VISITAR O ANTIGO CEILÃO (SRI LANKA)

A República Democrática Socialista do Sri Lanka já foi conhecida como Taprobana, como nos diz Luís de Camões n’Os Lusíadas, e mais tarde como Ceilão, ou Ceylon, até 1972. Visitada pelos navegadores portugueses, a ilha resplandecente foi portuguesa e isso ainda se nota, apesar de pouco o recordamos.

Taprobana

A terra dos leões (significado de Ceilão) tem uma história bastante antiga, começando pelo povo Sinhala que migrou de Bengala para a ilha, onde já se encontravam os Vedas. Os portugueses chegaram em 1505 devido a uma tempestade que desviou a sua rota até Galle, onde encontraram sete reinos que batalhavam entre si. Rapidamente passaram dos negócios de exportação da canela para a política. Lemos que os portugueses assassinaram o rei para conseguirem que o neto, ainda criança, tomasse o poder e nele exercerem uma forte influência. A conversão ao cristianismo do rei João Dharmapala levou à doação do reino de Kotte ao rei português. Uma década depois os portugueses já tinham expandido o território para oeste, sudoeste e sul (reino Sitawaka). Consideravam o país a “pérola do oceano Índico”, o “pomar permanentemente fresco”, e ali “produziam” canela, elefantes, pérolas e pedras preciosas.

Ceilão

Portugal criou uma rede de fortalezas para proteger o território conquistado. O território ficava entre o rios Kala e Walave e o reino Kandy. Os portugueses tentaram durante largos anos estender o seu domínio por toda a ilha, mas sem sucesso.
A tentativa de colonização da fértil ilha deixou marcas visíveis ainda hoje: houve transporte de centenas de colonos, aportuguesaram-se nomes, construíram-se fortalezas no nosso estilo, converteu-se a população, ocidentalizou-se o vestuário, gastronomia e língua.
A fortaleza de Galle, os objetos de modelo europeu desenhados em estilo cingalês, a baila (música de dança com influência do Sri Lanka, Portugal e África), o teatro, as rendas, a alimentação, o português-crioulo, o catolicismo, são tudo parte da herança portuguesa no país.

Sri Lanka

O Sri Lanka é um país relativamente novo porque os britânicos tiveram durante vários anos (1802 a 1948) um protetorado na ilha adotando a versão inglesa de Ceilão, Ceylon. O país tem-se tentado desligar dessa denominação, mas ela persiste no chá, sendo o que lhe dá o selo de qualidade e o torna único.

Depois dos portugueses mais nenhum país conseguiu influenciar o Sri Lanka da mesma forma (estamos a brincar, porque há uma forte influência britânica do período em que esteve sob o seu domínio). Pelo meio recebeu os Países Baixos em 1602, que prometeram proteção ao reino de Kandy contra Portugal. Na altura Portugal encontrava-se sob domínio de Espanha, com a dinastia filipina, e nunca foi capaz de concretizar o seu sonho de espalhar colonos e influência por toda a ilha. Os portugueses foram expulsos em 1658, tendo que indemnizar os holandeses para recuperar o território no Brasil (Recife, João Pessoa, Natal, São Cristovão, Fortaleza e Olinda).
Muita coisa construída por portugueses é hoje conhecida como holandesa, porque estes ou destruíram e construíram por cima ou reabilitaram. Com Napoleão nos Países Baixos, os britânicos tomaram o Sri Lanka, que apenas se tornou independente em 1948.

A língua

As línguas oficiais são o cingalês e o tâmil, mas a população também fala inglês e muita coisa aparece escrita em inglês.

Existe uma comunidade que fala português-crioulo. É preciso referir que não é português e nem muito perceptível, porque passaram séculos, mas a influência está lá.
Existem palavras como amor, annasi (ananás), bankuwa (banco), bonikka (boneca), bottama (botão), kamisaya (camisa), lensuwa (lenço), mesaya (mesa), paann (pão), pinturaya (pintura), rosa, saban (sabonete), salada, sapattuwa (sapato), sumanay (semana), viduruwa (vidro).

Esta herança linguística reflete a integração cultural e histórica entre Portugal e o Sri Lanka que infelizmente vai-se perdendo porque não lhe damos o devido valor, não havendo uma preocupação portuguesa em manter a sua existência. Quando os holandeses chegaram a Ceilão os reis falavam português fluentemente. Os novos senhores da ilha tentaram proibir o português, mas não foram capazes. Houve um tempo em que quem falasse português comunicava com todo o país.
A comunidade que fala o crioulo português vive concentrada principalmente nas cidades de Batticaloa e Trincomalee, mas também em Jaffna ou Colombo. São os chamados Burghers Portugueses, euro-asiáticos. Por curiosidade, Derrick Keil cantou uma versão moderna da canção Minha Amor no The Voice Sri Lanka em crioulo e chegou a dar entrevistas para Portugal depois de se ter tornado um fenómeno.

Esta influência portuguesa também deixou muitas palavras e sobrenomes portugueses, como o Ebert Silva do Colombo City Tour. Outros sobrenomes comuns são Corea (Correia), Croos (Cruz), De Abrew (Abreu), De Alwis (Alves), De Mel (Melo), De Silva (Da Silva), De Soysa Ou De Zoysa, Dias, De Fonseka Ou Fonseka (Fonseca), Gomes Ou Gomis, Mendis (Mendes), Perera (Pereira), Salgado e Vaas (Vaz).

