Em plena polémica dos jacarandás e do abate de árvores em Lisboa queremos falar do roteiro que busca as árvores roxas. Quem vive em Lisboa não precisa de seguir um roteiro para as encontrar, basta seguir o dia a dia.
Avança a primavera e até ao final de junho há umas árvores que se pintam de roxo à medida que florescem. Os jacarandás florescem mais tarde que outras árvores (maio) e há que diga que a melhor vista da cidade na época dos Jacarandás é de dentro do Tejo, não sabemos. No entanto, conseguimos imaginar a margem norte salpicada de manchas roxas.
A árvore jacarandá mimosifolia floresce em maio e perdura até junho, como se abrisse as portas ao verão. Originária da América do Sul, por exemplo Argentina, Bolívia e Paraguai só se dá em Portugal junto e abaixo do Tejo. Na Argentina a árvore existe em quase todas as ruas da capital, um projecto de Carlos Thays. O paisagista francês plantou os jacarandás no Centro Histórico, Plaza San Martin, Avenida 9 de julio, Bairro Palermo e Avenida Figueroa Alcorta. Estivemos lá em 2017 e não estavam floridas, por isso nem reparámos.
Podem ler o nosso artigo sobre Buenos Aires.
O Jacarandá já tem séculos no nosso país. Felix Avelar Brotero trouxe o Jacarandá do Brasil até ao Jardim Botânico da Ajuda, que dirigiu de 1811 a 1826. Se bem se lembram, a família real parte em novembro de 1807 para o Brasil. Os jacarandás chegam durante a estadia da familia real no Brasil, esta que só regressa em 1821. Lemos que o pai da botânica portuguesa dava sementes a quem quisesse. Quando a corte regressa o azul é uma cor que simboliza poder. Contextualizando à época, séc. XIX, existia uma grande necessidade de demonstrar poder e o exotismo sempre foi a arma utilizada pela corte. Os animais exóticos como elefantes, rinocerontes, papagaios, etc foram oferecidos por reis como D. Manuel I e D. João III. Papas, reis, imperadores, governadores, receberam estes animais oferecidos por Portugal.
Podem ler o nosso roteiro da viagem do elefante de Lisboa a Figueira de Castelo Rodrigo.
No Brasil as ruas de São Paulo também se pintam de azul/roxo. Lemos que antigamente as ruas estavam todas cheias de jacarandás, mas que agora a árvore é menos comum. Minas Gerais também tem algumas, mas não conhecemos o estado.
Podem ler o nosso artigo de São Paulo.
Onde estão as Jacarandás
Largo do Rato, junto à sede do PS temos várias jacarandás que se prolongam até à Mãe de Água pela Rua D. João V.
Parque Eduardo VII, aqui está um dos maiores mantos roxos da cidade. Na Alameda Edgar Cardoso desde a Praça Marquês de Pombal até à Estufa Fria temos um grande número de árvores.
Largo do Carmo, aqui as jacarandás emolduram o Quartel do Carmo (Museu GNR) e o Convento do Carmo. Há ótimas esplanadas aqui.
Av. D. Carlos I, liga o Palácio São Bento (onde fica a Assembleia da República) até à Avenida 24 de julho
Av. da Torre de Belém, aqui fica talvez das nossas paisagens preferidas. Quando descem desde o Jardim Ducla Soares em direção à Torre de Belém é visível a torre, o rio, e uma moldura lateral perfeita em roxo.
Avenida do Restelo, toda a Avenida é conhecida pelas suas embaixadas e jacarandás, principalmente em frente ao jardim Ducla Soares.
Parque das Nações, Jardim das Jacarandás. Não conhecemos.
Avenida das Descobertas, onde fica o Hospital São Francisco Xavier.
Campo Pequeno, na Praça há alguns.
Avenida 5 de Outubro, a rua de todas as polémicas onde a CML (Câmara Municipal de Lisboa) quis tirar as árvores, mas os cidadãos criaram um movimento para impedir e trazer a decisão a discussão e
Avenida 24 de Julho, a grande avenida onde fica o Jardim Nuno Alvares, Jardim Dom Luis, o Time Out Market e a Merendeira e as portas de Santos.
Curiosidades
As duas últimas árvores a florescer são as do Jardim Botânico da Ajuda. O jardim pode ser visitado por 2€.
O jacarandá perde primeiro todas as folhas, e só depois nascem as flores. Em setembro, se voltar a florescer já não caem todas as folhas antes.
D. João VI abria o jardim botânico da ajuda todas as quintas, para que o povo visitasse as plantas exóticas.
Fora de Lisboa
Quando estivemos no algarve em junho de 2024 vimos jacarandá no Alandroal.
Pontos positivos
O verão está a chegar, essa é a principal mensagem que um jacarandá florido nos dá.
A cidade de Lisboa fica linda, parar em semáforos e no trânsito torna-se menos desagradável.
Pontos negativos
Quando a folha cai, o piso fica escorregadio e pegajoso. Vários artigos chamam-lhe purple rain. Essa é talvez a parte desagradável, o manto roxo outrora na árvore vira uma gosma que escurecida, até se torna mal cheirosa.
Quem sofre de rinite passa mal e os jacarandás podem apanhar piolhos.
A polémica atual
A Câmara Municipal de Lisboa quer retirar alguns dos jacarandás da Avenida 5 de outubro e criar um estacionamento subterrâneo. Os cidadãos fizeram um abaixo-assinado com mais de 50 000 assinaturas e impediram para já o acontecimento. Todos precisamos de sítio para estacionar, e quem vive em Lisboa sabe como é caótico encontrar um lugar, mas os residentes mostraram que não vale tudo. Tal como a luta em Arroios contra o desaparecimento das esplanadas as pessoas querem ter onde parar o carro, mas querem principalmente ter onde caminhar.
Onde ficar em Lisboa
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6 Responses
Formam uma paisagem tão bonita quando florescem.
Verdade!!!
Já estive em Buenos Aires no verão e não me recordo de jacarandás tão floridos como os dessas fotos de Lisboa! Realmente mudam a paisagem quando estão floridos, mas árvores com muitas flores sempre causam polêmica – as flores eventualmente caem e causam os problemas citados no post. Eu particularmente acho que vale o trabalho de limpeza, pelo tanto que embelezam as ruas.
Sim, as flores e o colorido que deixam na paisagem vale o que sujam, se as cidades tiverem um bom sistema de limpeza.
Fotos lindas nesse post! Nunca tinha reparado muito em jacarandás como eu reparo em cerejeiras, mas agora vou procurar onde tem essa árvore pelo mundo, além de Lisboa!
As cerejeiras também dão uma paisagem linda.