Castelo Novo), imperdível restaurante de comida regional. Nós pedimos a fraldinha de bovino com legumes, queijo feta, cogumelos e pêra.

Restaurante D. Sancho (Sortelha), fica no Largo do Côrro logo a seguir à Porta da Vila. Fomos jantar e pedimos vários pratos de caça. As opções andam pelas Caldeiradas de bacalhau, borrego ou cabrito, arroz de lebre, veado guisado e perdiz estufada.

Restaurante do Cró Hotel Rural (Rapoula do Côa), jantámos no hotel para não sair da zona. Foi bastante agradável.

Restaurante Granitus (Almeida), junto ao Largo 25 de Abril. Pedimos posta, lombo de porco e bacalhau.

Como se deslocar

Esta viagem foi realizada em parceria com a PRIO, que oferece soluções de mobilidade estratégicas e económicas para todos. Não faltaram opções para abastecimento. Há diversos postos de abastecimento no percurso, tanto a combustão (Covilhã, Belmonte, Guarda, Pinhel e Vilar Formoso), como soluções elétricas (Vilar Formoso).

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6 Responses

  1. Adorei esse paralelo do itinerário do elefante com a viagem de vocês. Só Saramago mesmo para pegar uma história fantástica dessa e transformá-la em literatura da melhor qualidade! Mais inacreditável é ter uma avó que presenteava o neto (e a família toda) com animais exóticos haha

  2. Acho o livro uma delícia (sou fã de Saramago) e conheço a maior parte dessas localidades, mas não com esta sequência e propósito. Adoro quando a literatura inspira um roteiro

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