Música/dança

A comunidade Burgher portuguesa introduziu a baila, que também existe em Goa e Mangalore. É um estilo musical corrente e muito tocado em festas e casamentos.

A música que Derrick cantou no The Voice, mesmo em crioulo é perceptível, é um medley de duas músicas em crioulo. A comunidade Burgher continuou a escrever e tocar bailas havendo músicas das décadas de 1850, 1890, 1960 ou 1970. Por curiosidade pusemos o vídeo porque achamos que é importante divulgar uma língua que se pode vir a perder.

Vi Minha amor par baila

Dose Minha coracao ta desia

Tem este dia nossa alagria

Vi minha juntu par baila

Religião

Após intensos conflitos, o Sri Lanka tornou-se um exemplo de convivência pacífica entre diferentes religiões. O país tem templos budistas, hindus, igrejas católicas, igrejas anglicanas e mesquitas, muitas vezes no mesmo bairro, às vezes na mesma rua.
O catolicismo foi introduzido pelos portugueses, que foram os primeiros europeus a chegar ao Ceilão e quiseram logo fazer o que faziam bem, aportuguesar o local. Hoje 6% da população é católica.

A moeda

A moeda é a rupia cingalesa (LKR). Os cartões de crédito (e Revolut) são aceites e vimos comprar safiras com euros.

compra de safira Ceilão

Clima

Tropical húmido, com época de monções de maio a setembro.

Gastronomia

A gastronomia do Sri Lanka é uma mistura de influências. Estar tão perto da Índia, ter sido colonizado por portugueses, britânicos e holandeses, e fazer parte da rota marítima para a China, fez com que houvesse introdução de ingredientes de vários locais. O chá, a malagueta e o pão trazidos por europeus fazem hoje parte do país. O caril, os pratos de marisco e o arroz são muito comuns.

Os portugueses trouxeram as malaguetas

Nos mercados há uma imensidão de cores, especialmente quentes. Os laranjas, avermelhados e castanhos das especiarias expostos em sacos abertos convidam a comprar.

A comida de rua é muito comum. Geralmente são vendidas coisas que podem ser comidas em andamento, mas nos mercados encontram um pouco de tudo.

Saúde

É recomendável realizar uma consulta do viajante. O país tem doenças causadas principalmente pela picadas de mosquitos como dengue. A malária está erradicada. Há raiva, febre tifóide e podem acontecer ataques de vespa.
Quem conhece bem a Ásia diz que é mais difícil encontrar farmácias e cuidados de saúde no Sri Lanka.

O grupo fez consulta na Consulta do Viajante Online, mas o Tiago acabou por não fazer.

Viajar com crianças

Não levámos as nossas porque a Francisca tinha apenas dois meses e a Raquel e ela estavam com o sistema imunitário comprometido. No entanto, pareceu-nos um destino relativamente calmo com crianças saudáveis e pais descontraídos.

Souvenirs recomendados

Deixem-se de ímanes feitos na China aos milhares, comprem aos vossos familiares e amigos coisas que contribuem para a economia local, e acima de tudo que sejam feitas localmente. O principal souvenir que podem comprar é chá de Ceilão, mas a canela também vale a pena (ou outras especiarias).
Um bom souvenir é uma safira.

Segurança

Sentimos uma população extremamente simpática e prestável e um país relativamente seguro. Recomendamos sempre que consultem os Conselhos da página da Comunidade Portuguesa.

Viagem com seguro é o que recomendamos sempre. O grupo tinha da IATI, a apólice mochileiro, com o nosso link IATI podem ter 5% de desconto. O Tiago teve que ligar para o seguro à chegada, a malachegou mais tarde e partida.

Atrações principais

O antigo Ceilão tem dezenas de atrações. São os picos com vista panorâmica, as florestas, os parques naturais, as cascatas, e depois a mão do homem: os templos, as fortalezas, a “famosa” ponte, as cidades, há muito para explorar. Não queiram deixar de fora as praias que também são boas.

Os pontos mais conhecidos: a Ponte dos 9 pilares, as plantações de chá, o Pico de Adão, a floresta Sinharaja, os Parques Naturais (Yala, Kumana), as cataratas de Ravana, Anuradhapura, Galle, Mirissa, Kandy, Colombo, Sigiriya, a Caverna Dambulla e Polonnaruwa (tentem conjugar o máximo).

O visto

O passaporte deve ter mais de 6 meses de validade e o visto é pedido online. O site é direto da Imigração de Sri Lanka. Custa 50€.

Quando ir

Evitem a época de monções de maio a setembro. É um destino de praia, por isso pode ser bom pensar nisso. Também é facilmente conjugável com as Maldivas.

Como ir

É possível lá chegar a partir de Lisboa e do Porto com várias companhias, sempre com escala: Emirates, Qatar, Turkish, etc. No nosso caso foi via Dubai, com a Emirates, o que foi bom porque: 1) é uma companhia com bom serviço 2) podem fazer uma STOP-OVER de até 48h no Dubai 3) permite levar 35kg.

Dicas

A tomada é britânica, levem adaptador.

Código de telefone é o +94.

Fuso horário: UTC/GMT +5:30 horas, em relação a Lisboa e +8:30 em relação a Brasília.

O Tiago usou um sim local para ter dados móveis.

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6 Responses

  1. Que post completo sobre o Sri Lanka! Interessante ver que, mesmo tendo sido influenciado por diversos países, o país conseguiu uma convivência harmoniosa de tantas culturas e religiões.

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